O prêmio não é o número 50. É tudo o que veio antes dele
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Quando penso no prêmio de número 50, a imagem que me vem à cabeça não é a de um palco iluminado, um troféu nas mãos ou um discurso ensaiado. É um terminal de ônibus. Itacibá, em Cariacica. Um jovem jornalista, no início da caminhada, tentando traduzir em palavras a superlotação dos coletivos do Transcol.
Gente apertada, calor, pressa, histórias cruzando o mesmo espaço. Foi ali que tudo começou. No factual, no improviso, aprendendo que jornalismo se faz, antes de tudo, com escuta.
Dali em diante vieram muitos aprendizados. Vieram os erros, as correções, as noites longas, as dúvidas sobre o caminho escolhido. Vieram também as conquistas, uma a uma, sempre acompanhadas da sensação de que ainda havia muito a aprender.
Mas houve um momento em que me senti completo na profissão. Foi quando o agro entrou de vez na minha vida e mudou o meu jeito de contar histórias.
No campo, aprendi que notícia também tem cheiro de terra molhada, som de vento batendo no cafezal e silêncio de quem começa a trabalhar antes do sol nascer. Aprendi que o tempo da roça é diferente do tempo da cidade. Que algumas histórias não pedem pressa, pedem respeito. O agro me ensinou a olhar com mais cuidado, a ouvir com mais calma e a escrever com mais verdade.
Esses 50 prêmios não são fruto do acaso. Eles não nascem da vaidade nem de um texto bonito isolado. Eles nascem das histórias. Das famílias, dos produtores, das cooperativas, das mulheres e homens que lutam, inovam e acreditam. São essas trajetórias que emocionam e convencem jurados. Eu sou apenas o meio do caminho.
Gosto de pensar em mim como um alfaiate. Não crio o tecido. Ele já vem pronto, carregado de fé, luta, suor e esperança. Meu trabalho é costurar. Ajustar os pontos. Dar forma ao enredo sem tirar sua verdade.
Chegar ao prêmio número 50 é gratificante. É um reconhecimento que ecoa no Espírito Santo e pelo Brasil. Mas, acima de tudo, é um lembrete de onde vim, do porquê continuo e de como vale a pena acreditar no jornalismo que olha nos olhos.
Uso este espaço para dividir essa conquista com você, caro leitor! Porque, no fim das contas, ela também é sua.
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