Bandidos usam novas tecnologias e roubam 18 carros por dia no ES
De olho nas novidades tecnológicas, gangues aperfeiçoam técnicas para destravar alarmes e outros dispositivos para roubar carros
Escute essa reportagem
Enquanto a tecnologia agrega conforto e novas funcionalidades aos veículos, ela também está sendo uma ferramenta a serviço do crime: bandidos têm recorrido a equipamentos digitais para cometer roubos e furtos.
No Estado, no ano passado, 6.707 veículos foram levados por criminosos, uma média de 18 por dia. Mesma média se manteve em janeiro deste ano, considerando que 583 veículos foram roubados ou furtados.
O titular da Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), delegado Luiz Gustavo Ximenes, conta que muitos aparelhos usados pelos criminosos são comprados em plataformas de vendas na internet.
Segundo ele, os criminosos são do Estado e também teve um caso atípico de uma organização crimininosa com integrantes de Minas Gerais, especializada em furtos de caminhonetes da marca Hilux.
Ele ressalta que vários bandidos já foram presos e as investigações continuam de forma integrada com polícias de outros estados.
Para furtar as caminhonetes no Aeroporto de Vitória, por exemplos, os bandidos usaram dispositivos tecnológicos, entre os quais o chamado “ataque retrô”.
“Eles estão utilizando muito o que é chamado de ataque retrô, que é quando eles conseguem destravar o veículo. Dentro do carro, eles trocam o módulo do veículo e dão a partida”, disse o delegado.
Apesar da maioria dos casos de furtos e roubos contarem com a tecnologia de forma indevida, o delegado conta que alguns bandidos ainda utilizam itens analógicos, como a antiga chave micha.
As tecnologias também têm sido usadas para impedir o rastreamento de veículos roubados.
“O jammer, por exemplo, está sendo utilizado para bloquear o rastreador. São dispositivos eletrônicos utilizados para bloquear ou interferir em sinais de comunicação”, explicou.
Algumas estratégias
“Chapolin”
Um dispositivo conhecido como “chapolin” – semelhante ao controle remoto de portões, ou até mesmo o próprio controle para impedir o travamento das portas do veículo –, tem sido usado por criminosos.
Escondido no estacionamento, o bandido fica esperando a vítima apertar o botão na chave, com a expectativa de trancar o carro. Nesse momento, o ladrão aciona o dispositivo.
Dessa forma, com os dois sinais sendo emitidos ao mesmo tempo, a informação de travamento das portas não chega ao seu destino.
Com as portas destravadas, o bandido abre o veículo com tranquilidade e leva os objetos.
Clonagem da chave
A chave presencial – que permite abrir as portas e dar a ignição por aproximação, sem a necessidade de tirá-la do bolso – é uma das estratégicas tecnológicas usadas por bandidos. Sem tocar nelas, eles conseguem clonar essa chave.
Agindo em dupla, um dos criminosos carrega geralmente em uma mochila um dispositivo equipado com antenas que capta o código da chave presencial e o transmite para outro aparelho, mais compacto, que pode ser um smartphone com software específico.
Com esse equipamento, o segundo bandido entra em cena. Posicionado ao lado do veículo, ele consegue destravar as portas e levar o veículo.
Bloqueio de sinais
Com a função de auxiliar na recuperação de automóveis e utilitários furtados ou roubados, o rastreador vem de fábrica em muitos modelos e é exigido por seguradoras para a contratação da apólice de alguns tipos de veículos, a exemplo de caminhões e picapes a diesel.
Atentos a isso, os criminosos recorrem ao jammer ou “capetinha”, que “embaralha” o sinal de rádio emitido pelo rastreador, impedindo ou dificultando a localização.
É a mesma tecnologia utilizada para bloquear o sinal de celulares em presídios. Existem variações do jammer para interferir em variadas frequências de localizador.
Além do jammer, bandidos recorrem a um equipamento conhecido como “vassourinha”, na tentativa de detectar o sinal do rastreador e até sua localização no carro.
Carros hackeados
Todo automóvel moderno vem equipado com uma ECU, a central de gerenciamento eletrônico que é considerado o 'cérebro' do motor e comanda desde a respectiva ignição até a injeção de combustível.
Após ganharem acesso ao interior do veículo, muitos criminosos substituem a ECU original, que via de regra fica embaixo do capô, por outra, hackeada. O módulo modificado é idêntico ao original, mas costuma trazer botões físicos para injetar combustível e liberar o acionamento do motor de arranque e do sistema de ignição antes do furto ser consumado.
Com a ECU hackeada, o criminoso consegue dar a partida no veículo sem a chave, bastando arrombar e girar o respectivo miolo.
Ataque retrô
Bandidos também têm explorado falhas de design para roubar veículos. Um exemplo é um hack que se utiliza da conexão USB presente em modelos. Após arrombarem o carro, os ladrões inserem um dispositivo na entrada USB, ligando a ignição.
Fonte: Delegado Luiz Gustavo Ximenes e pesquisa A Tribuna.
Comentários