Empresário morre e ajuda a salvar 3 vidas no ES
Péricles Pinto Silva Júnior, de 31 anos, morto após cair de um cavalo, teve os rins e o fígado doados para transplantes
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Sempre rodeado por amigos, dono de um sorriso que era um cartão de visita, com um jeito simples de ser e a missão de fazer o bem. É assim que o empresário Péricles Pinto Silva Júnior sempre será lembrando por quem teve a oportunidade de conhecê-lo ao longo dos seus 31 anos de vida.
Marcado por muita emoção, o último adeus ao jovem – que morreu após cair do cavalo durante uma cavalgada noturna em Vila Velha – foi ontem e reuniu centenas de amigos e familiares.
Mesmo diante de muita dor, seus pais, muito religiosos e sabendo do coração enorme que o filho tinha, tomaram uma nobre decisão: doar os órgãos dele.
Essa atitude ajudou a salvar três vidas, considerando que a Secretaria de Estado da Saúde informou que foram captados os dois rins e o fígado do jovem, transplantados em pacientes do Espírito Santo.
O acidente foi na madrugada do último dia 17. Levado ao hospital, ele teve morte cerebral decretada na manhã da última quarta-feira.
Emocionada, a empresária Nilce Marques, de 55 anos, conversou na sexta-feira (24) com a reportagem de A Tribuna e falou sobre o sobrinho, a quem descreveu como um “menino de Deus, que cativava todos pelo jeito carismático e humilde de ser, um cara do bem”.
- A Tribuna - Quem era o seu sobrinho?
Nilce Marques - Júnior era muito especial, muito responsável. Ele tinha empresa com caminhões, caçamba de entulho que deixava nas construções. Era solteiro, um menino de Deus. O seu sorriso era uma vitrine, era o seu cartão de visitas. Qualquer horário que você precisasse, ele estava totalmente disponível para ajudar.
Ele cativava todo mundo com esse jeito simples. Nunca mexeu com nada errado, sempre foi do bem, amava a família, os amigos, era participativo na Igreja Católica, assim como os seus pais, que são ministros da Eucaristia.
- Ele tinha sonhos?
Ele amava carros. Há quatro meses comprou uma caminhonete turbo F-250, que está na garagem. Nós fizemos uma homenagem a ele, com orações, o irmão entrou no veículo e todo mundo aplaudiu, um momento de muita emoção. A última postagem dele no Instagram foi na caminhonete.
Os sonhos dele eram isso, de estar em família, de fazer o bem. Até agora a ficha não caiu.
- Tinha o costume de andar a cavalo?
Ele era acostumado a andar a cavalo, mas dentro do terreno onde tem baias (em Itaparica, Vila Velha). Foi a primeira vez que ele saiu para andar dentro da cidade. Era uma cavalgada noturna, conhecida de revoada. Eles iriam até a Barra do Jucu, não pela Rodovia do Sol, mas pelos bairros. O cavalo era do amigo dele.
- Onde e como foi o acidente?
Pelo que o amigo dele falou, foi na reta da UPA da Barra do Jucu, na região de Barramares. Era madrugada, por volta de 2 horas. O meu sobrinho andava na frente. Segundo relatos, o cavalo deu uma galopada, ele chegou a abaixar e abraçar o pescoço do animal.
Nisso, não sei se ele se desequilibrou, e caiu de lado. Não sei se ele bateu a cabeça no meio-fio, no paralelepípedo ou se na hora que o cavalo saiu em galopada, ele bateu a cabeça no animal.
A gente acha que foi forte, porque ele teve traumatismo craniano, hematomas, duas costelas quebradas, mas olhando não tinha nada. Ele só reclamava de dor de cabeça.
Os amigos insistiram em levá-lo para um hospital, um pronto-atendimento, acionaram o Samu, mas o Júnior disse que queria ir embora e deitar na cama dele.
Ele levantou do chão, tentou montar de novo no cavalo, mas não conseguiu. Eles seguiram puxando o cavalo dele. No percurso, pararam em frente à UPA da Barra do Jucu, mas ele não quis ser atendido. Imagens mostram eles em frente e meu sobrinho deitado no chão.
Os amigos chamaram um motorista de aplicativo para levá-lo até o carro de onde o meu sobrinho partiu a cavalo. Fizemos contato com o motorista e ele disse que Júnior reclamava de dor de cabeça, mas não quis ir para o hospital.
O motorista contou que o esperou sair com o carro, com destino a Novo México, onde morava. Sete minutos depois, às 3 horas, ele estacionou o carro na região de Guaranhuns, que fica a cinco minutos da sua casa.
Imagens de câmeras de uma residência flagraram ele abrindo a porta do carro e vomitando. Em determinado momento, ele fechou a porta e não abriu mais.
- Como ele foi encontrado?
O seu desaparecimento mobilizou todo mundo. Pais, irmão e amigos fizeram buscas. Ele foi encontrado às 10h40 de sábado. O pai viu o filho inconsciente, muito suado dentro do carro. O Samu foi acionado, a mãe do empresário também chegou e foi na ambulância com o filho.
Ele foi levado para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, em Vitória, e na última quarta-feira, recebemos a notícia que ninguém estava preparado. Ele teve morte cerebral.
- Ele tinha manifestado o desejo de ser doador de órgãos?
Não. A gente não pensa que isso pode acontecer tão precocemente. A decisão foi dos pais, que sabiam do coração enorme que o filho tinha. Eles decidiram doar os órgãos e a família acatou. Agora, ele vai continuar sendo bom, mas em outras vidas.
Mais de 2 mil estão na fila do transplante no Espírito Santo
Dados da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES) mostram que 2.186 pessoas aguardam por um órgão no Estado, sendo 1.114 para rim, 1.045 córnea, 25 fígado e 2 para coração.
Em uma corrida contra o tempo, é iniciado o processo de doação, que conta com várias etapas. Primeiro, após confirmação de morte encefálica do paciente internado e validação desse diagnóstico, ele é classificado como doador em potencial e a família informada sobre a possibilidade de doação.
Depois da entrevista, a CET-ES é informada pelo hospital da permissão para a doação de órgãos e tecidos e se inicia a avaliação da história clínica, os antecedentes médicos e os exames laboratoriais. Após, é emitida uma lista de receptores inscritos compatíveis.
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