Pacientes contam suas histórias após internação em UTIs
Reportagem de A Tribuna conversou com pessoas que viram a morte de perto, conseguiram se recuperar e deram a volta por cima
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Milagres são reais? Há casos de pessoas que já viram a morte de perto mas conseguiram dar a volta por cima e hoje seguem firmes e fortes na trajetória da vida.
Um exemplo é o do ator Kayky Brito, de 35 anos, que após sofrer um acidente de carro ficou 20 dias internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado gravíssimo.
Além dele, outras histórias de pacientes guerreiros existem. A reportagem de A Tribuna conversou com pessoas que ficaram internadas em UTIs e elas contaram relatos emocionantes.
A enfermeira Jane Coelho de Paula Rosa, 52 anos, “nasceu de novo” após um acidente que quase tirou sua vida em 1986, quando tinha 15 anos.
Na época, sua mãe, a aposentada Ema Coelho, 75, a levava para a escola de carro quando um outro veículo, que vinha em direção contrária, capotou e atingiu o automóvel delas.
Com o impacto, ficaram feridas, sendo o caso de Jane gravíssimo, ao ter traumatismo craniano. No hospital, os médicos chegaram a falar que ela não tinha sinais cerebrais. Mas ela seguiu lutando.
Jane ficou 15 dias na UTI e, ao todo, cerca de um mês no hospital. Ela passou por cirurgias, fez traqueostomia e recebeu orações. Com o tempo, seu quadro foi melhorando.
Segundo seus médicos, ela teria muitas sequelas e ficaria sem poder andar ou falar. “Eles achavam que eu ia ficar vegetando. Isso não aconteceu”.
Seu processo de recuperação foi lento, pois teve que aprender a fazer tudo de novo, como o simples ato de comer. Além disso, ela perdeu afazeres que gostava. Por ter ficado com o lado esquerdo do corpo semi-paralisado, não pôde tocar piano e violão na igreja.
Por mais que sua história tenha esse capítulo triste, ela é bastante grata ao Senhor. “Deus quis me ensinar algo e mostrar o poder Dele para as outras pessoas. Foi um milagre”.
Outro guerreiro que venceu a morte foi Antônio Penina, aposentado de 60 anos. Em 2016, ele teve um AVC hemorrágico e precisou ser internado na UTI, ficando lá por 60 dias. Para ele, passar por essa experiência o fez dar muito mais valor à vida. “Tenho um filho e quero participar do seu futuro. Quero vê-lo seguindo sua vida com dignidade”, disse.
“Eu nasci de novo”
O servidor público Gustavo Lyrio, de 33 anos, teve um AVC hemorrágico um dia após seu casamento com a publicitária Priscila Bonadiman, 30. Ele fez uma cirurgia de urgência e ficou 19 dias na UTI, em estado grave.
“Nenhum médico cogitou dizer que ele não voltaria, então agradeço muito a humanidade da equipe. Eles falavam para eu continuar a rezar”, contou Priscila.
Hoje, o que Gustavo mais tem é gratidão. “De uma hora para a outra eu tive limitações, mas agradeço a Deus pelo dom da vida. Eu nasci de novo”.
“Sou exemplo de superação”
A aposentada Marilene Bertoni, de 60 anos, é um exemplo de superação. Ela descobriu que tinha câncer no intestino e no fígado em 2013 e precisou fazer seis cirurgias para a retirada da doença. Durante todas as vezes, ficou na UTI, sendo a estadia de 11 dias a mais duradoura.
Todas essas experiências fizeram com que Marilene se fortalecesse. “Quando a gente passa pela experiência de câncer por seis vezes, não dá para permanecer da mesma forma. Deus transforma nossa vida e a de quem convive com a gente. Sei que sou exemplo de superação para muitas pessoas amigas e familiares”, comentou.
“Sim, milagres acontecem”
Histórias de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são o que não faltam para Fernanda Bento, cardiologista e intensivista da Rede Meridional. Ela trabalha há 12 anos com pacientes internados nesse setor e contou que já presenciou casos milagrosos.
“Já vimos milagres acontecerem, de pacientes que chegam extremamente graves, que ficam em uso de várias drogas para manter o mínimo de sinais vitais, mas que evoluem bem e nos surpreendem positivamente”.
A médica também afirmou que há relatos curiosos. “Muitos falam que não se lembram do período da gravidade, outros trazem relatos que a ciência explica como alucinações por conta de analgésicos potentes e sedativos hipnóticos”, diz.
“Existem relatos que nos surpreendem e que podem ser apontados por nós como uma segunda chance, como uma experiência sobrenatural”.
A médica ressaltou que a mortalidade das UTIs dos grandes hospitais é muito pequena. Felizmente, mais de 95% dos pacientes que entram, saem com vida.
“Existe o percentual da morte esperada para aqueles com múltiplas comorbidades, idade extrema, traumas muito grandes ou infecções generalizadas que podem evoluir a óbito”, concluiu.
É válido lembrar que os casos que vão para UTI são os de pacientes que precisam de vigilância médica 100% do tempo, que estão em risco de instabilizarem ou morrerem a qualquer momento.
Nova chance de vida: “Após o acidente, mudei o jeito de ver o mundo”
“Acredito que Deus me deu uma nova chance de viver e estou aqui por um propósito”, disse Brendo Passos Ferreira, analista de sistemas de 24 anos. O jovem contou para A Tribuna sobre sua história de quase morte, que fez com que ele mudasse a maneira de ver o mundo.
De acordo com o analista, sua vida virou de cabeça para baixo em novembro de 2016. Na época, ele estava com amigos na orla da Praia do Morro, em Guarapari, quando seu skate foi em direção à rua. Um carro parou para que ele pudesse pegar o objeto, no entanto, uma moto que vinha por trás, acabou o atropelando.
O acidente fez com que o rapaz ficasse internado na UTI por 20 dias, sendo que durante 10 deles, estava em coma, em um quadro gravíssimo.
Enquanto permanecia internado, recebia orações de sua mãe, amigos e de desconhecidos que ficaram sabendo de seu caso pelas redes sociais.
Além dessa positividade compartilhada para sua recuperação, Brendo não deixou de mencionar um verdadeiro anjo da guarda que o auxiliou quando estava caído, com a cabeça sangrando após o atropelamento: uma médica aposentada que andava pela orla. Ao vê-lo, foi a seu encontro.
“Deus colocou uma senhora para me ajudar. A minha massa encefálica tinha saído, então ela pressionou de volta para a cabeça para que eu não morresse e pediu para que uma ambulância chegasse em menos de cinco minutos para eu não morrer ali na mão dela”, disse, ressaltando que não se lembra da história, quem contou a ele foram seus amigos.
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Para o jovem, aquela ação pode ter o salvado e ele é muito grato. Ele disse também que o pós-acidente o colocou mais próximo de Deus. “Após o acidente, mudei o jeito de ver o mundo. Agradeço todos os dias pela minha vida e quero fazer o bem”.
Além de Brendo, outra pessoa que quase perdeu a vida e é muito grata a Deus é Leonil Dias, educador de 44 anos. Ele foi infectado pela covid-19 em outubro de 2020 e precisou ficar internado na UTI por 19 dias.
“Médicos chegaram a falar para minha esposa que não tinha o que fazer, e que dependia de mim e de Deus. Ele fez Sua vontade e eu reagi. Me sinto tão amado por Deus que vejo a vida de outra forma. Tive a chance de focar mais em minha família, de fazer o meu trabalho. Sou muito, muito grato a Ele”, completou.
Mais valor à vida
A enfermeira Fannye Matos, de 26 anos, ficou 20 dias internada na UTI por conta de uma forte crise de asma. Ao passar por essa experiência difícil, disse que valoriza mais sua vida.
“Após essa internação, passei por outras e fui entubada quatro vezes. Depois de cada retorno, acredito que Deus me concedeu uma nova chance de vida e passei a dar valor aos momentos, por mais simples que sejam. Saio mais com meus amigos e vou à praia com meus familiares”, comentou a jovem.
Pequeno guerreiro
Benjamim Pimentel Jantorno já nasceu guerreiro. Ele, que atualmente tem três meses, lutou pela vida com muita garra ao vir ao mundo prematuro, de oito meses. Sua mãe, Marina Souza Jantorno, 37 anos, contou que isso ocorreu porque ela teve pré-eclâmpsia (pressão alta).
“Ele nasceu sem batimentos e, depois de uns instantes, ressuscitou e foi para Utin. Ficou lá por 38 dias. Foi o pior momento da minha vida, mas tive a certeza que aconteceria o milagre”, contou a mãe.
Pastor afirma que fé ajuda na recuperação
Para quem já vivenciou momentos difíceis voltados para a saúde e de quase morte, a fé no divino leva esperança para a recuperação. Isso foi o que afirmou Kenner Terra, pastor e doutor em Ciências da Religião.
Ele explicou que existem pesquisas que mostram que pacientes que professam alguma fé religiosa enfrentam doenças, entre elas as terminais, com mais resiliência e esperança.
“Nessa perspectiva, a religião serve como componente importante no enfrentamento de doenças e durante tratamentos mais severos”, comentou.
Muitas vezes, até mesmo quem não tinha fé passa a crer após episódios de dor, ressaltou,
“Situações de fragilidade ou dor estão entre as muitas razões que levam alguém a trilhar os caminhos mais profundos da fé. Acompanhei casos de pessoas que se tornaram mais intensas em sua vida de fé depois de perderem gente que amavam ou após vivenciarem dias difíceis”, concluiu Kenner.
Famosos que já sofreram risco de morte
Parada cardíaca
A influenciadora Andressa Urach, 36, viu a morte de perto. Em 2014, ela foi internada após ter complicações por conta da aplicação de cerca de 500ml de hidrogel em cada coxa.
Andressa teve parada cardíaca, respiratória e também entrou em coma por três dias. Enquanto estava no hospital, disse que viu a própria alma saindo do corpo. A ex-modelo ficou internada por quase um mês.
Acidente grave
Em março do ano passado, o ex-BBB Rodrigo Mussi, 37 anos, sofreu um acidente de carro, que resultou em traumatismo craniano e várias fraturas pelo corpo. Ele precisou passar por cirurgias na perna e na cabeça.
Ele era um passageiro de uma corrida por aplicativo quando o motorista perdeu o controle e bateu em um caminhão. Sem cinto, Rodrigo foi arremessado para a frente do carro.
O influencer revelou ao programa “Encontro” que não sabia se voltaria a andar.
Fraturas pelo corpo
Indicado ao Oscar, o ator norte-americano Jeremy Renner, 52, conhecido pelo filme “Os Vingadores”, sofreu um grave risco de morte no início do ano ao se acidentar com um veículo limpa-neve enquanto tentava retirar a neve do quintal de sua casa.
O artista quebrou oito costelas e 14 lugares do corpo. Seu pulmão entrou em colapso e sua costela perfurou o fígado.
Tragédia no Natal
No Natal de 1992, a atriz Bárbara Paz, 49, sofreu um acidente de carro. Ela teve traumatismo craniano, ossos quebrados, perdeu a consciência e precisou levar 434 pontos no corpo. Na época, usou morfina para aliviar as dores.
“Morri dia 25 de dezembro de 1992, num Chevette branco ao som de 'Erótica', de Madonna. Não gosto daquelas pessoas que acordam sempre felizes. Aquelas que postam fotos sorrindo. Como se o mundo fosse feliz. Odeio Natal”, comentou em uma publicação no Instagram.
Cinco infartos
O ator Raul Gazolla, 68, já sofreu cinco infartos que quase tiraram sua vida.
Um deles, ele mencionou estar relacionado com o assassinato de Daniela Perez, atriz que era sua esposa na época em que morreu.
Segundo ele, o estresse do caso, que ocorreu em 1992, o assombrou e o fez sofrer um infarto. Raul infartou pela primeira vez aos 54 anos. Ele disse já ter predisposição.
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