Bactérias que moram no estômago
Crônicas e dicas do doutor João Evangelista, que compartilha sua grande experiência na área médica
Dr. João Evangelista
No início de 1980, os médicos australianos Barry Marshall e Robin Warren descobriram que existem bactérias no estômago. Embora a Helicobacter pylori tenha sido antes identificada no estômago de cães pelo patologista italiano Giulio Bizzozero, em 1892, a descoberta de Marshall e Warren foi essencial para estabelecer a ligação com doenças humanas.
Quando eu era acadêmico de medicina, já ouvia falar da possibilidade de haver germes no estômago, embora eu jamais desse crédito a essa hipótese.
O estômago humano foi considerado estéril por muito tempo, pois se acreditava que o ambiente ácido e o rápido peristaltismo eram condições inadequadas à colonização microbiana.
Recentes conhecimentos acerca da microbiota gástrica mudaram radicalmente alguns conceitos, ficando evidente que a Helicobacter pylori não é o único microrganismo capaz de colonizar o estômago.
Assim, uma importante questão é se as mudanças na acidez gástrica ou o tratamento com antibióticos seriam capazes de provocar modificações na microbiota comensal gástrica, que poderiam estar envolvidas no desenvolvimento de doenças digestivas.
Sabe-se, atualmente, que centenas de microrganismos sobrevivem no estômago, fazendo parte da imensa população de bactérias, vírus e fungos, que constituem a microbiota gastrointestinal, desempenhando papel fundamental em suas funções. Esses habitantes são benéficos em diversos aspectos, como auxiliar a digestão, intermediar a síntese de vitaminas, promover o desenvolvimento do sistema imunológico, regular o metabolismo e prevenir a invasão de patógenos.
Algumas doenças estão associadas a alterações na composição e diversidade dessas comunidades microbianas, sendo o desequilíbrio um componente importante no aparecimento de patologias inflamatórias e neoplásicas.
A Helicobacter pylori, bactéria que coloniza a mucosa gástrica, está relacionada com a patogênese do carcinoma do estômago. Ela está envolvida na perda progressiva de glândulas gástricas, resultando em atrofia e reduzindo os níveis de somatostatina, hormônio que regula negativamente a produção do estimulante de ácido, denominado gastrina, provocando sua diminuição e aumentando a acidez.
Mudanças da microbiota gástrica foram observadas entre pacientes Helicobacter pylori positivos e negativos. Diferentes doenças associadas a essa bactéria mostram diferentes componentes da microbiota.
A oportunista Helicobacter pylori favorece o crescimento de bactérias estranhas, não residentes na mucosa gástrica, por meio da produção de amônia e bicarbonato, a partir da ureia, contribuindo para o aumento da resposta inflamatória, gerando patologias.
O desenvolvimento de enfermidades gástricas está associado muito mais à mudança da microbiota comensal do que a um microrganismo específico. O desequilíbrio da microbiota acaba perturbando a saúde do hospedeiro.
Por outro lado, quando habitam em harmonia, esses microrganismos deixam o corpo embriagado de saúde.
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