Mulheres ganham mais destaque na área da ciência
Elas já são 43,7% entre os pesquisadores no Brasil atuando em diversos setores, desafiando estereótipos e inspirando gerações
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A participação feminina na produção científica brasileira está em crescimento nos últimos anos. Tanto que, no Brasil, as mulheres são 43,7% entre os pesquisadores.
Com as descobertas e conquistas no campo científico, elas contribuem para a transformação de diversos setores e constroem novas perspectivas para o futuro.
Hoje, data em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres, o jornal A Tribuna preparou uma reportagem sobre a contribuição feminina para a ciência e propõe reflexões sobre os desafios que ainda persistem.
No Estado, não faltam pesquisadoras de ponta, que representam o papel das mulheres na produção científica brasileira. É o caso das professoras Denise Endringer, Bianca Campagnaro e Girlandia Alexandre Brasil, da Universidade Vila Velha (UVV).
Além de professora nos mestrados e doutorados em Ciências Farmacêuticas, Biotecnologia Vegetal e Assistência Farmacêutica, Denise Endringer é também reitora da UVV e já publicou trabalhos de destaque, como a identificação de compostos bioativos que previnem o câncer e outras doenças em plantas e frutas.
A cientista acredita que, atualmente, vive-se um dos melhores momentos para as mulheres na ciência no Brasil. “A participação feminina tem crescido e ganhado visibilidade, o que é fundamental para desafiar estereótipos e inspirar futuras gerações”.
Já a professora Bianca Campagnaro, 41, se dedica à investigação dos benefícios do consumo do probiótico kefir há cerca de 10 anos. Em colaboração com pesquisadores da Bélgica, da Espanha e da Malásia, ela ajudou a descobrir que o probiótico protege o estômago contra lesões causadas pelo uso de anti-inflamatórios.
“Ao longo da jornada, encontrei tanto apoio quanto desafios. Enfrentei algumas frases de descrédito, mas o apoio predominante impulsionou meu comprometimento”, revela Bianca.
Ainda que existam desafios, a professora Girlandia Brasil, 36, também concorda que percebe uma transformação no campo científico. “Acredito que as mulheres têm uma visão ímpar do mundo, e nossa contribuição para a ciência é diferenciada. Há muito espaço para as mulheres na ciência”.
Parceria feminina
As professoras Nathalia Finck, 37, e Isabela Almeida, 29, são pesquisadoras das áreas de Odontologia e de Psicologia da Faesa, respectivamente. Hoje, elas trabalham em um projeto interdisciplinar sobre a qualidade de vida e o enfrentamento ao estresse em pessoas com uma disfunção que causa dor e comprometimento da mobilidade de músculos da mandíbula.
“Ser uma mulher que faz ciência e compartilhar isso nas salas de aula inspira novas gerações e quebra importantes paradigmas sociais”, acredita Nathalia.
Pesquisadoras tendem a ter salários mais baixos
Ainda que a participação feminina na ciência esteja em crescimento, a desigualdade de gênero ainda afeta a carreira das cientistas.
Tanto que, nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, as mulheres ainda recebem salários mais baixos por suas pesquisas. A constatação foi feita pelo Instituto de Estatística da Unesco.
A especialista em desenvolvimento de Líderes e Negócios Roberta Kato aponta que, por questões estruturais da sociedade, as pesquisadoras se deparam com desafios como a subordinação em relação aos homens, a falta de visibilidade do trabalho e a falta de reconhecimento de habilidades de liderança, por exemplo.
Para ela, a equiparação salarial na ciência, por exemplo, depende uma mudança de imaginário sobre o papel social da mulher.
“Estudos revelam que as mulheres são frequentemente silenciadas, ignoradas ou não creditadas por suas contribuições em diversas áreas, além de enfrentarem assédio e preconceitos relacionados à raça e à maternidade”.
Para a especialista, como intervenção para o problema, é necessário construir medidas de garantia para que mulheres tenham um ambiente mais propício de trabalho na produção científica.
“Mulheres ainda enfrentam estereótipos de gênero e expectativas sociais sobre suas profissões, reforçando a ideia de que não possuem habilidades para trabalhar com ciência. Precisamos de medidas que garantam um ambiente mais propício de trabalho”.
Saiba mais
Salários ainda são mais baixos
Dados
- A região da América Latina e Caribe atingiu a paridade na proporção de pesquisadores homens e mulheres: 45% dos pesquisadores do continente são mulheres. Por outro lado, a média mundial é inferior a 30%.
- Na América Latina, os países com o maior número de pesquisadoras são Venezuela (61,4%), Guatemala (53%), Argentina (52%), Panamá (51,8 %), Trinidad e Tobago (49,8 %), Cuba (49 %), Paraguai (48,9 %) e Uruguai (48,3 %).
- No Brasil, as mulheres constituem 43,7% das pesquisadoras.
- Embora o Brasil não esteja em destaque no ranking, quando se analisa a proporção de artigos científicos com pelo menos uma mulher autora, o País lidera: 72% das publicações incluem mulheres.
- Há hoje 16.108 bolsistas da modalidade de produtividade (PQ) no Brasil, sendo que 5.642 são mulheres, ou seja, o equivalente a 35,6%. As exatas e engenharias possuem o menor percentual entre todas as áreas, com cerca de 20%, enquanto, por outro lado, as áreas de saúde e linguística, letras e artes têm as taxas mais altas, equivalentes a mais de 50%.
- No mundo, apenas 1 em cada 3 pesquisadores é mulher. No ambiente corporativo, por exemplo, apenas 1 em cada 4 pesquisadores é mulher. Nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, essas pesquisadoras ainda recebem salários mais baixos do que os homens por suas pesquisas.
- No instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), há 453 pesquisadores, o equivalente a 30,4% de todo s os servidores docentes.
- Na Universidade federal do espírito Santo (Ufes), há 456 pesquisadoras, o equivalente a 45% de todos os servidores docentes.
- Na universidade Vila Velha (UVV), há 61 pesquisadoras, o equivalente a 46,6% de todos os docentes.
Fonte: Unesco, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e instituições consultadas.
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