Sem dinheiro, brasileiros dormem na rua em Portugal em busca de nova vida
Valor de aluguel chega a ser mais da metade do salário mínimo que é pago no país, o que dificulta a rotina de quem ganha menos
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Atraídos pela facilidade da língua, do clima e pela qualidade de vida, há brasileiros que não fazem o devido planejamento na hora de buscar seu sonho além-mar. Com isso, muitos estão morando nas ruas, em grandes cidades de Portugal, como Lisboa e Porto, segundo relataram capixabas ouvidos pela reportagem.
Para alugar um apartamento de um quarto, é comum o proprietário exigir um aluguel, mais o valor de duas cauções (antecipação de dois meses de locação), segundo Renan Nascimento Carvalho, 30 anos, empresário, capixaba de Vila Velha, dono da RN Assessoria.
A empresa trabalha com assessoria, informação e prestação de serviços para regularização de imigrantes. Ele conta que, quando os brasileiros chegam a Portugal, “têm um choque de realidade”.
“As moradias são escassas, por exemplo, o aluguel de uma casa de um quarto custa entre 450 (R$ 2.401,56) e 500 euros (R$ 2.668,35), enquanto o salário mínimo é 760 euros (R$ 4.055,89). E ainda tem os demais custos de sobrevivência”, destaca o empresário.
A capixaba Patrícia Arruda, 39 anos, mudou-se para o país europeu no ano de 2021. Ela mora na capital, Lisboa, e diz que há pessoas de vários países na Estação Oriente, inclusive do Brasil e de Portugal.
“Acontece muito de as pessoas estarem aqui em busca de melhores condições e terem vergonha, não quererem mostrar que estão passando por essa situação”, afirma Patrícia.
O também capixaba Douglas Schneider, 40 anos, foi para a cidade do Porto em abril deste ano. Ele relata que o custo da moradia é muito alto.
“Tirando a habitação, Portugal é um país bom. Você consegue comprar as coisas, o poder de compra aqui em Portugal é muito maior do que no Brasil, mas a questão da habitação está puxando o custo de vida muito para o alto”, afirma Douglas.
Ele relata que mora na casa da sogra de um amigo, com os demais familiares desse amigo.
“Eu estou aqui na casa de um amigo meu desde que eu cheguei. Na casa da sogra dele. Não saí daqui ainda, pois essa parte da habitação está muito cara. Mas quem não tem esse suporte, esse apoio, e vem para cá sozinho, é bem complicado. Passa muito perrengue”, avalia o fotógrafo.
"Colchões e roupa de cama"
A capixaba Patrícia Arruda, 39 anos, mora em Lisboa, Portugal, e conta como é a situação na Estação Oriente. “Eu passo lá na estação de vez em quando e vejo os colchões, os cobertores”, afirma.
A capixaba conta que os moradores de rua saem de dia e voltam à noite. “É uma estação bem grande, a gente sabe que dormem lá porque tem colchão e roupas de cama. Quando não é inverno, também tem barracas na rua. Mas quando é inverno eles vão para esses lugares por conta do frio”. Segundo ela, os núcleos de apoio aos imigrantes abrigam alguns desses moradores.
“Dizem que são estrangeiros, brasileiros e até portugueses. Sei disso pelo que passa no noticiário”.
Ao menos oito pedem repatriação todo mês
Em média, oito brasileiros procuram a empresa do capixaba Renan Nascimento Carvalho, 30 anos, em Portugal, para solicitar a repatriação, para voltar ao Brasil.
O empresário, capixaba de Vila Velha, é dono da RN Assessoria, que trabalha com assessoria, informação e prestação de serviços para regularização de imigrantes.
“A agência faz de 8 a 10 pedidos de repatriação por mês. Há pessoas que vi dormindo nas estações e já chegou pedido de orientação para repatriação ao Brasil, para entrar em contato com o consulado porque não têm dinheiro nem sequer para pagar a passagem”, conta o empresário.
Segundo Renan, quando o governo de Portugal abre vagas, a agência faz de 200 a 300 pedidos de regularização por mês.
Ele explica que a maioria dos imigrantes vai ao país europeu como turista e pode permanecer por 90 dias.
Mas muitos conseguem um emprego e procuram um órgão do governo para fazer a chamada manifestação de interesse, alegando que querem permanecer no país. “Portugal é um dos países mais fáceis de legalização”, observa.
Sempre que a pessoa pretender passar mais de 90 dias em Portugal, caso não tenha cidadania europeia, será preciso solicitar um visto. O tipo de visto vai depender do que vai fazer no país e também de quanto tempo vai ficar no local.
Douglas Schneider: “O custo de vida é muito alto por causa da habitação”
O fotógrafo capixaba Douglas Schneider, 40 anos, foi para a cidade do Porto, em Portugal, em abril deste ano.
Ele conta que já visitou a capital do país, Lisboa, ao menos duas vezes, e que sabe por meio de amigos e do noticiário que a situação está bastante difícil, principalmente no quesito moradia.
De acordo com Douglas, o custo de vida no país europeu é alto e o que mais influencia é a habitação, que tem os preços elevados no país inteiro, não só na capital.
A Tribuna – Você sabe se tem algum brasileiro morando nas ruas em Portugal?
Douglas Schneider – Eu já ouvi dizer de várias nacionalidades, sendo vários imigrantes morando na rua em Lisboa. Eles são de diversas nacionalidades, até portugueses.
Hoje (quinta-feira, 23) mesmo eu ouvi de um rapaz que a casa dele custava 250 euros (R$ 1.334,175), mas o contrato dele acaba agora em dezembro e o dono já aumentou para 500 euros (R$ 2.668,35), já dobrou o valor. Isso está acontecendo no país inteiro.
- Você conhece alguma pessoa próxima que passou dificuldades assim que chegou a Portugal?
Conheço muitos amigos meus que, quando vieram para cá, passaram um tanto de sufoco. Agora eles já estão melhores, mais tranquilos.
Eles chegaram no inverno e não tinham dinheiro nem para alugar um lugar, mal tinham dinheiro para comprar roupa de frio. É bem puxado.
- O que mais pesa no bolso quando o assunto é o custo de vida aí em Portugal?
Tirando a habitação, Portugal é um país bom. Você consegue comprar as coisas, o poder de compra aqui em Portugal é muito maior do que no Brasil, mas a questão da habitação está puxando o custo de vida muito para o alto.
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