Ana Rita Costa Gomes: “Nossos professores já foram mais respeitados”
Com 81 anos, fundadora da Escola Monteiro, em Vitória, fala sobre as mudanças na educação do País
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“Sempre acreditei no poder da educação. Sou filha, neta e bisneta de professores. Quando optei por estudar Psicologia, caminhávamos para a construção da atuação profissional na educação.
Hoje, aos 81 anos, posso dizer que realizei o sonho de criar uma escola e vi e vivi algumas das grandes transformações na educação brasileira.
Nasci em Doutor Lund, um distrito da cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais. Lá, vivi até os 11 anos, em uma família de 13 irmãos, até que fui estudar em um colégio interno de Belo Horizonte, onde tive acesso a uma ótima educação.
Mais tarde, na escolha profissional, o curso de Psicologia havia acabado de ser criado em Belo Horizonte e eu fui uma das primeiras alunas. Até brinco que o meu registro é o 04, ou seja, eu sou tenho um dos mais antigos registros profissionais de Psicologia da capital mineira.
Aos 26 anos, após casada, vim morar em Vitória, mas ainda não havia mercado de trabalho, nem mesmo curso de Psicologia.
Foi quando, em 1969, decidi criar a Escola de Artes Pica Pau, hoje, Escola Monteiro, focada na expressão artística, como uma arteterapia.
Criei uma abordagem nova de educação para a época. Aos poucos, a demanda por matrículas foi crescendo e eu havia, naquele momento, iniciado uma carreira com enfoque na Psicologia voltada à educação. Ao longo dessas décadas, vi as habilidades socioemocionais assumirem protagonismo na formação dos alunos.
No passado, a educação pouco se importava com questões emocionais. Os professores eram, sim, muito comprometidos em nos fazer aprender. Eram pessoas que tinham estudado muito, com instrução e eram cultas, mas era um outro momento. Eu vi a formação humana se tornar o centro da educação.
Timidez
Quando criança, eu era uma estudante muito tímida e isso não foi algo trabalhado na minha formação escolar. Acho que, por isso, fundei uma escola em que os alunos pudessem ter meios e liberdade de se expressarem artisticamente, por exemplo.
O enfoque do processo educativo mudou e, paralelamente, toda a legislação da educação foi atualizada. Todos os países que eram pobres e cresceram investiram na educação, e ainda estamos atrasados nisso.
Ainda está havendo mudanças no ensino médio, mas ainda não sabemos o que acontecerá.
Desafios
A valorização profissional do professor é um gargalo importante para a qualidade da educação. Eles merecem ser melhor remunerados, na altura de outros profissionais.
O trabalho de ser professor exige dedicação, conhecimento técnico, ampla visão de mundo e formação cultural.
Eu digo que o professor é igual a um pescador: se ele tiver uma rede pequena, irá ao mar e pescará poucos peixes. Por outro lado, quando a rede, que é o conhecimento, é grande, o professor irá carregar vários peixes.
A desvalorização dos professores não era tão marcante quanto hoje. Bom, eu acho que não. Na época da minha mãe, quando eu era uma estudante de escola pública, as professoras eram muito respeitadas. Os nossos professores, em geral, já foram mais respeitados.
Além disso, os alunos eram mais policiados em casa. Não se podia, por exemplo, falar alto com o próprio pai. Era um clima mais respeitoso, no geral. Os alunos que se sentem donos do pedaço, que acham que podem tudo, costumam ser os que desrespeitam o professor. Eles não reconhecem o professor como autoridade.
Formação
Um bom professor, acima de tudo, é uma pessoa que gosta de trabalhar com gente, que tem sensibilidade para enxergar as pessoas, que sente prazer em exercer a profissão, principalmente porque tudo que se faz com prazer, não se cansa.
Precisamos de investimento e de atenção à formação dos professores. Se quisermos viver em um país mais desenvolvido e com oportunidades, a educação é a principal aliada”.
Quem é
Ana Rita Costa Gomes, de 81 anos, é psicóloga e fundadora da Escola Monteiro, na Enseada do Suá, em Vitória.
Natural de Doutor Lund, um distrito da cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, a entrevistada foi uma das primeiras turmas de um curso superior em Psicologia em Belo Horizonte.
Na entrevista, a psicóloga conta o que viu e viveu em relação às transformações na educação brasileira.
- Depoimento ao repórter Jonathas Gomes.
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