Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Doutor João Responde

Doutor João Responde

Colunista

Dr. João Evangelista

Cascata de prescrição médica

Quando o remédio vira problema: como decisões apressadas e diagnósticos imprecisos alimentam a cascata iatrogênica, especialmente entre os idosos

João Evangelista Teixeira Lima, do Jornal A Tribuna | 17/06/2025, 12:14 h | Atualizado em 17/06/2025, 12:14

Imagem ilustrativa da imagem Cascata de prescrição médica
João Evangelista Teixeira Lima é gastroenterologista e clínico geral. |  Foto: Arquivo/AT

Comecei estudar piano aos doze anos. Oito anos depois, larguei a música. Pensando em ganhar dinheiro, resolvi fazer medicina; deu errado: me apaixonei pela Arte de Hipócrates.

O universo das notas, acordes, escalas, intervalos, melodias, ritmos, harmonias e andamentos, tornam difícil e exaustivo o estudo da música.

O conhecimento de anatomia, histologia, fisiologia, patologia, farmacologia, semiologia, clínica e cirurgia, moldam o raciocínio do clínico e do cirurgião.

Mas, isso é apenas o alicerce. Longos anos de experiência aliam entendimento com intuição, esses tão necessários instrumentos médicos.

Ao prescrever um fármaco, o médico coloca sobre o receituário sua vivência e aprendizado. Entre erros e acertos, um procedimento denominado “cascata de prescrição médica”, ocorre com certa frequência.

Um paciente vem consultar, queixando-se de que suas pernas estão inchadas. Como uma razoável hipótese é a de insuficiência cardíaca, ele sai de lá com a prescrição de diurético.

Meses depois, o doente retorna, referindo que começou a se sentir tonto, ao levantar. O que aconteceu com ele é um erro comum na prática clínica.

Entre outras medicações, o paciente fazia uso de um bloqueador de canal de cálcio que pode causar edema periférico, por um mecanismo diferente da sobrecarga volêmica. Sendo assim, os diuréticos não tem o efeito previsto e, por consequência, só geram diminuição do volume sanguíneo e queda da pressão arterial.

O problema começou quando o edema foi interpretado, incorretamente, como sinal de uma nova doença, acreditando-se que, como tal, necessitava de um tratamento, que acabou provocando um novo efeito adverso.

A cascata iatrogênica ocorre quando um novo medicamento é prescrito para tratar uma reação adversa de um medicamento prévio, na convicção errônea de que uma nova condição clínica está presente.

Prescrições em cascata produzem polifarmácia, expondo o paciente ao risco de efeitos prejudiciais relacionados a um tratamento que seria dispensável.

Condições que forçam tomadas rápidas de decisão e acesso precário a informações do paciente, contribuem para esse tipo de erro.

Nos casos em que um indivíduo é assistido por vários profissionais, a falta de comunicação entre eles acaba perpetuando o problema.

Somado a isso, o aumento da expectativa de vida e sua relação direta com o uso de um maior número de remédios, elevam as chances da cascata de prescrição.

Embora possa acontecer em qualquer idade, a cascata iatrogênica é bastante comum em idosos. Mais remédios, mais efeitos adversos.

Convém lembrar que os próprios processos fisiológicos do envelhecimento podem ser confundidos como causas de um novo sintoma, por exemplo, o delírio, tornando cada vez mais difícil atribuir tais problemas a uma medicação.

É preciso verificar se existe alguma probabilidade de que um novo sinal ou sintoma seja consequência de um medicamento em uso pelo paciente.

Não se trata uma doença com outra doença.

MATÉRIAS RELACIONADAS:

SUGERIMOS PARA VOCÊ: