Visitas ao túmulo que “chora água” há mais de 100 anos no ES
Local no cemitério de Santa Leopoldina onde está enterrada a menina Maria Gilda, morta afogada aos 5 meses de idade, é cercado de mistério
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No cemitério municipal de Santa Leopoldina um fato curioso chama atenção até hoje e atrai doentes em busca de cura: o túmulo de Maria Gilda, que “chora água” há mais de 100 anos.
A história, passada entre gerações, conta que a menina morreu afogada em uma bacia quando tinha menos de 5 meses. O surpreendente é que, mesmo em períodos longos de estiagem, a água continua na sepultura da criança.
O mistério em volta do túmulo atrai turistas e ajudou a manter ativo o Circuito de Cemitérios até 2011, uma rota que visava valorizar personalidades do Estado enterradas na cidade da região serrana do Estado.
Jefferson Rodrigues, guia de turismo da região, conta que não foi feito um estudo aprofundado sobre a água na sepultura de Maria Gilda.
“É curioso porque, se observarmos, o túmulo fica acima da terra em uma barra de concreto. E como tem água? Muita gente fala que é o coveiro, mas seria uma tradição de muito tempo se fosse verdade”.
Jefferson explica, porém, que atualmente não é recomendado que as pessoas bebam a água do túmulo de Maria Gilda.
“A Secretaria de Saúde joga um produto para evitar a proliferação do mosquito da dengue. Já pensaram até em perfurar o túmulo para a água sair. Mas isso é tradição e a gente precisa preservar o que é da cultura”, acrescentou o guia de turismo.
A ideia do Circuito de Cemitérios partiu dele quando era secretário de Turismo. Jefferson queria valorizar a história de quem fez parte da cidade e do Estado. Por falta de investimento, a rota acabou em 2011.
“No mundo inteiro existem rotas de cemitérios, como na Argentina, na Europa e até no Rio de Janeiro. Mesmo não tendo o circuito em si, as pessoas vão visitar e eu percebi que o cemitério de Santa Leopoldina também era visitado. A pessoas vinham conhecer o túmulo da Maria Gilda, da família Reisen e de outras que fizeram história não só na cidade”, explica.
Famoso
Além de Maria Gilda, também pode ser visitado no município o túmulo de José Fontana, ex-jogador da Seleção Brasileira, do Vasco e do Cruzeiro, e que foi o primeiro capixaba a participar e único a ganhar uma Copa do Mundo, em 1970. Fontana morreu de ataque cardíaco, em 1980.
Ex-coveiro conta relatos de milagres
Coveiro aposentado, Luciano Lichtenheld, de 70 anos, que trabalhou no cemitério de Santa Leopoldina, conta que chegou a presenciar relatos de pessoas que receberam milagres após visitar o túmulo onde Maria Gilda está enterrada e tomar a água que “brota” do local.
“Alguma coisa tem. Vi várias pessoas relatando que alcançaram alguma graça após tomarem a água do túmulo de Maria Gilda. É, no mínimo, intrigante”.
Segundo ele, a estátua em forma de anjo que fica em cima do túmulo também é uma incógnita na cidade, pois diz a lenda que os olhos desse anjo às vezes se enchem de água, como se ele estivesse chorando.
Outros contam que alguns visitantes já colocaram os ouvidos no peito da escultura e garantiram que escutaram batidas de coração.
“A história dessa bebê é passada de geração em geração, e sua sepultura já se tornou atração turística em Santa Leopoldina. Não há um morador que não conheça a lenda, e não há uma pessoa que saia do cemitério sem se espantar com o que vê. A origem da água continua sendo um mistério, e a única certeza que se tem sobre o caso é que Maria Gilda jamais foi esquecida no tempo”.
Luciano Lichtenheld disse também que pessoas de diversas regiões do País já passaram pelo túmulo para tirar um pouco de água, e alguns até já se arriscaram a bebê-la, acreditando que ela possui poder curativo.
Procissões são feitas na sepultura de Maria Gilda todos os anos no Dia de Finados.
“Meu marido foi curado”
Moradora de Guarapari, Luzia do Carmo Parteli, de 70 anos, visitou o túmulo de Maria Gilda em 2019, quando levou um pote com a água do túmulo do bebê.
Segundo ela, o marido foi curado do câncer na próstata. “Meu marido foi curado. Foi a água do túmulo que curou meu esposo, com certeza”, afirmou.
“Elde tinha péssimas notícias toda vez que ia ao médico. Depois que fui em Santa Leopoldina e trouxe a água, ele tomou e foi melhorando. Até os médicos ficaram abismados”, disse a aposentada.
Ela também afirmou que um amigo de Cachoeiro do Itapemirim certa vez coletou um pouco de água em uma garrafa e levou até sua esposa, que tinha uma doença incurável.
“Depois de tomar a água, a mulher se recuperou totalmente. O homem, então, retornou até o cemitério para presentear Maria Gilda com uma rosa”.
Mas a aposentada reforçou que o recomendado é que a água não seja bebida, uma vez que a Secretaria de Saúde de Santa Leopoldina adiciona um produto para prevenir a proliferação de larvas de mosquitos.
“Já foi até mesmo levantada a hipótese de perfurar o túmulo para a água escoar. Mas o lado cultural e turístico falou mais alto, e o túmulo continua acumulando água”.
Quem é Maria Gilda
Maria Gilda nasceu em 4 de setembro de 1922 e morreu menos de 5 meses depois, no dia 19 de janeiro de 1923.
De acordo com relatos, a criança era de uma das famílias mais tradicionais da cidade e, no dia de sua morte, estava aos cuidados da avó Maria Zelinda Avancini.
O que se conta é que, durante um banho que dava na neta, a mulher teria saído para buscar uma toalha, deixando a menina sozinha dentro de uma bacia com água, e quando retornou ela já estava morta.
Durante o enterro, a mãe da menina, inconformada com a tragédia, teria colocado a bacia dentro do túmulo para que o objeto fosse enterrado junto com a filha. Com o passar dos anos, a água começou a ser vista todos os dias na sepultura, mesmo em dias de seca.
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