Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

A sensibilidade do ser humano

Um relato sobre cuidado, esperança e a força das pequenas presenças

Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna | 02/10/2025, 11:33 h | Atualizado em 02/10/2025, 11:33

Imagem ilustrativa da imagem A sensibilidade do ser humano
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária. |  Foto: Divulgação

O artigo de hoje é extremamente pessoal, mas de grande relevância para mim, para minha família e para aqueles que estiveram conosco nesses últimos dias. Nossa filha Aimée, de apenas 3 anos de idade, foi diagnosticada com celulite ocular vascular – uma inflamação que, se não tratada rapidamente, pode gerar consequências graves, como a perda da visão ou até a propagação da infecção para o cérebro.

Durante este tempo, nós escrevemos boletins sobre o estado dela e compartilhamos notícias pelas redes. Em resposta, recebemos uma verdadeira enxurrada de mensagens: pessoas desejando melhoras, dizendo que estavam orando, torcendo, vibrando positivamente. Foram mais de duzentas manifestações nos dois primeiros dias.

Alguém pode se perguntar: por que expor um assunto tão íntimo? Para nós, foi simples: muitas pessoas que nos amam desejavam informações, e essa foi a forma mais prática de comunicar a todos sem deixar ninguém de fora.

Eu tenho uma preocupação sincera em não me paralisar pelo medo do julgamento alheio. Se algo está alinhado com meu coração, não posso me limitar pelo que os outros vão pensar.

E foi bonito perceber que, a partir dessas publicações, pessoas que há muito tempo estavam afastadas – ou que a correria da vida havia distanciado – se fizeram presentes de novo.

Vieram mensagens, gestos, palavras que, ainda que rápidas ou simples, revelaram algo precioso: a capacidade de parar e olhar para o outro.

Mesmo que nem todos tenham de fato orado, pensado ou feito exatamente o que disseram que fariam, o simples gesto de enviar uma mensagem, de dedicar um segundo de atenção, de dizer uma palavra de apoio, foi um ato de humanidade. Isso nos lembra que a sensibilidade do ser humano não se perdeu.

Escrevo este artigo na terça-feira, e ele será publicado na quinta-feira. Não sei como Aimée estará até lá. Carrego comigo essa incerteza, mas também uma esperança: a de que, quando você estiver lendo, ela já esteja bem.

Esse movimento coletivo me fez pensar na força das palavras. A psicologia e a filosofia já nos alertaram para isso. Martin Buber, dizia que o ser humano se constitui no encontro – é no “Eu-Tu” que a vida ganha sentido. Emmanuel Lévinas, nos lembra que o rosto do outro nos convoca! É um chamado ético que nos move para além de nós mesmos.

Na psicologia, Donald Winnicott nos ensina sobre o cuidado suficientemente bom: não precisamos oferecer perfeição ao outro, mas sim presença, mesmo que pequena, mas verdadeira. E Viktor Frankl reforça que o sentido da vida se encontra muitas vezes fora de nós.

É isso que vi acontecer: um gesto simples, um emoji de mãozinhas postas em oração, um “estou aqui”, podem carregar uma densidade existencial enorme.

Pode significar o milagre do cuidado, que é sempre menor em aparência, mas imenso em efeito.

Por isso, deixo registrado: não subestime sua mensagem, não subestime seu gesto. Não deixe de estar, de se fazer presente. Porque quem recebe, recebe com muito amor – e às vezes precisa dessa fagulha de humanidade.

De nossa parte, seguimos com gratidão. Seguimos crendo na importância de parar, olhar e cuidar do outro, cada um com a sua possibilidade. E seguimos acreditando que esse olhar não é apenas humano: é, em si mesmo, uma forma de cura.

MATÉRIAS RELACIONADAS:

SUGERIMOS PARA VOCÊ: