Como surgiu a paixão dos mineiros por Guarapari?
Expansão da ferrovia Vitória-Minas e a fama das areias monazíticas foram alguns dos atrativos, dizem historiadores

Basta uma caminhada pela orla da Praia do Morro para notar que Guarapari tem sotaques além do capixaba. Entre eles, o mineiro é o mais presente, seja no verão ou em outras épocas do ano.
Mas, afinal, de onde vem essa relação tão próxima entre Minas Gerais e o litoral capixaba? A resposta vai além da geografia e da beleza natural: ela começa nas capitanias hereditárias e se fortalece com a fama das areias monazíticas.
Patrícia Merlo, historiadora e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), lembra que parte do território mineiro integrou o Espírito Santo por quase dois séculos. Mesmo após a separação, a proximidade com o mar continuou sendo estratégica para o comércio e o escoamento de produtos, mantendo os laços entre os dois estados.
“Os mineiros costumam dizer que Minas não tem praia, mas por cerca de 190 anos eles tiveram, pois fizeram parte da capitania do Espírito Santo. A relação de troca e circulação sempre ocorreu”, explica.
Até o fim do século 19, o mar não era visto como espaço de lazer, mas como ambiente de risco e até de contaminação. Foi somente no século 20, com o avanço do turismo, que as potencialidades das praias passaram a ser exploradas.
Em Guarapari, esse processo ganhou força na década de 1940, quando famílias mais abastadas começaram a visitar a cidade de carro.
A grande virada, no entanto, veio com a consolidação dos direitos trabalhistas e a expansão da ferrovia Vitória-Minas, que passou a oferecer vagões para passageiros. Com mais de 50 praias e infraestrutura ainda modesta, Guarapari se tornou o destino mais acessível e atraente para os mineiros que desembarcavam na Estação Pedro Nolasco, em Cariacica.
“As pessoas chegavam de trem e já havia uma frota de ônibus que esperava os passageiros, principalmente no verão, para levar para Guarapari”, conta Patrícia.
A frequência das viagens em família consolidou o vínculo. Muitos mineiros passaram a adquirir terrenos e casas na cidade, criando raízes que atravessaram gerações.
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