Doenças do aparelho digestivo
Uma investigação cuidadosa fornece indicadores da origem funcional ou orgânica de uma enfermidade
Todo médico deve ouvir atentamente seu paciente. Dessa maneira, este colocará o diagnóstico à disposição de quem o escuta. Observação, conversação e troca de experiências são mais importantes do que regras, normas e tecnologias, no cuidado com o doente.
Muitas vezes, por preguiça, ou talvez incompetência, o profissional solicita excesso de exames complementares, buscando inspiração no lugar de orientação. É bom lembrar que um bom diagnóstico depende da base geral, não do exame complementar, que significa complemento e não suprimento.
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As doenças do aparelho digestivo são ricas em sinais e sintomas, oferecendo ao clínico excelentes pistas para que ele elabore seu diagnóstico.
Um tubo que atravessa o corpo carregando comida, parece algo simples e fácil de ser desvendado. Todavia, ao processar nutrientes ingeridos e eliminar resíduos, podem surgir rupturas nesse processo, gerando uma série de distúrbios e queixas pelo paciente.
O gastroenterologista convive diariamente com sinais e sintomas, como pirose, disfagia, má digestão, dor torácica, soluços, náuseas, vômitos, gases, diarreia, constipação, dor abdominal, perda de peso, sangramentos, icterícia, etc.
Tal sintomatologia costuma advir do próprio aparelho digestivo, ou ser proveniente de doenças sistêmicas. Pode também indicar distúrbios facilmente corrigidos por alterações nos hábitos de vida ou na dieta, ou significar algo grave.
Doenças orgânicas, com bases estruturais, ao contrário do que parecem, são mais facilmente diagnosticadas que os distúrbios funcionais, onde a história clínica tem mais valor que os exames complementares, quase sempre se apresentando normais.
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Essa interação entre o corpo e a mente adquire grande importância no paciente com queixa gastroenterológica, vista a elevada incidência de alterações emocionais, não explicáveis por anormalidades bioquímicas.
Mais da metade dos pacientes que procuram um gastroenterologista apresenta doença funcional. Em função disso, o médico procura fazer o diagnóstico por exclusão, solicitando um número proibitivo e desnecessário de exames subsidiários, algumas vezes invasivos e de alto custo.
Podemos citar, como exemplo, a conhecida Síndrome do Intestino Irritável, distúrbio funcional, cuja conduta diagnóstica deve ser de sempre afastar outras doenças.
Uma investigação cuidadosa fornece indicadores da origem funcional ou orgânica de uma enfermidade. Sinais de alarme, como febre, perda de peso, sangramentos e anorexia, apontam para causas orgânicas.
Conhecido pelo gastroenterologista, o conhecido “sinal dos olhos fechados” é frequentemente observado durante o exame físico do paciente com queixa de dor abdominal funcional. Ao contrário daquele com dor orgânica, que mantêm os olhos abertos durante a palpação, com receio da dor provocada pelo exame, o paciente com dor funcional cerra os olhos, ao ser examinado.
Saudável é o aparelho digestivo que sabe temperar a razão e mastigar a emoção.
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista
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