Entenda como agem os antídotos contra intoxicação por metanol
Medicamentos impedem a formação dessa substância e permitem que o corpo elimine o metanol de forma menos prejudicial

O etanol e o fomepizol são os dois antídotos usados para casos de intoxicação por metanol, álcool que se transforma em ácido fórmico quando ingerido, sendo muito tóxico para o organismo humano. Ambos os medicamentos impedem a formação dessa substância e permitem que o corpo elimine o metanol de forma menos prejudicial.
O etanol, disponível no Brasil, bloqueia o caminho pelo qual o metanol se transforma em ácido fórmico, mas provoca embriaguez como efeito colateral. Já o fomepizol, ainda não comercializado no país, faz o mesmo, mas com menor risco de efeitos adversos.
Tontura, moleza, sonolência e sensação de relaxamento estão entre os primeiros sintomas da intoxicação por metanol, semelhantes à ressaca. Também podem aparecer insuficiência respiratória, náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, taquicardia, queda da pressão e ataxia, que compromete equilíbrio e coordenação. Entre seis e 24 horas após o consumo da bebida, a visão pode ficar turva, sensível à luz, com pupilas dilatadas e perda da percepção de cores, segundo a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.
O Ministério da Saúde afirmou nesta sexta-feira (3) que cinco estados e o Distrito Federal fizeram 113 notificações de suposta intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica. São 11 casos confirmados em laboratório e 102 em investigação. Os números incluem uma morte em São Paulo confirmada por intoxicação, além de outras onze em análise.
Álvaro Pulchinelli, médico toxicologista e diretor técnico da Toxicologia Pardini do Grupo Fleury, explica que em casos de intoxicação por metanol, os antídotos etanol e fomepizol bloqueiam a transformação do metanol em ácido fórmico, substância altamente tóxica para o organismo.
"Os efeitos colaterais do fomepizol, como náusea, tontura ou dor de cabeça, são mais leves e bem tolerados, o que ajuda o paciente a se recuperar de forma mais rápida e segura durante a eliminação do metanol", afirma Pulchinelli.
Os antídotos são administrados apenas em ambiente hospitalar por via oral ou intravenosa e, segundo Pulchinelli, esses medicamentos deveriam ser mantidos em estoque para emergências, como forma de prevenção.
"É como ter um extintor de incêndio: você espera nunca precisar usar, mas, em caso de tragédia, é essencial que esteja disponível", diz.
O fomepizol não possui registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), condição obrigatória para oferta no Brasil. De acordo com o Ciatox de Campinas, referência no diagnóstico e tratamento de intoxicações, o medicamento bloqueia a transformação do metanol em outros compostos tóxicos no corpo e é mais fácil de administrar que o etanol farmacêutico.
Em entrevista coletiva concedida na quinta-feira (2) em Brasília, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o governo tentará importar fomepizol. A Anvisa anunciou que para isso vai publicar um edital de chamamento internacional para identificar fabricantes e distribuidores do produto.
LIMITES LEGAIS DE METANOL EM BEBIDAS ALCOÓLICAS NO BRASIL
Segundo o CFQ (Conselho Federal de Química), instrução normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária diz que a concentração máxima de metanol em bebidas destiladas não deve ultrapassar 20 mg por 100 mL de álcool anidro. Mas há exceções: no arak e no rum, o limite é de até 200 mg/100 mL, e na aguardente de fruta, chega a 400 mg/100 mL devido à composição natural da matéria-prima. O uísque, por ser feito de cereais, segue o limite geral de 20 mg/100 mL.
Nos vinhos, apenas produtos aprovados em análise laboratorial podem ser comercializados. O metanol se forma naturalmente durante a fermentação da uva, especialmente a partir da degradação de pectinas. Os padrões de identidade e qualidade definem limites específicos: até 400 mg/L para vinhos tintos e até 300 mg/L para brancos e rosados, garantindo que a bebida mantenha suas características sensoriais sem representar risco ao consumidor.
Na cerveja, obtida pela fermentação de cereais maltados, a formação de metanol é mínima, mas também sujeita a controle. Mesmo em concentrações muito inferiores às encontradas em destilados e vinhos, a legislação brasileira exige que o produto final esteja livre de contaminantes acima dos limites seguros, conforme as normas do Ministério da Agricultura.
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