Veterinário se muda para o interior em busca de sossego para casal de araras
Guilherme Figueira abandonou a rotina da cidade para oferecer mais qualidade de vida para Kadu e Tiê
Kadu e Tiê, um carismático casal de araras-canindé, conquistaram as redes sociais com vídeos que mostram voos espetaculares sobre a zona rural de Alfredo Chaves.
As imagens, publicadas no perfil do médico veterinário Guilherme Figueira, tutor das aves, já ultrapassam 100 mil visualizações no Instagram.
As araras vivem em Aparecida de Basílio, uma comunidade cercada por morros e vegetação nativa. Guilherme, de 40 anos, morava em Vitória, mas após a pandemia decidiu trocar a capital pelo interior para oferecer mais qualidade de vida aos pássaros.
“Aqui eles têm espaço, ar puro e contato com a natureza. É um ambiente que respeita o instinto delas”, conta.
Os voos são realizados com base na técnica conhecida como voo livre, em que as aves sobrevoam áreas abertas e retornam espontaneamente ao tutor. A prática exige vínculo afetivo, treinamento constante e muita confiança.
“O voo livre não é simplesmente soltar o animal. É preciso criar uma relação de segurança. As araras precisam reconhecer o tutor como referência”, explica Guilherme.
Segundo ele, o método traz vários benefícios. “Além de fortalecer a musculatura, o voo livre reduz o estresse e estimula o comportamento natural. No cativeiro, elas desenvolvem ansiedade. Aqui, elas expressam o que realmente são: livres”, afirma.
Kadu, com quase três anos, e Tiê, de um ano e meio, foram adquiridas de cativeiros legalizados no Rio de Janeiro. “Eles são tratados com todo o cuidado. O bem-estar animal é prioridade”.
Os nomes das araras têm origem no tupi: Kadu significa “homem bom” e Tiê quer dizer “liberdade”. Para o tutor, os significados traduzem a convivência harmoniosa com as aves. “Esses nomes representam o que vivemos aqui: respeito, confiança e liberdade”.
Guilherme já foi proprietário de uma clínica em Vitória, mas a rotina intensa acabou afetando sua saúde mental.
A mudança para o interior, segundo ele, transformou não apenas a vida das araras, mas também a própria. “Cuidar dos animais nesse ambiente e ver Kadu e Tiê voando livres me trouxe paz”.
“As aves precisam se sentir seguras”
A Tribuna — Como começou sua paixão pelo voo livre das araras?
Guilherme Figueira — Sempre fui apaixonado pela sensação de liberdade que o voo representa. Quando vi uma arara voando em céu aberto pela primeira vez, senti algo indescritível, uma mistura de emoção, respeito e encantamento. O voo livre me mostrou que é possível criar laços profundos com os animais sem prender, apenas confiando. Cada vez que Kadu e Tiê decolam e voltam por vontade própria, tenho a certeza de que escolhi o caminho certo.
O que o motivou a se mudar para o interior?
A rotina da clínica 24 horas era pesada e acabava me afastando daquilo que mais amo: o contato com os animais e com a natureza. No interior, encontrei silêncio, tempo e equilíbrio. Hoje vivo de forma mais leve, e isso reflete diretamente no cuidado que ofereço a eles.
Quais são os principais desafios de praticar o voo livre com araras?
É uma prática que exige paciência, estudo e uma relação muito forte de confiança. As aves precisam se sentir seguras, e o tutor precisa compreender seus limites. Cada voo é um diálogo silencioso entre liberdade e afeto.
O que mais te surpreende no comportamento de Kadu e Tiê?
A sensibilidade. Eles percebem meu humor, reagem à energia da casa e se comunicam entre si de forma impressionante. Cada um tem uma personalidade única, e conviver com eles é um aprendizado constante sobre empatia.
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