Danos intestinais e o álcool
Confira a coluna desta terça-feira (21)
Existem várias barreiras protetoras no corpo humano. O ácido clorídrico, localizado no estômago, protege contra germes externos. A acidez da pele neutraliza antígenos. A barreira hematoencefálica protege o cérebro. A barreira epitelial evita que o ambiente contaminado do intestino penetre na corrente sanguínea.
Fatores que comprometem a permeabilidade dessas estruturas provocam enfermidades locais e distantes.
Além das funções de absorção e digestão de nutrientes, associados à eliminação de resíduos e toxinas, o intestino exerce outras atividades de grande importância para a manutenção da homeostase, como a produção de neurotransmissores, hormônios e modulação da imunidade.
Para que isso aconteça, ele conta com o auxílio da microbiota, conjunto de microrganismos, cujo desequilíbrio provoca diversas patologias.
O álcool é um importante agressor da microbiota intestinal. Alcoólatras costumam apresentar distúrbios alimentares.
Frequentemente, eles pulam refeições ou gastam dinheiro com bebidas, sobrando pouco para a alimentação. Bebedores contumazes comem inadequadamente, substituindo alimentos saudáveis por lanches ricos em gorduras saturadas, açúcares e com baixos teores de fibras, gerando impactos na microbiota, comprometendo sua saúde.
Além disso, bebedores costumam não ter padrões fixos e vivem um caos alimentar, que na maioria das vezes é reflexo de suas próprias vidas. Indivíduos sob efeito de álcool costumam alternar jejum com o uso de alimentos ultraprocessados, que sendo palatáveis, fornecem prazer e falsa sensação de nutrição adequada.
Como se não bastasse a fragilidade alimentar, dependentes de álcool praticam pouca atividade física, condição essencial para uma microbiota saudável.
Entretanto, não são apenas hábitos de vida que alteram a indispensável comunidade do intestino. Algumas substâncias consumidas também podem modificar a microbiota.
O álcool exerce impacto direto na mucosa intestinal. Alterando a composição da microbiota, ele ocasiona erosões no tecido epitelial, resultando em aumento da permeabilidade da parede.
Tais mudanças propiciam a chegada de componentes bacterianos à circulação sistêmica, contribuindo para inflamação e dano hepático, além de afetar o sistema nervoso central, provocando neuroinflamação.
A microbiota de indivíduos alcoolistas, comparadas à de pessoas saudáveis apresenta aumento de bactérias nocivas, gerando alargamento da parece intestinal. Essas características persistem, mesmo após meses de abstinência.
Bebidas destiladas agridem intensamente a microbiota local, enquanto as fermentadas, como o vinho e a cerveja, geram menos prejuízos. Isso se deve ao fato dessas bebidas serem ricas em fibras e compostos protetores, como polifenóis e flavonoides, agindo como contraponto ao dano provocado pelo álcool.
Ainda assim, apreciadores de vinho não devem esperar a Terra parar de girar e o intestino parar de chorar para acertar seus passos.