A busca por igualdade salarial
Ainda há muito trabalho a ser feito para mudar as estruturas patriarcais que ainda existem em nossa sociedade
Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que prevê mecanismos para garantir a igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função e começo esse texto ressaltando que, apesar do avanço, isto não deveria ser necessário.
Esperamos sete constituições para sermos citadas e, hoje, por lei, qualquer discriminação, inclusive de gênero, é crime e, portanto, diferenças salariais baseadas apenas neste aspecto são incabíveis, apesar de reais.
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Apesar de já existir a lei que proíbe a discriminação de qualquer natureza, incluindo a discriminação de gênero, a realidade mostra que essa lei não estava sendo cumprida de forma efetiva. Por isso a necessidade de sua criação.
As estatísticas também mostram aspectos positivos quanto à luta pela igualdade de gêneros. Por exemplo, mais da metade da população feminina já é economicamente ativa. Na década de 50, esse número não chegava a 15%.
Outro número animador é a quantidade de empreendedoras. Hoje já são mais de 7 milhões de CNPJs registrados por mulheres, cerca de 35% do total, em nosso País. E poderia discorrer sobre os aspectos negativos que também foram relevantes para a evolução desses números, mas prefiro me apegar na ideia que nós mulheres estamos cada vez mais independentes.
Está comprovado que a diversidade impacta de forma relevante o resultado financeiro das empresas e isso recai diretamente na construção de prosperidade social. Portanto, quando mulheres recebem menos do que homens pelo mesmo trabalho, isso desestimula as mulheres a entrarem no mercado, o que significa que o potencial de geração de riquezas e desenvolvimento do País é menor.
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Por isso, apesar de tudo que ponderei, a aprovação desse projeto representa sim um avanço significativo na luta pela igualdade de gênero e justiça social. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para mudar as estruturas machistas e patriarcais que ainda existem em nossa sociedade, mas essa é uma importante conquista que devemos valorizar e celebrar.
Outro aspecto que precisa ser destacado é que, apesar de uma vitória inquestionável, 36 votos foram contrários, 10 deles feitos por mulheres. Sobre isso, poderia começar, ressaltando que tais atitudes parecem um absurdo, mas preferi dar um passo atrás e entender quem são essas mulheres e o que as motivou. Afinal, meu papel como mulher não é de criticá-las, mas de entendê-las e oferecer um outro ponto de vista.
Oriundas de partidos liberais que defendem a ideia de que o mercado é capaz de regular as relações de trabalho de forma eficiente e justa, sem a necessidade de intervenção do Estado através de leis específicas que proíbam salários diferentes para homens e mulheres, acredito que tais votos se basearam nessa visão.
No entanto, apesar de também defender o liberalismo, entendo que ainda assim existe a necessidade de algumas políticas públicas que corrijam desigualdades históricas enquanto não se promove um ambiente com condições justas e competitivas.
Quanto mais ativa e engajada uma sociedade, maior a prosperidade que se cria, para todos.
Ana Paula França, especialista em desenvolvimento de pessoas, lideranças e empreendedorismo
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