O desregramento
Confira a coluna de domingo (12)
A busca pela contratação de novos jogadores, que nem sempre podem ser considerados reforços, mexe muito com o imaginário dos torcedores a cada virada de ano. É assim desde sempre, mas se transformou em fetiche mundial com a instituição da janela para novos registros criada pela FIFA. É o período mais perigoso para as finanças dos clubes, sobretudo no Brasil, país que ainda carece de regras de fairplay financeiro ou de fiscalização rígida sobre o dinheiro gasto por inadimplentes.
Em tese, o correto seria a criação de um órgão atrelado à CBF não necessariamente submisso à entidade. Uma câmara capaz de analisar (e cobrar!) ao menos as dividas assumidas e não pagas na aquisição de jogadores no ano anterior.
E reparem que não me refiro aos endividados, mas aos inadimplentes que muitas vezes competem com times formados por jogadores adquiridos às custas do prejuízo financeiro e técnico do outro concorrente.
Atrasado
O futebol brasileiro está atrasado na criação de regulamento que estabeleça parâmetros de gastos. E enquanto isso não acontece a farra é geral. Na Espanha, a “Lei de Desportes”, criada em 1992, obrigando os clubes a virarem Sociedades Anônimas, não coibiu o endividamento.
Tanto que 20 anos depois a Liga criou o Limite de Custo de Plantel Esportivo” (LCPD), mecanismo que fiscaliza orçamentos e determina quanto cada clube pode gastar em novas aquisições, computando compra de direitos, salários e comissões.
Sem regras definidas, vemos de tudo. O Fluminense, que até o mês passado devia R$ 3 milhões ao Itaboraí pela aquisição de Lelê, se comprometeu a pagar R$ 29 milhões ao Bahia por 70% de Hércules. A SAF do Botafogo fez aquisições milionárias em 2024, mas fechou o ano devendo o Santos pela contratação de John.
O Vasco, em recuperação judicial e com obrigações a saldar, está no mercado atrás de reforços. E se houvesse um controle maior dessas pendências?
O sucesso na montagem dos elencos não, necessariamente, depende da feitura de dívidas. Ele decorre de uma série de ações - da inteligência estratégica à boa reputação junto a agentes que atuam no mercado.
Adimplência
Passando, é claro, pelo nível de excelência do treinador. Enquanto a CBF não vincular o registro de jogadores à adimplência no exercício anterior, o controle estará na consciência de cada presidente. Cabe ao torcedor escolher o caminho a ser seguido.