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Olhares Cotidianos

Dividir é mesmo obrigatório?

Entre o impulso de ajudar e o cuidado consigo: quando dividir vira escolha, não obrigação

Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna | 27/11/2025, 12:21 h | Atualizado em 27/11/2025, 12:21
Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta
Sátina Pimenta

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária



          Imagem ilustrativa da imagem Dividir é mesmo obrigatório?
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária. |  Foto: Divulgação

No último final de semana, estive com meus filhos e vivi uma daquelas cenas corriqueiras que, de repente, abrem um clarão na rotina. Ele pegava algo e eu dizia: “Tem que dividir com sua irmã.” Ela segurava outra coisa e eu repetia: “Você já ofereceu para seu irmão?”

É quase automático. A gente aprende — e ensina — que dividir é virtude. Mas, enquanto os observava, uma pergunta atravessou tudo: Será que dividir é mesmo obrigatório?

Crescemos ouvindo que dividir é sempre o caminho mais ético, o mais bonito, o mais correto. Contudo, a vida adulta mostra que as coisas não são tão simples: há coisas que podem ser divididas, e há coisas que não devem — ou não podem — ser partilhadas.

E mais: existem divisões que nos drenam, que nos tiram algo, que nos deixam menos inteiros do que chegamos. Dividir, quando vira regra absoluta, também é uma forma de se ferir.

Quando seguimos distribuindo tudo sem perceber o limite, acabamos escravizados por uma ideia de bondade que não nos protege. E, sem que percebamos, vamos abrindo mão de nós mesmos para cumprir uma expectativa que nem sabemos de onde veio.

Daí nasce outra pergunta, mais profunda: Por que queremos tanto ajudar o outro? O que ganhamos com isso?

Muita gente responde prontamente: “Eu não ganho nada, faço porque sou assim.”

Mas Freud não concordaria com isso — nem eu!

Mas vamos a Freud, para ele, nada no humano acontece sem que haja algum tipo de satisfação psíquica envolvida, ainda que mínima, ainda que inconsciente. Ele não via o sujeito como alguém que age movido apenas pela moral ou pela bondade espontânea, mas por desejos, pulsões e trocas afetivas complexas. Ou seja, mesmo no ato aparentemente mais altruísta, existe algo que também nos interessa, que nos preenche, que nos oferece alguma forma de satisfação interna — seja alívio, reconhecimento, pertencimento ou reparação simbólica.

Isso não diminui o valor do gesto. Apenas nos lembra que não existe neutralidade no humano.

E aqui entra outra camada importante: a intencionalidade, conceito muito caro à Psicologia Humanista. Para essa abordagem, todo comportamento humano carrega uma intenção — consciente ou não — voltada à busca de significado, crescimento ou equilíbrio.

Não é sobre manipulação ou egoísmo, mas sobre o fato de que somos seres orientados, movidos por sentidos internos que nos conduzem, mesmo quando não percebemos claramente.

Dito isso, talvez a questão não seja ensinar nossos filhos a dividir tudo, mas ensinar que dividir é escolha, não imposição.

Que algumas coisas podem — e devem — ser compartilhadas. Mas outras precisam ser preservadas, guardadas, protegidas do mundo.

E, acima de tudo, que não há problema algum em reconhecer que ajudar o outro também nos ajuda. Que a generosidade não nos é gratuita. Que, no fundo, ajudamos porque isso nos diz algo sobre quem somos, sobre o que desejamos, sobre como queremos existir no mundo.

Dividir é bonito. Mas dividir sem se perder… é maturidade. E ensinar isso talvez seja o maior gesto de amor.

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