Moradora da Serra leva o prêmio de melhor fotografia no "Oscar da Baixada"
Fotógrafa Meuri Ribeiro ganha o troféu Zeca Pagodinho pelo seu trabalho no curta-metragem “Emaranhadas”
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A fotógrafa Mariana Reis Ribeiro, mais conhecida por Meuri Ribeiro, de 28 anos, levou para casa o troféu Zeca Pagodinho de Melhor Fotografia na Mostra Especial da Crítica do 1º Festival de Cinema de Xerém (Rio de Janeiro), apelidado carinhosamente pelos realizadores como o “Oscar da Baixada”.
A mineira de Ipatinga, que há 22 anos mora na Serra, fez parte da direção de fotografia do curta-metragem “Emaranhadas”, cuja equipe é formada apenas por mulheres.
“Conquistamos o Zeca Pagodinho, que é a estátua do prêmio, o que achei muito chique. Não estive no festival, mas fui representada por Mariana Costa, Lara Sartorio, Thayla Conceição, Gabriela Santos e Evilyn Quintino. São todas muito potentes e proporcionam um espaço onde é possível ensinar e aprender, fazer uma troca justa e de acolhimento”, conta Meuri.
“Emaranhadas”, que aborda a coletividade feminina, violências e a busca do auto-amor, não proporcionou apenas o primeiro prêmio à fotógrafa, mas também uma evolução pessoal.
“É um projeto em que trabalhamos a Lei Maria da Penha, que é um assunto muito delicado e eu também já sofri violência doméstica. Então, foi um filme muito sensível, porque eu tive que lidar com traumas, mas também foi um processo de cura para mim”, revela.
Este é apenas o primeiro filme da artista, que possui uma trajetória na produção de videoclipes. Por isso, o prêmio dá um gás a mais para Meuri.
“Traz muito o entendimento do quanto eu sou uma pessoa potente. Até questionei, ao falar do prêmio no Instagram, por quê quando a gente é reconhecida a partir de um objeto que também traz o reconhecimento, a gente começa a se olhar com carinho? Realmente comecei a me olhar mais e entender a minha importância”.
O sucesso do curta motiva toda equipe a continuar trabalhando junta. “A gente já fala que esse prêmio é coletivo, das 'Meninas do Emaranhado', as 'Demaranhadas'. Então, a gente pensa, sim, em fazer outros projetos de audiovisual, outros filmes. A premiação dá um querer de mostrar a nossa arte e expõe o quanto ela é necessária”, pontua a moradora do bairro Porto Canoa.
“Temos artistas excelentes no audiovisual”
A Tribuna- Qual é a importância desse prêmio na sua trajetória?
Meuri Ribeiro- É um prêmio que me fez começar a pensar sobre o quanto o meu olhar se desenvolveu e o quanto eu ainda posso desenvolver, porque é um eterno aprendizado.
É o seu primeiro prêmio?
Sim. Eu já estive envolvida em videoclipes, fazendo direção de fotografia, cenografia ou como assistente de arte, e também desenvolvi projetos em audiovisual.
“Emaranhadas” trata sobre o quê?
Ele retrata a rede ancestral, a conexão da coletividade feminina, que mesmo diante de prisões invisíveis, dores e violências, segue em movimento conjunto em busca da cura e do auto-amor.
Quando começou seu interesse pela fotografia e cinema?
Meu interesse pela fotografia e cinema começou em 2022, quando me inscrevi para fazer o 3º ciclo de formação de audiovisual pela Varal Agência de Comunicação e Coletivo Beco (em Vitória).
Foi um espaço onde fui muito acolhida e foi justamente numa época em que me via num limbo, porque tinha me distanciado da universidade e fazia uns freelances para sanar minhas necessidades.
Mas quem me emergiu na fotografia foi minha tia Luciana, que tinha uma câmera DSLR. Ela me levava para fotografar quando era adolescente. Lembro que ela me deu aquelas máquinas digitais e eu levava para a escola e documentava registros dos meus colegas de sala.
Como define seu estilo de fotografia?
Como fotografia documental. Prefiro muito mais fazer fotografias da rua, de festas populares do que fazer uma fotografia num ambiente fechado, no estúdio, porque eu acho que é um processo mais engessado, mas isso é a minha forma de entender a fotografia. Para mim, estar na rua é um espaço de muita potência e é um lugar onde eu me sinto viva.
Como mulher negra, o que busca causar nas pessoas e que discussões quer trazer?
Falo muito da minha trajetória e é o espaço onde gosto muito de estar. Quando trago a fotografia documental, eu tento, na verdade, registrar o movimento, mostrar a parte mais real daquela pessoa. Então, quando ela consegue se visualizar, ela entende o que ela é.
Tenho muita dificuldade ainda de falar em público, então, a fotografia veio como um ponto-chave de mostrar o que eu quero dizer.
O Espírito Santo está num lugar de destaque quando se trata de produção audiovisual?
Sim. Temos artistas excelentes. O audiovisual do Espírito Santo é muito potente em todas as áreas. E tenho visto que o audiovisual é muito plural.
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