Escolas vão ter de enfrentar a Inteligência Artificial
Especialistas explicam que é necessário incorporar os avanços tecnológicos em sala de aula para enriquecer o aprendizado dos alunos
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É na palma da mão que estudantes têm acesso a um mundo de informações. Cada vez mais, o uso de novas tecnologias tem conquistado espaços, inclusive no ambiente escolar, trazendo um leque de desafios para aqueles que auxiliam no processo ensino-aprendizagem.
Mas será que “Em um mundo hiperconectado: a educação tá on?”. Esse é o tema central do 11° Congresso Educacional das Escolas Particulares do Espírito Santo, realizado pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES), que acontece até esta sexta-feira (25) em Vitória.
Na abertura do evento, o presidente do Sinepe/ES, Bruno Loyola Del Caro, destacou que a missão é investir na grandeza do conhecimento. “Em uma sociedade em transformação, temos obrigação de contribuir na construção das mudanças, para que o segmento educacional acompanhe o desenvolvimento em que a conquista da qualidade no ensino seja o propósito”.
Com o tema “A inteligência artificial e o futuro da humanidade”, o primeiro palestrante, o doutor em Teoria psicanalítica e em Ciências, e mestre em Psicanálise e psiquiatra Jorge Forbes, falou sobre os desafios divididos por ele como “terra 1” e “terra 2”, fazendo referência ao antes e depois da era digital.
Para ele, a educação está com um “atraso fenomenal” e é preciso repensá-la, usando a tecnologia como uma grande aliada.
À reportagem, o chanceler do Sinepe/ES, Moacir Lellis, também comentou sobre os desafios e a necessidade de dar uma reviravolta para recuperar o déficit existente.
“Nós temos de rever os nossos conceitos. A palestra do professor Jorge mostra que temos de repensar muito a educação no País, essa educação tradicional. É um desafio não de hoje, mas de ontem”.
Jéssica Schmid, diretora pedagógica da Escola Universo, destaca que a abordagem da tecnologia como foco central é um testemunho da atenção que é preciso direcionar não apenas às preocupações do presente, mas também às projeções para o futuro.
Para ela, a postura não deve ser de temor e bloqueio diante das transformações tecnológicas, mas sim de compreensão e progresso.
“A capacidade de entender e adotar essas mudanças é crucial para continuarmos a fornecer uma educação relevante e eficaz. Devemos ser ágeis em nossa adaptação, incorporando os avanços tecnológicos para enriquecer a experiência educacional e para refletir a realidade em constante evolução nas nossas escolas”, finalizou.
“A gente não tem de ter medo da tecnologia”
Jorge Forbes, palestrante
A Tribuna – Em sua palestra, o senhor disse que a educação está com um atraso “fenomenal”. É possível recuperar esse déficit?
Jorge Forbes – A educação está em um atraso muito grande. Eu diria que o máximo de evolução que ela fez nos últimos 200 anos foi passar do quadro negro para o branco. Manteve a mesma orientação vertical no sentido de um saber decorado, no sentido de ser algo sem a participação daquela pessoa que está sendo educada.
A Inteligência Artificial vai ajudar a tirar esse atraso?
Eu acho que vai ajudar porque é algo revolucionário, completamente novo e o brasileiro tem uma sensibilidade, talvez seja um dos povos mais sensíveis das mudanças digitais.
Nós temos menor atavismo, ou seja, menor aprisionamento na tradição do que um país europeu, por exemplo, que demora para mudar devido ao peso identitário da transição, e o brasileiro não. Ele é muito flexível, é múltiplo, é rápido, e por isso que ele ocupa um lugar tão importante no mundo no uso dos meios digitais. Então, eu acredito que sim, será algo muito positivo e bom para o Brasil.
Como usar a tecnologia no processo ensino-aprendizado?
A primeira coisa que a gente tem de fazer é não ter medo da tecnologia. Há quem tente proibir a tecnologia achando que sem ela é melhor, como eu dei como exemplo, de que o aluno não vai usar o ChatGPT (que é um algoritmo baseado em Inteligência Artificial) porque se usar ele não vai raciocinar. Ele vai raciocinar de uma outra forma que não a nossa.
O que eu proponho é que a gente pare de criar resistências porque essa mudança é inevitável. Quanto mais rápido nós assumirmos isso, melhor será para encontrarmos soluções novas.
O celular é um aliado ou um vilão em sala de aula?
Ele é um fato, ele pode ser um aliado ou pode ser um vilão. O celular pode ser usado para uma coisa e para outra. Agora, negar a existência dele é que eu acho que é errado.
É aí que entra o papel do educador ajudando os alunos, fazendo com que esse aparelho não seja um vilão, mas um aliado?
Ou o educador aprende a linguagem do aluno ou ele vai deixar de ser professor.
Já a família, qual é o seu papel nesse mundo em transformação?
É muito semelhante ao papel do educador porque a família quer manter a tradição, quer falar do passado, repetindo as coisas dos pais e dos avós. Mas atenção: o mundo de hoje pede muito mais a invenção do futuro do que a conservação do passado.
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