Lidamos com muitas frustrações, e está tudo bem. Faz parte
Entre pausas e recomeços, a vida ensina a reconhecer o que realmente importa
                            
    
    
        
    
     
	
Comecei a malhar. De novo. Mais uma vez. De novo. São essas repetições que aparecem quando a gente tenta deixar de lado certas frustrações, né? As interrupções, os recomeços, as não permanências que atravessam a nossa vida.
Aquele curso que você queria tanto fazer, mas acabou desistindo. Aquela academia que prometeu que ia mudar tudo — corpo, rotina, humor — e acabou virando só mais um boleto pago em vão.
Aquela viagem que parecia finalmente possível, mas, por algum motivo, não deu certo.
A gente lida com muitas frustrações. Muitas mesmo.
Nem sempre conseguimos olhar para uma necessidade e reconhecê-la como primordial. Às vezes ela até deixa de ser. Às vezes acontecem coisas que nos fazem pensar: “agora eu preciso resolver isso, e não aquilo que eu queria tanto resolver antes.”
E tudo bem.
Dói, claro que dói. Mas faz parte.
Esses dias, conversando com meus alunos de Psicologia Humanista, a gente falava sobre a Gestalt-terapia e o conceito de figura e fundo.
Na teoria gestáltica, Perls, Hefferline e Goodman descrevem como as nossas necessidades emergem da relação com o ambiente — uma figura se forma quando algo pede nossa atenção, enquanto o resto se torna fundo. Quando a figura é atendida, ela se completa e dá espaço a outra.
É interessante pensar que, muitas vezes, uma necessidade se destaca na nossa consciência — ela vira figura —, mas o mundo gira, a vida muda, e aquilo volta pro fundo.
Meu filho sempre me corrige:
— “Mãe, o mundo não gira 360°, porque aí a gente volta pro mesmo lugar. Ele gira 180°.”
E ele tem razão.
Às vezes o giro da vida nos obriga a dizer: “opa, não vai ser agora”, “opa, não vai ser desse jeito”, “opa, vou precisar suspender isso.”
E, por mais que a gente tente fingir que não, essas pausas machucam. Porque o mundo insiste em nos cobrar perfeição — perfeição o tempo todo, performance o tempo todo — como se fosse possível dar conta de tudo, o tempo inteiro.
Mas não é! Existem necessidades que se tornam imediatas, e a vida nos chama para elas.
E há outras vezes em que a gente se engana: troca o essencial pelo mais fácil, o profundo pelo urgente, só pra aliviar a angústia de não estar dando conta.
E é aí que mora um dos maiores desafios da existência.Porque identificar o que é figura de verdade — e o que é só fuga disfarçada — exige presença.Exige que a gente pare, respire e se escute. Que observe o corpo, os sinais sutis, os incômodos que insistem em voltar.
A Gestalt fala muito sobre isso: o processo de autorregulação organísmica — essa capacidade que temos de perceber o que precisa ser completado, de nos ajustar ao que o momento pede, sem perder o contato com nós mesmos.
Enfrentar as angústias, então, não é negar o medo ou o cansaço, mas acolher o que eles estão tentando dizer. Pode ser numa conversa verdadeira, num tempo de silêncio, num olhar para o cotidiano com mais curiosidade do que cobrança.
Às vezes, é só dar um pequeno passo — começar de novo, mais uma vez, de novo —, mas agora com consciência do que realmente importa.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
 
                      
                  
                  
               
                      
                  
                  
               
                      
                  
                  
               
                      
                  
                  
               
        