OÁ Galeria abre exposição “Escapismo”, de Laerte Ramos, com 50 obras inéditas
Entre tapeçarias, esculturas, pinturas-objeto e experimentações gráficas, obras exploram as tensões entre artesanato e tecnologia, peso e leveza
A partir do dia 5 de novembro, às 19h, a OÁ Galeria, em Vitória, recebe a exposição “Escapismo”, do artista paulista Laerte Ramos, um dos nomes mais reconhecidos da arte contemporânea brasileira. A mostra reúne 50 obras inéditas — entre tapeçarias, esculturas, pinturas-objeto e experimentações gráficas — que exploram as tensões entre artesanato e tecnologia, peso e leveza, matéria e imagem, convidando o público a refletir sobre o tempo presente e as transformações da sensibilidade na era digital.
Com mais de três décadas de trajetória, Ramos é conhecido por sua pesquisa sobre a transformação da matéria em linguagem poética. Em “Escapismo”, ele conduz o visitante por uma travessia entre o físico e o simbólico, o concreto e o imaterial, propondo uma experiência sensorial que amplia as fronteiras do fazer artístico.
“A lã, a madeira, o chumbo e a luz não são apenas materiais, mas símbolos de transformação e resistência”, destaca o artista. “A exposição é um convite a atravessar a fronteira entre a matéria e o mito, a perceber o instante em que o peso se converte em leveza e o toque humano se torna pixel.”
A matéria como linguagem
Em “Escapismo”, a lã assume papel central, presente em diversas obras como metáfora da metamorfose — algo que se dobra, se reconstrói e se reinventa. O percurso expositivo leva o público do gesto artesanal ao imaginário tecnológico, questionando a percepção do tempo e da experiência sensível.
As obras revelam deslocamentos entre densidade e transparência, cor e vazio, textura e luz. É nesse jogo de contrastes que o artista constrói sua poética, situando-se entre o artesanal e o digital, o tempo do corpo e o tempo da máquina.
LSD – Longe Sem Destino
O núcleo central da exposição é formado pela série LSD – Longe Sem Destino, composta por sete tapeçarias tecidas manualmente. Cada uma delas representa fenômenos naturais — como vulcões, auroras e explosões atômicas — traduzidos em tramas que aproximam o ponto têxtil ao pixel digital.
Para Ramos, o “escapismo” não é uma fuga literal, mas uma busca por outros estados de consciência e liberdade criativa. As tapeçarias transformam energia e movimento em textura e cor, articulando uma metáfora sobre a transcendência e a condição humana.
As séries “Omen” e “Retroland”
Além das tapeçarias, “Escapismo” apresenta duas séries fundamentais na fase atual do artista.
Em “Omen”, Ramos utiliza a técnica de wetfelting (feltragem úmida) para criar superfícies densas e quase orgânicas. As obras evocam paisagens energéticas e condensam o tempo em camadas de matéria e gesto.
Já “Retroland” reúne pinturas-objeto feitas de madeira, acrílico e luz, que sobrepõem tempos e memórias. Cada peça é um “relevo temporal”, onde o passado e o presente coexistem sob o olhar do espectador.
A mostra culmina com a escultura “Foreverandever”, um avião duplo moldado em chumbo. A obra sintetiza a dualidade central da exposição — o desejo de voo e a impossibilidade do deslocamento, a tensão entre o impulso criativo e os limites impostos pela matéria.
Um artista de alcance internacional
Com 54 exposições individuais, 32 prêmios e uma carreira de mais de 30 anos, Laerte Ramos consolidou-se como um dos nomes mais consistentes da arte brasileira. Formado pela FAAP, realizou residências na França, Suíça, Holanda, Portugal, Estados Unidos e China, expandindo sua pesquisa por múltiplas linguagens — da gravura à cerâmica, da tapeçaria à escultura.
Além de artista, Ramos é curador e gestor cultural, fundador do projeto Ar: Acervo Rotativo, voltado à circulação de obras e à conexão entre artistas e colecionadores, e da Studium Generale, produtora dedicada a residências e intercâmbios culturais.
A poética da permanência
“Escapismo” reafirma o compromisso de Laerte Ramos com o fazer manual e o pensamento material em tempos de aceleração digital. Ao transformar técnicas artesanais em gestos de resistência, o artista propõe uma poética da presença — um convite à desaceleração, à contemplação e ao reencontro com o sensível.
A exposição não se limita à ideia de fuga: é, sobretudo, um exercício de consciência estética, uma tentativa de reconciliar o humano com a matéria e de restaurar o vínculo entre arte e experiência.
“Escapismo”, afirma o artista, “é o lugar onde a arte resiste — onde o toque, o tempo e o olhar ainda importam.”
Serviço
Exposição: Escapismo, de Laerte Ramos
Abertura: 5 de novembro, às 19h
Visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h30
Local: OÁ Galeria — Av. Cezar Hilal, 1180, loja 9, Praia do Suá, Vitória – ES
Classificação: livre
Entrada: gratuita
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