Aos 31 anos, ela pilota avião e inspira outras mulheres
Bárbara Scandian Cardoso iniciou a carreira como piloto aos 18 anos, seguindo os passos do pai, que é comandante
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Com apenas 31 anos, ela já pilota avião e tem inspirado outras mulheres a “voarem alto”. A capixaba Bárbara Scandian Cardoso iniciou a carreira como piloto aos 18 anos, seguindo os passos do pai, o piloto comandante Isaías de Mattos Cardoso, de 57 anos.
Engana-se quem pensa que o desejo de ser aviadora veio desde a infância. O despertar pela profissão surgiu no terceiro ano do ensino médio, quando Bárbara não sabia a profissão que iria seguir.
Pilotar um avião, segundo ela, não era algo que “passava por sua cabeça”, mas a sugestão de uma amiga fez Bárbara mudar de ideia e entrar para a aviação.
A paixão pela aviação faz parte da história da família: o pai de Bárbara e mais dois tios são pilotos, além de dois primos que também estão estudando para entrar na área. Uma coincidência chama atenção: sua avó paterna nasceu no dia 23 de outubro, Dia do Aviador e Dia da Força Aérea Brasileira.
Em conversa com a reportagem de A Tribuna, Bárbara contou que é a primeira piloto de linha aérea do Espírito Santo e a primeira mulher capixaba a pilotar um Boeing.
A Tribuna- O desejo por ser piloto surgiu desde a infância?
Bárbara Scandian- Na verdade, isso nunca havia passado pela minha cabeça. Apesar de achar a profissão muito legal, o fato de viajar e de meu pai também ser piloto - inclusive ele foi até na escola onde eu estudava dar palestra -, mas nunca tinha passado pela minha cabeça ser uma piloto também.
Atribuo muito isso à representatividade mesmo: não via outras mulheres como piloto. Via como uma profissão de homem, não era algo alcançável para mim.
No fim do ensino médio, eu estava com dúvidas da carreira que seguiria e uma amiga comentou: “Bárbara, seu pai é piloto. Por que você não vira piloto também?”. Aquela pergunta para mim foi uma bomba, porque eu percebi que nunca havia passado pela minha cabeça ser piloto. E era uma coisa que eu gostava e admirava.
Quais foram seus primeiros passos para iniciar na carreira?
Falei com meu pai e ele me apoiou. Procuramos o Aeroclube de Vila Velha e eu me matriculei. No primeiro dia de aula, lembro que mandei uma mensagem para meu pai falando que tinha certeza que queria ser piloto.
O curso você iniciou aos 18 anos?
Tinha acabado de fazer 18 anos. A carreira de piloto começa com o curso teórico de piloto privado, depois são feitas as horas de voo, com provas e exames médicos no meio desse processo. No final, somos habilitados para pilotar aviões monomotores, mas não para trabalhar. Em seguida, é feito um curso teórico de piloto comercial e, sendo aprovado, pode fazer as horas de voo de piloto comercial. Com a carteira de piloto comercial, pode começar a trabalhar como piloto em avião monomotor. Para cada tipo de avião é preciso fazer mais cursos para se especializar.
Como foi entrar em uma companhia aérea?
Vai fazer 10 anos que entrei na Gol. Para mim foi muito emocionante, principalmente por ser a empresa aérea que meu pai trabalha. Fiz o processo seletivo, como qualquer pessoa, e fui aprovada. Fui uma das pilotos mais novas a entrar. Estou superfeliz e realizada.
Fale um pouco da sua profissão.
Eu sou piloto formada, mas trabalho como copiloto. Todo piloto, por mais que seja comandante de um jato, quando entra em uma empresa aérea começa como copiloto, já que existe uma fila de senioridade, até chegar seu momento de elevação.
O copiloto é um piloto habilitado, que voa todos os dias. Durante o voo, a cada etapa, alternamos quem vai voar: uma etapa faz o copiloto e a outra, o piloto comandante. A diferença é que a responsabilidade legal do voo é do comandante, mas em questão de treinamento e pilotagem, os dois são iguais.
Você já voou com seu pai. Como foi?
Não podemos voar em uma escala normal. Já voamos juntos três vezes, mas precisamos de autorização especial na empresa. A primeira vez que voamos juntos foi em 2016. Fizemos um voo de São Paulo a Assunção, levei minha mãe no voo como passageira e foi muito emocionante. Foi o voo em que mais me senti sendo avaliada, porque a gente quer fazer bonito e mostrar que sabe para o pai. Foi indescritível a sensação de estar no ar com meu pai.
Quando você começou, teve algum momento que pensou em desistir?
Não. Eu posso falar que dei sorte, porque entrei em uma empresa que valoriza a diversidade e a mulher. Nunca tive episódios de machismo, apesar de conhecer outras pessoas da aviação geral que já tiveram situações de machismo.
Você acredita que tem inspirado outras mulheres a “voarem” mais alto?
Com certeza. Inclusive, faço questão de mostrar para outras mulheres e meninas uma mulher na posição de comando, de uma profissão mais técnica. Eu acho incrível quando as pessoas me procuram para falar que eu as inspirei.
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