O médico diante da dor
O exercício da Medicina não deve gerar no médico a sensação de que ele é depositário daquilo que vai curar
Dor é uma resposta de defesa do organismo contra alguma agressão. Se, por exemplo, alguém se corta e não sente dor, aquilo se torna nocivo para ele. Em algumas situações, a dor é necessária, porém, quando ela persiste por muito tempo, caracteriza-se como injúria.
A sensação de dor é determinada pela pessoa a partir das sensações que ela sentiu em seus primeiros anos de vida, ou seja, a primeira lesão que estimulou seu organismo a reagir liberando tal sensação foi determinante para a percepção da mesma. Dessa forma, pode-se dizer que a dor é uma sensação individual e subjetiva.
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Existem várias situações que estimulam o corpo a liberar reações dolorosas como: nervosismo, ressaca, posição errada, deitar ou sentar de mau jeito, exagerar em exercícios físicos, permanecer por muito tempo em uma mesma posição, esforço repetitivo, estresse, entre outras.
Diante da dor, a relação entre médico e paciente é parte fundamental do tratamento. Beneficência deve fazer parte dessa relação.
Agindo também como droga, o médico, ao tratar o paciente, também prescreve a si mesmo.
Em doenças graves, que ameaçam a continuidade da vida, os aspectos psicológicos passam a ter significado igual ou maior que os medicamentos. Quanto menos possibilidades de tratamentos existirem, mais pesará o caráter humanístico do médico.
Sendo a dor uma experiência sensorial e emocional desagradável, interferências físicas e mentais são imperiosas.
Nem sempre se consegue traçar uma relação entre a dor e lesão orgânica. Há muitas situações onde a relação entre a intensidade da dor e a gravidade de uma lesão não existe, ou a lesão pode ocorrer sem dor ou a dor sem lesão orgânica notável. Extremamente importante, algumas vezes o valor adaptativo da dor é perdido.
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Sofrimento significa aguentar, carregar. Nesse sentido, sofrer remete etimologicamente à experiência de suportar. Sofrer quer dizer sentir dor. Dor no corpo, pois esse pode ser atacado, ferido ou lesionado por doenças ou qualquer outra forma de acometimento. Dor na alma, porque diversas são as intempéries que assolam a vida emocional do ser humano e que produzem dor, como perder um ente querido, separar-se de um amor. Dor na vida, pois, o mundo em que vivemos, a vida que levamos, as escolhas que fazemos, as contradições da sociedade, a violência, as injustiças, as tragédias, a miséria, as relações de trabalho, são assuntos que igualmente nos perturbam.
O exercício da Medicina não deve gerar no médico a sensação de que ele é depositário daquilo que vai curar. Isso pode deixá-lo muito acima do bem e do mal.
Diante do sofrimento, esse “filho de Esculápio” precisa ter a capacidade de ser franco com ele mesmo e com o paciente, mesclando fármacos, com empatia, mesmo quando não existe solução. Dessa maneira, ele se tornará responsável, não pela vida do paciente, mas pelo melhor que aquele sofredor possa receber.
A cura de um sofrimento pode advir da capacidade de suportá-lo até ao fim.
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista
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