Especialista afirma: “Autoestima não é tratada com plástica”
Segundo análise da especialista, há muitas pessoas que estão dentro de um padrão estético e ainda assim têm problema de autoestima
Em meio às cirurgias plásticas motivadas por bullying, especialistas reforçam que por mais que os procedimentos possam corrigir uma característica física, não substituem o cuidado psicológico necessários para fortalecer a autoestima de crianças e adolescentes.
“A autoestima não é tratada por meio de cirurgia. Quando falamos de cirurgia, falamos de um padrão, como se a beleza estivesse estabelecida dentro desse padrão. E a autoestima não está baseada nisso. Ela é tratada por meio de terapia. É uma questão emocional, que vem da mente e não propriamente do corpo, de um padrão estético”, avalia Paula Santos, psicóloga e psicanalista infantojuvenil.
Segundo análise da especialista, há muitas pessoas que estão dentro de um padrão estético, ditado pela sociedade, e ainda assim têm problema de autoestima.
Paula destaca que a cultura influencia o comportamento, o que hoje é ainda mais ressaltado com as redes sociais.
“Vivenciamos hoje a cultura da comparação, das redes sociais e de uma preocupação extrema com o corpo. E é nesse ponto que precisa entrar o olhar atento dos pais, para achar um equilíbrio entre o desenvolvimento e as inquietações naturais que todo adolescente e pré-adolescente vai passar, a fim de evitar que isso vire um transtorno”.
A psicóloga clínica Beatriz Marques, especialista em saúde mental e atenção psicossocial e em terapia familiar sistêmica, aponta também outro tipo de comparação: quando parte dos pais para os filhos.
“Pode ser que os pais comparem a aparência de seus filhos com a dos filhos de influencers, por exemplo, e passem a se incomodar, manifestar críticas e até exigências ou imposições sobre eles. Ou seja, o incômodo não parte dos filhos, mas dos genitores”.
Beatriz destaca que pelo fato do cérebro da criança e do adolescente estar em desenvolvimento, é mais vulnerável às comparações, muitas vezes irreais e inalcançáveis das redes sociais.
“É fundamental que os pais evitem falas de comparação e críticas sobre a aparência dos filhos e reforcem valores em vez de aparência”.
Entenda
O que é o bullying?
É um fenômeno que acontece quando uma ou mais pessoas têm atitudes agressivas, intencionais e repetidas contra outros. Esses atos repetidos entre pares (por exemplo: crianças em uma escola ou colegas em um ambiente de trabalho) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais do bullying, que tornam possível a intimidação da vítima.
Avaliação com a família
Apesar de vários critérios que determinam se uma cirurgia pode ou não ser feita em um adolescente, há casos em que ainda assim ela pode ser negada pelos médicos.
“Há pacientes para os quais não recomendamos a cirurgia, principalmente nos dias de hoje, com tanta exposição fotográfica. Tudo depende do bom senso. Sempre pergunto ao paciente se o incômodo realmente parte dele, porque, às vezes, são os pais que desejam a mudança”, aponta o cirurgião plástico Rodrigo de Freitas.
“É muito importante que os pais não reforcem essa demanda. Também é importante que conversem com os filhos sobre a própria imagem. A cirurgia não vai resolver tudo”, afirma o médico.
O cirurgião plástico Ariosto Santos cita ainda a importância de se avaliar, em alguns casos, se essa criança ou adolescente não precisaria, inicialmente, passar por um psicólogo, assim como os pais.
“Muitas vezes os pais estão sendo pressionados e não sabem lidar com isso. Hoje os filhos quase coagem os pais. Mas é preciso muito equilíbrio e bom senso quanto aos procedimentos, para não tomarem decisões equivocadas”, alerta o médico.
Orientação aos pais
Antes da cirurgia, os pais precisam se certificar de que o adolescente atende os pré-requisitos para fazê-la:
1. O desejo deve partir do próprio adolescente e ser expresso claramente por ele.
2. É preciso ter autorização expressa, documental, dos pais para a realização do procedimento.
3. É importante que o adolescente seja orientado e tenha expectativas realistas sobre os resultados.
4. Há casos em que será necessário a avaliação do psicólogo, principalmente em casos de bullying.
Famosos que fizeram cirurgia
Cola
Recentemente, a cantora Ana Castela, de 22 anos, revelou que passou por uma cirurgia para correção das orelhas mas, segundo a cantora, “elas voltaram”. Por conta das orelhas “de abano”, Ana relatou que sofreu muito bullying.
“Eu não pedi para nascer assim”, afirmou a cantora nas redes sociais, onde compartilhou que, atualmente, usa uma cola resistente para que as orelhas não fiquem tão proeminentes. A prática, porém, não é recomendada pelos médicos.
“Orelhas de abano”
Aos 11 anos, a modelo Alessandra Ambrósio fez uma cirurgia nas orelhas. “Eu sempre soube que queria ser modelo, então decidi ajustar minhas orelhas, porque eram um pouco de abano.” Ela contou, porém, que precisou passar por correções, já que o médico que a operou não tinha experiência com o procedimento.
Rafaella Justus
Aos 14 anos, Rafaella Justus passou por rinoplastia e cirurgia ortognática para reposicionar mandíbula, queixo e maxilar. Nascida com malformação craniana, disse ignorar comentários ofensivos. “Sinto que não existe idade certa para ter um aumento na autoestima”, afirmou ao ser questionada sobre operar tão jovem.
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