Espírito Santo tem queda em amputações por diabetes
Redução se deve a protocolo criado no Estado para atendimento de pacientes que perdem a sensibilidade nos pés
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As amputações de membros inferiores (pernas ou pés) em pacientes com diabetes apresentam a pior série histórica dos últimos 10 anos no País, segundo dados do Ministério da Saúde.
Embora o ranking nacional apresente um cenário negativo, o Espírito Santo é o único estado da Região Sudeste com tendência de queda nos números, como destaca o cirurgião vascular capixaba Eliud Duarte Junior. De 2022 para 2021, reduziu em 4% o índice de cirurgias dessa natureza no Estado.
Apesar de parecer um percentual pequeno, os dados revelam os efeitos de um trabalho sistematizado e multidisciplinar iniciado em 2012, no município de Vila Velha, com o programa Propé, que instituiu um modelo de trabalho com protocolo específico voltado para pacientes com diabetes, reunindo diferentes especialidades médicas no mesmo ambiente.
Assim, os pacientes passaram a ser examinados e acompanhados de maneira global. Com uso de aplicativos de conversa, foi desenvolvido um protocolo de atuação precoce, priorizando, por exemplo, casos mais urgentes, e educando pacientes e familiares, reduzindo índices e níveis de amputação.
O projeto ganhou visibilidade no País e, no último ano, passou a funcionar no Ambulatório de Cirurgia Vascular do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória.
O cirurgião vascular Eliud Duarte Junior, que coordenou a Diretriz sobre Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, comentou sobre a importância de um protocolo definido para o atendimento desses casos.
“Quem tem diabetes, com o passar dos anos, desenvolve uma condição chamada de neuropatia diabética, que consiste na perda da sensibilidade nas extremidades do corpo. Assim, o paciente pode não sentir diferença de temperatura ao pisar no chão, ao ferir os pés, como pisar em um prego”, disse o cirurgião, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular no Estado.
Consequentemente, como ele alerta, um pequeno machucado, uma queimadura na sola dos pés ou uma calosidade pode passar despercebida e se tornar porta de entrada para feridas que demoram a cicatrizar ou infecções mais graves que resultam na necessidade de amputação. É o que os médicos chamam de pé diabético.
Por isso, o diagnóstico precoce é essencial e pode salvar vidas.
Esperança
Acompanhado há 10 anos pelo cirurgião vascular capixaba Eliud Duarte Junior, que coordenou a Diretriz sobre Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, o comerciante Darcy Dettmann, de 67 anos, já teve indicação de amputação de uma das pernas.
Darcy não tem diabetes, mas luta contra uma doença vascular, que está entre os principais motivos de amputações.
Ele mora em Laranja da Terra e, pelo menos, uma vez por mês viaja para Vitória para se consultar com o médico Eliud Duarte.
“Já sofri demais, não foi fácil, não é fácil, mas eu tenho muita esperança que vou ficar bom”.
SAIBA MAIS
Números
537 milhões de adultos no mundo têm diabetes de acordo com Dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional do Diabetes.
170 milhões é o número aproximado de pessoas com diabetes no Brasil, de acordo com o levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS)
No Espírito Santo, mais de 250 mil pacientes têm diabetes e o cirurgião vascular capixaba Eliud Duarte Junior traz um dado preocupante.
”Metade da população só sabe que tem diabetes quando chega para a gente com a lesão já instalada nos pés. Estamos tentando mudar essa cultura”, disse.
Amputações
Dados do Ministério da Saúde, catalogados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, revelam que há estados onde o volume de amputações e desarticulações (retirada completa) de membros inferiores aumentou mais do que 200% no período de 2012 para 2022. É a pior série histórica no País. No Espírito santo, no entanto, houve redução.
Programa
Referência nacional em saúde pública, o Programa de Proteção ao Pé Diabético (Propé), iniciado em 2012 no município de Vila Velha, instituiu um modelo de trabalho com protocolo específico voltado a pacientes com diabetes, reunindo diferentes especialidades médicas no mesmo ambiente.
Os pacientes passaram a ser examinados e acompanhados de maneira global.
Com uso de aplicativos de conversa, foi desenvolvido um protocolo de atuação precoce, priorizando, por exemplo, os casos mais urgentes, bem como educar pacientes e familiares, reduzindo índices e níveis de amputação.
O projeto ganhou destaque no País e, no ano passado, passou a funcionar em novo endereço: Ambulatório de Cirurgia Vascular do Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória.
Esse serviço, na verdade, se tornou um centro de estudos e pesquisas em novas terapias, como a medicina regenerativa em cirurgia vascular, e referência no País como centro de excelência em fechamento de feridas crônicas e diminuição das complicações decorrentes do diabetes.
Mandamentos do pé diabético
Além da importância de um tratamento precoce, de acompanhamento com especialistas, quem tem diabetes deve tomar cuidados.
Nesse sentido, o que parece ser um simples cuidar do pé é algo que pode reduzir quase 50% dos casos de amputação, como informa o cirurgião vascular Eliud Garcia Duarte Junior. Ele citou 12 mandamentos do pé diabético. São eles:
• Não fazer compressas nos pés, nem quente, nem fria, nem gelada.
• Usar meia sem costura ou usá-la com a costura para fora.
• Não remover as cutículas das unhas dos pés.
• Não usar sandálias com tiras entre os dedos.
• Cortar as unhas retas e acertar os cantos com lixa de unhas.
• Hidratar bem os pés.
• Nunca andar descalço.
• Olhar sempre a planta do pé e tratar logo qualquer arranhão ou ferimento.
• Não usar sapato apertado ou de bico fino.
• Tratar as calosidades com profissionais da saúde.
• Olhar o interior do sapato antes de usá-lo.
• Enxugar bem entre os dedos depois do banho.
Fonte: Especialista consultado e OMS.
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