Psicóloga ajuda motoristas a enfrentar o medo de dirigir
Maria Cristina Souza fez curso de instrutores de trânsito, adaptou o seu carro e começou a oferecer o serviço após perceber a demanda
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Ao fazer atendimentos em consultório de psicologia, Maria Cristina Souza percebeu que era grande a demanda, principalmente de mulheres, que não conseguiam dirigir.
A psicóloga então buscou se aperfeiçoar, pois conta que percebeu que o atendimento na clínica e as aulas nas autoescolas, de forma isolada, não eram suficientes para que muitos pacientes perdessem o medo de pegar o volante.
“Fiz o curso de instrutores de trânsito para eu poder unir a minha profissão com a parte técnica. Adaptei o meu carro e comecei a oferecer o serviço”, conta Maria Cristina.
O trabalho foi dando certo e foi ficando conhecido. Hoje, Maria Cristina Souza não atua na clínica, pois seu trabalho é totalmente voltado para acompanhamento terapêutico no trânsito.
Uma das alunas foi a advogada Lorena Freitas Vieira, 30 anos. “Tirei minha habilitação aos 20 anos. Porém, tinha muito medo de pegar o carro e acontecer alguma coisa. Por conta disso, ‘criei’ essa desculpa na minha cabeça para esperar passar esse período”.
O tempo passou, Lorena engravidou, e o medo tomou conta dela. Desde então, foi totalmente dependente de outras pessoas para levá-la aos lugares.
“No ano de 2022 topei um novo desafio em minha vida profissional, conciliar a vida de advogada com a de representante comercial, e via de consequência, fui obrigada a perder esse medo, visto que a área exigia dirigir e fazer rotas”.
Foi quando ela conheceu o projeto de Cristina. “Não tenho mais aquela insegurança e medo, hoje consigo resolver tudo de forma independente e com autonomia”.
Bloqueio
O engenheiro civil Bruno Holz, 41 anos, tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) há cerca de 10 anos, mas conta que tinha um bloqueio na hora de dirigir.
“Tive a necessidade de dirigir pelo trabalho. Minha esposa encontrou o contato da psicóloga e instrutora e fui vendo que eu é que criava os bloqueios. Ela me dizia que eu tenho noção de espaço, que sou capaz”, afirma Bruno.
Ele conta que hoje dirige diariamente para o trabalho, vai ao supermercado e busca o filho na escola.
“Era uma das maiores frustrações que eu tinha. É algo que achava que era externo, mas era um bloqueio nosso”, avalia.
Maiores medos ao pegar o volante
Medo de perder o controle do veículo, de machucar alguém e de deixar o carro morrer e passar vergonha por ser alvo de um “buzinaço” no trânsito. Esses são os principais traumas relatados pelos pacientes à psicóloga e instrutora de trânsito Maria Cristina Souza.
“A primeira coisa que elas têm é o medo de não conseguir ter o domínio do veículo. É como se ela tivesse em mente que o veículo tem vida própria”.
Ela explica que, como consequência desse medo, vem o medo de machucar ou matar alguém. “Então, depois do medo vem a vergonha. As mulheres têm muito medo de deixar o carro morrer no sinal e de serem vítimas do 'buzinaço'. Elas criam trauma”.
De acordo com dados de 2022 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 6% da população brasileira enfrentam o medo de dirigir. Mais de 2 milhões de brasileiros não dirigem por medo, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
O engenheiro especialista em Trânsito e membro do Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran) André Cerqueira destaca que o trânsito tem um alto nível de competitividade.
“Acaba que a pessoa fica com medo de tirar o veículo da garagem, não pratica a direção do veículo e a cada dia vai se afastando mais da direção”, avalia.
Maria Cristina Souza diz que percebe uma falta de tolerância muito grande no trânsito.
“A pessoa demorou um segundo para sair com o carro, já estão buzinando e xingando. Então, você imagina quem está começando a se desenvolver no trânsito. Ela não vai dar conta”.
Entenda
Medo da direção
> 6% da população brasileira enfrentam o medo de dirigir, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
> Mais de 2 milhões de brasileiros não dirigem por medo, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
> Os principais Medos que envolvem os pacientes/alunos da psicóloga e instrutora de trânsito Maria Cristina Souza são:
- Perder o controle do veículo.
- Machucar ou até matar alguém.
- Deixar o carro morrer e passar vergonha por ser alvo de um “buzinaço”.
> O trânsito cada vez mais violento e agressivo é apontado como um dos motivos para que pessoas que possuem CNH deixem o carro na garagem, segundo André Cerqueira, do Movitran.
Fonte: Especialistas consultados.
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