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Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Enquanto estamos vivos

Despedidas que ecoam: artistas que ensinaram a viver até o fim

Sátina Pimenta, colunista A Tribuna | 24/07/2025, 12:39 h | Atualizado em 24/07/2025, 12:39

Imagem ilustrativa da imagem Enquanto estamos vivos
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: Acervo Pessoal

A morte, tão definitiva quanto silenciosa, parece sempre nos pegar de surpresa — mesmo quando já sabíamos que ela estava a caminho. Nos últimos meses, despedimo-nos de artistas que, além de suas obras, nos deixaram maneiras muito particulares de estar no mundo. Ao partir, revelaram algo sobre a vida que talvez só quem já dançou de perto com o fim consegue ensinar: viver não é apenas durar; é marcar, seja o mundo ou alguém que esteja a nosso lado.

Preta Gil nos deixou aos 50 anos, em plena batalha contra o câncer. Mas se há uma palavra que não combina com ela é “silêncio”. Preta viveu no volume alto, com cores fortes, com um corpo sem vergonha, com um coração sem censura. Cantou o que quis, amou quem quis, chorou sem esconder. Sua filosofia de vida era tão simples quanto revolucionária: ser inteira, mesmo aos pedaços. E foi justamente por isso que ela se tornou uma referência — para nós mulheres, para nós corpos diversos, para nós que cansamos de pedir permissão para existir.

Francisco Cuoco também se foi — aos 91 anos — deixando para trás um rastro elegante de décadas de dramaturgia. Mas sua presença não se limitava à ficção. Cuoco acreditava na dignidade do trabalho artístico, e foi um dos que defenderam o ofício do ator como missão. Em entrevistas tardias, dizia que a arte era o modo que encontrou de “chegar nas pessoas sem bater na porta”. E chegou.

Nana Caymmi, ahhhh a Nana, tão amada por minha mãe. Ela não foi mulher de meias-palavras. Foi para o outro mundo aos 84, mas viveu este como quem já sabia que o tempo não espera. Sua voz carregava não só afinação, mas feridas. Falava com ironia dos afetos, com doçura das dores, com coragem dos seus próprios abismos. E enquanto ela tocava, a minha família cantava junto.

E então vem Ozzy Osbourne. Um nome que, para muitos, é sinônimo de exagero, caos e trevas. Afinal é o Principe dela! Mas quem se aproxima mais da sua história encontra um homem que fez da vulnerabilidade o seu próprio altar. Em seu último show com o Black Sabbath, sentado em seu trono, Ozzy parecia não apenas se despedir da banda, mas deixar claro que não importasse o que viesse depois dali, ele foi LIVRE.

Sly Stone fez algo semelhante: colocou em sua música todas as suas bandeiras, todas as suas contradições. Misturou raça, gênero, ritmo, dor e festa numa mesma canção. Morreu recentemente, mas sua mensagem permanece urgente: ninguém é livre enquanto outros ainda não são. A mais pura verdade ignorada pelo egoísmos e o individualismo vigente.

O que todas essas vidas têm em comum não é o palco, nem a fama, nem a genialidade. É algo mais íntimo: a decisão de viver com intensidade e honestidade, mesmo sob o risco da rejeição, do erro, do esquecimento. Cada um, à sua maneira, escolheu não apenas estar no mundo, mas habitá-lo com presença. E isso não é pouco. Isso é o máximo.

A morte deles nos convoca a perguntar: O que estamos fazendo com o nosso tempo, com os nossos afetos, com as nossas verdades?

Talvez o verdadeiro legado desses artistas seja justamente esse: nos lembrar de que viver não é se proteger da dor, mas se comprometer com a beleza de sentir — tudo.

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