X

Olá! Você atingiu o número máximo de leituras de nossas matérias especiais.

Para ganhar 90 dias de acesso gratuito para ler nosso conteúdo premium, basta preencher os campos abaixo.

Já possui conta?

Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

“Já via o valor medicinal da cannabis nos anos 70”, afirma médico

O médico sanitarista e pneumologista Geraldo Pignaton, de 76 anos, fala sobre pioneirismo no estudo da planta


Ouvir

Escute essa reportagem

Imagem ilustrativa da imagem “Já via o valor medicinal da cannabis nos anos 70”, afirma médico
Geraldo Fernandes Pignaton: “Eu acho que você tem que buscar a ciência onde ela está” |  Foto: Acervo pessoal

“Dos meus 76 anos de vida, cerca de 53 anos são dedicados à medicina. Vi transformações inimagináveis no dia a dia do médico, e acredito que, enquanto estivermos com a mente aberta para produzir ciência, podemos salvar vidas. Hoje, conhecemos o potencial terapêutico da cannabis, mas nem sempre foi assim.

A ignorância em relação a isto sacrificou milhares de vidas. No Estado, fui um dos primeiros médicos a estudar e a encontrar evidências do potencial farmacológico da cannabis para o tratamentos de várias doenças. Na verdade, eu já reconhecia o valor medicinal da cannabis nos anos 70.

Vida pessoal

Cursei Medicina entre 1966 e 1971, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Eu amava biologia e busquei uma formação em que eu pudesse me aprofundar no estudo da área. Fiz a escolha quando morava em Vila Velha, aos 17 anos de idade.

Naquela época, os estudantes de Medicina tinham uma visão crítica e política muito forte. Além disso, eu era muito próximo do doutor Jayme Santos Neves, uma figura na estruturação da saúde capixaba.

Ele era um visionário, sem dúvidas, e foi o principal responsável pela criação do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-ES).

Cannabis

Sempre fui muito estudioso, principalmente porque sou médico sanitarista. Eu comecei a ver, nos anos 70, que a cannabis nunca foi um problema em grandes civilizações. Naquela época, nos Estados Unidos, o ex-presidente Richard Nixon já havia legalizado o uso da maconha para o tratamento do glaucoma.

O americano é muito prático: se é benéfico para a saúde humana, pode ser usado. Nós, brasileiros, vivemos em um país muito preconceituoso. Eu, como médico, me sentia no dever de entender o uso medicinal da cannabis, até porque iria encontrar pacientes que podem precisar para tratar alguma doença. Estudei e vi que não tinha nada demais.

Existe uma história de que eu, nos anos 70, receitei maconha para uma paciente com inapetência. Na verdade, eu recomendei. É diferente. Aquela paciente tinha um problema de vesícula e ficou internada por mais de 15 dias, tomando soro. Quando saiu de casa, ela não conseguia comer e estava se deteriorando.

A senhora, de 80 anos, tinha um filho que fumava maconha. Eu sabia da história da ‘larica’, da fome que a maconha dá. Eu já tinha dado vitamina do complexo B e outros remédios para abrir o apetite da senhora, mas nada funcionava. Naquela situação, eu disse para o filho dela: ‘olha, faz um chá'.

Eu não sei o que ele fez, mas aquela senhora disparou a comer. Não sei se ela fumou ou se tomou o chá. Da noite para o dia, ela melhorou.

O que deveria ser feito na hora? Deixá-la morrer? Poxa, eu acho que o médico, nessas horas, deve seguir o ditado em latim que diz ‘em casos extremos, se tenta os extremos’. Deu certo.

Preconceito

Nós, médicos, descendemos daquelas pessoas que foram para a fogueira, que foram execrados e que buscavam a ciência. E eu acho que você tem que buscar a ciência onde ela está. Vivemos em um país avançado em muitas questões, mas ainda não nos libertamos da colônia.

O preconceito é fruto da ignorância, no sentido do desconhecimento. Temos um péssimo ensino e as pessoas não são investigativas. Acredito que muito do preconceito será vencido. A medicina está em transformação, de forma muito mais rápida do que eu já vi.

Sem dúvida, a transformação mais profunda que eu vi foi a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. No meu tempo de estudante, a qualidade da tomografia era tão ruim que os médicos não entendiam nada.

Era praticamente uma mancha. Lembro do doutor Jayme dizer ‘não adianta te explicar essa tomografia. Você precisa ter a imagem na cabeça para imaginar o que pode ser o que aparece nessa sombra’.

A medicina ainda irá viver tantas transformações que praticamente não teremos mais médicos, na minha visão. Tudo será feito pelo computador, de forma automatizada.

É cedo para apontarmos o que será desse futuro, mas precisamos estar atentos, sem preconceitos e reflexivos quanto às práticas médicas”.


Quem é

Geraldo Fernandes Pignaton, 76 anos, é médico sanitarista e pneumologista. Formado na turma de 1971 da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o médico foi um dos primeiros do Estado a reconhecer o potencial medicinal e terapêutico da cannabis para o tratamento de diversas doenças.

Na entrevista, o médico aborda as transformações da medicina e analisa o impacto social do preconceito contra o uso da cannabis medicinal.

- Depoimento ao repórter Jonathas Gomes.

MATÉRIAS RELACIONADAS:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Leia os termos de uso

SUGERIMOS PARA VOCÊ: