Maioria dos idosos trabalham na informalidade no ES
Segundo os especialistas, grande parte atua como diaristas, no setor da construção civil, profissionais de manutenção ou prestadores de serviço
Dos 181 mil com 60 anos ou mais ocupadas no Estado, 109 mil estão em situação de informalidade, o que corresponde a uma taxa de informalidade de 60%, e só 72 mil estão em trabalhos formais.
Muitos trabalhadores 60+ têm optado por continuar ativos profissionalmente, mas sem vínculo formal, mesmo quando empresas oferecem registro em carteira, para não ter, por exemplo, descontos da Previdência na remuneração.
Segundo os especialistas, grande parte atua como diaristas, no setor da construção civil, profissionais de manutenção ou prestadores de serviço, e preferem receber sem ter vínculo formal.
A economista e pesquisadora da FGV IBRE Janaína Feijó, disse que os vínculos informais têm se mostrado, frequentemente, a principal porta de entrada para muitos trabalhadores de 60+ que desejam complementar a renda ou continuar economicamente ativos.
“Apesar de possibilitarem alguma forma de inserção no mercado, esses vínculos geralmente oferecem remunerações mais baixas e não garantem direitos trabalhistas fundamentais”, disse.
Para a analista do IBGE Denise Guichard Freire, o aumento reflete uma melhora do mercado de trabalho e também as mudanças nas regras da Previdência: “Certamente a reforma da previdência é um dos fatores que explica o aumento das pessoas de mais de 60 anos empregadas”.
A advogada trabalhista e previdenciarista Luíza Simões disse que há casos de aposentados trabalhando informalmente para não terem descontos em suas folhas de pagamento, sobretudo porque por entenderem já estarem amparados com a aposentadoria em caso de algum infortúnio.
“Muitos empregadores, por sua vez, veem vantagens em não formalizar o vínculo, evitando encargos trabalhistas, o que significa um funcionário mais barato”.
Com o trabalho informal, os dois lados correm riscos, avaliou a advogada trabalhista Julia Nogueira Loureiro.
“Para o aposentado, trabalhar sem registro significa não ter garantido nenhum direito trabalhista: férias, 13º, FGTS, horas extras, nem proteção em caso de acidente”, afirma.
“Já o empregador pode sofrer processo trabalhista e ser obrigado a pagar tudo retroativo, além de multas. Mesmo aposentado, se houver trabalho, existe vínculo trabalhista, e a justiça reconhece”, completa a advogada.
Saiba mais
Aposentados no mercado
Os aposentados que continuam trabalhando com carteira assinada têm direitos garantidos por lei como todo empregado.
O aposentado com carteira assinada continua com direito de receber 13º salário, férias remuneradas de 30 dias a cada 12 meses trabalhados e benefícios pagos pela empresa como vale-transporte, vale-refeição, vale-alimentação, entre outros.
Entenda
Informalidade
O Espírito santo tem a maioria dos trabalhadores com 60 anos ou mais que atuam na informalidade.
No terceiro trimestre deste ano, havia 109 mil pessoas de 60 anos ou mais ocupadas em situação de informalidade, o que corresponde a uma taxa de 60%. No segundo trimestre, eram 98 mil na informalidade.
Nesse mesmo trimestre, no Brasil, eram 8,750 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade ocupadas, sendo 4,681 milhões em situação de informalidade (53,5%).
Dados
Trimestre - número
3º trimestre de 2025 - 109 mil.
2º trimestre de 2025 - 98 mil.
1º trimestre de 2025 - 92 mil.
4º trimestre de 2024 - 92 mil.
1º trimestre de 2024 - 88 mil.
4º trimestre de 2023 - 83 mil.
1º trimestre de 2023 - 85 mil.
4º trimestre de 2022 - 88 mil.
2º trimestre de 2022 - 95 mil.
1º trimestre de 2020 - 80 mil.
4º trimestre de 2019 - 85 mil.
1º trimestre de 2019 - 81 mil.
Estudo
Um estudo do FGV Ibre mostrou que os vínculos informais têm se mostrado, frequentemente, a principal porta de entrada para muitos trabalhadores de 60+ que desejam complementar a renda ou continuar economicamente ativos. Apesar de possibilitarem alguma forma de inserção no mercado, esses vínculos geralmente oferecem remunerações mais baixas e não garantem direitos trabalhistas fundamentais.
Essa condição fragiliza ainda mais a posição dos idosos no mercado de trabalho, especialmente daqueles com menor escolaridade ou com acesso restrito a oportunidades formais de emprego.
Formalidade
Na trabalho formal, o Estado tinha 72 mil trabalhadores com 60 anos ou mais no terceiro trimestre deste ano. No 2º trimestre e no 1º trimestre deste ano, havia chegado a 81 mil e a 80 mil pessoas de 60 anos ou mais ocupadas em trabalhos formais, respectivamente. No 1º trimestre de 2019, era de 52 mil.
No País, também no terceiro trimestre de 2025, havia 8,750 milhões pessoas de 60 anos ou mais ocupadas, sendo 4,069 em trabalhos formais. No 2º trimestre deste ano, era de 8,633 milhões, com 4,031 em trabalhos formais.
Lei poderia incentivar formalização
Especialistas avaliam uma mudança na legislação para isentar profissionais aposentados que seguem trabalhando de contribuir com o INSS, por exemplo, poderia incentivar a formalização.
Para a advogada trabalhista Julia Nogueira Loureiro, muitos aposentados deixam de aceitar registro justamente por causa dos descontos.
“Se a contribuição fosse revista, isso poderia incentivar a formalização. Mas não é uma questão simples: qualquer isenção total de INSS para aposentado que trabalha teria impacto nas contas da Previdência. O caminho mais responsável seria discutir uma redução de alíquota ou um modelo mais justo de contribuição”.
A advogada previdenciária e trabalhista Patrícia Diogo reforçou que a mudança ajudaria.
“Existem muitos casos de aposentados que continuam trabalhando na informalidade. A prática é comum e, muitas vezes, motivada pela necessidade de complementar a renda, sendo que evita novos descontos de contribuição previdenciária, embora isso implique em perda de direitos trabalhistas”.
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