Dengue é uma doença imprevisível
Artigo publicado na edição desta terça-feira (25), do jornal A Tribuna
Entra ano, sai ano, e o “veneno da água” segue fazendo vítimas. Desde que o principal vetor, o mosquito Aedes aegypti, vindo da África, encontrou um habitat ideal em nosso clima tropical, sofremos, picados pelo mosquito, contaminados pelo vírus.
Infectando exclusivamente seres humanos, existem quatro tipos de vírus da dengue, todos circulando no Brasil. Como não há imunidade cruzada entre eles, pode-se ter a doença quatro vezes.
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A fêmea, por ser hematófaga, é responsável por disseminar o vírus. Existe a informação de que ela faz a postura em água limpa e parada. Não é verdade. Importante esclarecer que os ovos não são depositados na lâmina da água. Se assim fosse, não dispondo de flutuadores, eles afundariam. Os ovos são colocados nas paredes dos recipientes, e a água, em contato com eles, provoca sua eclosão e liberação das larvas.
Para finalizar, sobre os hábitos da fêmea do Aedes aegypti, lembramos que ela renunciou à preferência por água limpa, sendo flagrada fazendo a postura em esgoto imundo. Citamos também que ela já não tem preferência por hábitos diurnos, sendo vista picando à noite. Como se pode perceber, a vida também não está fácil para mosquito.
A imunidade é específica para cada espécie de vírus, durando seis meses e declinando depois desse período, permanecendo apenas ao tipo que causou a infecção. As formas complicadas de dengue costumam ocorrer após acometimento anterior, sendo de natureza autoimune.
A doença começa subitamente, com febre, dor atrás dos olhos, cefaleia, mialgia, astenia, inapetência e, às vezes, diarreia.
Decorridos alguns dias, surgem manchas vermelhas pruriginosas.
Em torno do quinto dia a febre desparece, restando moleza e cansaço. É importante lembrar que é a partir desse momento que as complicações podem aparecer, lembrando o aforisma: “dengue, quando melhora, piora”.
Por essa razão, é bom lembrar que a dengue, que vive indo e voltando, não se aposenta, sequer se licencia.
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A identificação de cada caso é crucial para o atendimento adequado, pois algumas formas da dengue podem ser fatais.
O vírus causa um espectro variado de sintomas, que inclui desde formas subclínicas, até quadros de hemorragias, que podem levar ao choque e ao óbito.
Algumas vezes, após a remissão da febre, aparecem as manifestações hemorrágicas, evoluindo com alterações neurológicas, sintomas cardiorrespiratórios, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural.
Sinais de alerta, como dores abdominais, vômitos, hipotensão, agitação ou letargia, hipotermia e desconforto respiratório, indicam a possibilidade de quadros graves.
Confirmado o diagnóstico, o paciente deve guardar repouso, ingerir bastante líquido e utilizar dipirona, em caso de dor e febre. Não administrar ácido acetilsalicílico, pelo risco de provocar sangramentos.
Caso surjam sinais de alarme, o paciente deve imediatamente buscar um serviço de saúde.
“A prudência é a filha mais velha da sabedoria”.
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista