Psicóloga Anahy D’Amico: “Diálogo poderia evitar traições e términos”
Psicóloga explica que poucos casais conversam a respeito de suas insatisfações para poder melhorar o relacionamento
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A infidelidade amorosa não é algo incomum na sociedade. Em casos como a traição masculina, pode até ser “normalizada” pela sociedade. Mas, quando ela aparece no relacionamento, não dá para fingir que nada aconteceu.
Para Anahy D’Amico, quem trai alguém, trai também a si mesmo. Em entrevista ao jornal A Tribuna, a psicóloga e terapeuta sexual com mais de 40 anos de experiência, sendo os últimos 19 anos como integrante do programa de TV “Casos de Família”, do SBT, analisa o tema e é enfática: o diálogo é o caminho para evitar traições e términos.
A Tribuna: Na sua análise, o que significa a traição em um relacionamento?Anahy D’Amico: A traição em um relacionamento é a quebra de compromisso, quebra de confiança e quebra do contrato estabelecido entre duas pessoas. Quando nos relacionamos, fazemos um contrato de exclusividade, isso pode estar implícito ou pode ser falado abertamente: “não aceito traição”.
A partir daí, é estabelecido um acordo de fidelidade. Quem trai alguém, trai também a si mesmo, ao que se propôs a fazer e honrar.
O que explica a dificuldade humana em lidar com a infidelidade?
Ela pode ser atribuída a uma combinação de fatores emocionais, sociais e culturais. A infidelidade abala a confiança no parceiro, no relacionamento, abala a autoconfiança da pessoa traída e até a confiança nos próximos relacionamentos, por isso, a infidelidade é devastadora.
A infidelidade causa mágoa profunda e desencadeia uma série de emoções intensas, raiva, tristeza e ressentimento.
Traições também podem acontecer quando “está tudo bem” entre o casal?
Esse é um grande debate, porque se acredita que se a pessoa trai é porque não ama. Mas já atendi muitos casos de traição em que a pessoa se sentia insegura, menos amada ou se sentia abandonada. Cada pessoa apresenta uma razão, tem uma motivação emocional ou simplesmente acha uma desculpa para justificar a traição.
A traição geralmente começa com uma insatisfação: falta carinho, conexão, amor, sexo, muitas outras coisas, mas poucos casais conversam a respeito dessas insatisfações para poder melhorar o relacionamento. Essa iniciativa poderia evitar muitas traições e términos.
Os tabus de se falar da infidelidade impedem os casais de construírem uma relação amorosa mais transparente e ética?
Não acho que seja um tabu. Hoje, se fala abertamente sobre todos os assuntos dentro de um relacionamento, na televisão, rádio, redes sociais. Não temos mais assuntos fechados e intocáveis.
A falta de transparência e ética está ligada à pessoa, ao jeito que ela age e resolve os problemas. Tanto que existem casais que mesmo tendo conflitos, problemas e necessidades, não traem. Em um relacionamento, podem ocorrer diversas rupturas a acordos.
Por que a traição amorosa é a única debatida? A ruptura dos outros acordos é menos importante?
A ruptura de qualquer acordo vai ter impacto na vida do casal. Também é uma quebra de confiança um deles parar de dar suporte emocional, não ajudar na educação e manutenção dos filhos ou da casa, mas a fidelidade sexual, conjugal, dá a sensação de que estando juntos vão conseguir superar os problemas que aparecem. É por isso que a traição é a que causa maior impacto e repercussão.
O que é preciso para recuperar a confiança após um caso de infidelidade?
A traição abala a confiança, que é um dos pilares de um relacionamento saudável. Mas se o casal ainda se ama e quer tentar, é plenamente possível resgatar essa união. Para que isso aconteça, é preciso que haja um arrependimento genuíno de quem traiu e também o entendimento do porquê fez isso.
A pessoa traída precisa ter a disposição de colocar uma pedra em cima do que aconteceu. Vemos, hoje, uma desilusão da juventude ao acompanhar a vida íntima de casais famosos, como se as separações das figuras públicas significassem que a vida compartilhada é algo impossível de dar certo.
Por que nos espalhamos tanto nesses relacionamentos?
Bem, em primeiro lugar, a juventude não pode formar convicções a partir da vivência dos outros. Cada pessoa é única, com pensamentos e vivências próprias.
O que está acontecendo é que as pessoas fantasiam que casais famosos não vão se trair. Quando falamos de infidelidade, o julgamento social é desigual ao tratar o homem e a mulher. É como se a traição fosse naturalizada como um comportamento masculino.
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QUEM É:
Anahy D’Amico é psicóloga com mais de 40 anos de experiência na área.
> É referência na compreensão das dores e problemas enfrentados pelas mulheres. Formada em Psicologia, em 1982, se dedica intensamente a ajudar seus pacientes a superarem desafios emocionais.
> Por 19 anos, integrou o programa de televisão “Casos de Família”, exibido pelo SBT. Foi uma das precursoras a falar sobre saúde mental e relacionamentos tóxicos na TV aberta brasileira.
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