Recife se mobiliza contra Blindagem e Anistia e se junta a mais de 20 capitais
Os atos não garantem a derrota da PEC e da Anistia, mas mudam o clima político. Somente na capital pernambucana, participaram 50 mil pessoas
Matéria atualizada às 23h50

O Recife saiu às ruas na tarde deste domingo (21) em protestos contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem e o Projeto de Lei da Anistia, enquanto atos semelhantes acontecem ou aconteceram em mais de 20 capitais brasileiras e em mais de 30 cidades, configurando a maior mobilização nacional até agora contra os dois textos em tramitação no Congresso.
Convocados por partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais, os protestos levaram às ruas palavras de ordem como “Congresso inimigo do povo”, “Sem anistia” e “Não à PEC da Bandidagem”. Segundo estimativas do Partido dos Trabalhadores, um dos organizadores do evento, 50 mil pessoas foram às ruas na capital pernambucana. A PM não fez estimativas ao ser procurado pelo Tribuna Online PE.
No Recife, os atos começaram a partir das 14h na Rua da Aurora, no Centro, às margens do Rio Capibaribe e terminaram no Marco Zero, no bairro do Recife, com a presença de várias lideranças políticas, como os senadores Humberto Costa (PT) e Teresa Leitão (PT), os deputados federais Túlio Gadelha (Rede), Renildo Calheiros (PCdoB), as deputadas estaduais Rosa Amorim (PT) e Dani Portela (PSOL), o deputado João Paulo (PT), a vereadora Liana Cirne (PT), entre outros.
Mais cedo, o prefeito do Recife e presidente nacional do PSB, João Campos, posicionou-se nas redes sociais sobre a PEC da Blindagem e da Anistia.
O PSB nacilonal também soltou uma nota pública sobre o tema, reafirmando sua posição contrária à concessão de anistia aos responsáveis pelos ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. A sigla classificou o episódio como um “atentado planejado contra as instituições e contra o futuro do Brasil” e defendeu que não há espaço para impunidade.
O PSB argumenta que anistiar os envolvidos significaria “premiar criminosos e fragilizar o Estado Democrático de Direito”. O texto também critica as tentativas de transformar os golpistas em vítimas ou heróis, chamando essa narrativa de uma “afronta ao povo brasileiro”.
A governadora Raquel Lyra (PSD), por sua vez, não se posicionou nas redes sobre as manifestações, mas disse na última sexta-feira que a PEC "não dialoga com o sentimento do povo brasileiro nem com o meu".
Humberto Costa publicou no Instagram vídeos de diversos protestos realizados pelo Brasil neste domingo, incluindo no Recife, e também se posicionou: "Pernambuco nunca faltou ao Brasil. A gente se levanta sempre pra defender o país. O Recife gigante contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia", disse o parlamentar.
Veja imagens da capital pernambucana abaixo.
Bloco "Eu acho é pouco" foi um dos puxadores do protesto na capital pernambucana
Onde ocorreram os atos?
Em várias capitais, os manifestantes se concentraram em pontos centrais e marcharam em direção a sedes do poder público. Em Brasília, o protesto saiu do Museu da República e seguiu até a frente do Congresso Nacional, reunindo milhares de pessoas.
Em São Paulo, a concentração foi na Avenida Paulista, em frente ao Masp, com faixas e cartazes contra a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
No Rio de Janeiro, manifestantes ocuparam Copacabana. O evento contou com nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Marina Sena, Ivan Lins, Maria Gadú, Paulinho da Viola e Lenine.
Também houve protestos em Belo Horizonte, Belém, Manaus, Natal, João Pessoa, São Luís e em outras capitais. Em Campo Grande, cerca de 150 pessoas levaram cartazes com os dizeres “Congresso inimigo do povo” e “Sem anistia”.
Na Bahia, em Salvador, em frente ao Cristo da Barra, foi realizado uma das maiores manifestações do país, com a presença de cantores e celebridades. A presença do ator Wagner Moura, que fez questão de falar sobre a força da democracia brasileira, animou ainda mais os participantes.
No Espírito Santo, as manifestações também estão ocorrendendo nesta tarde, iniciando na frente da Assembleia Legislativa e com a presença de 8 mil pessoas. O governador Renato Casagrande (PSB) se posicionou.
https://publish.twitter.com/?url=https://twitter.com/Casagrande_ES/status/1969791008163443157#
Por que protestam?
Os manifestantes se opõem à PEC da Blindagem, que dificulta a abertura de processos criminais contra parlamentares, restabelece parcialmente o foro privilegiado e exige autorização das Casas legislativas para investigações.
Além disso, os atos também rejeitam o Projeto de Lei da Anistia, que prevê perdão ou redução de penas para condenados pelos atos antidemocráticos de janeiro de 2023. Para os organizadores, a medida representa um retrocesso na responsabilização dos envolvidos em ataques à democracia.
Relação com o Congresso
A PEC da Blindagem foi aprovada com larga maioria em dois turnos na Câmara dos Deputados. O argumento dos defensores é que ela corrige supostos “excessos” do Judiciário. Mas, para críticos, o texto é um salvo-conduto que dificulta a punição de crimes cometidos por parlamentares.
Na prática, a pressão das ruas amplia o desgaste político da proposta. Deputados que votaram a favor começaram a justificar publicamente seus votos e até a pedir desculpas. O episódio mostra que o custo político da medida pode crescer à medida que a mobilização popular ganha força.
Cenário no Senado
A PEC agora tramita no Senado, onde o relator Alessandro Vieira (MDB-SE) já anunciou que apresentará relatório pela rejeição. A previsão é que o parecer seja discutido na Comissão de Constituição e Justiça na próxima quarta-feira (24).
Se o texto for derrotado na CCJ, pode não chegar ao plenário. Caso avance, os atos deste domingo ainda servirão como pressão direta sobre os senadores. Lideranças como João Campos (PSB), prefeito do Recife e presidente nacional do partido, já declararam publicamente que vão orientar posição contrária na Casa.
Protestos enfraquecem a PEC?
A mobilização nacional de 21 de setembro representa, até agora, o movimento mais expressivo contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia. Ela enfraquece politicamente a proposta ao tornar evidente a rejeição popular e ao colocar senadores sob maior escrutínio público.
Ainda assim, a força da articulação política que aprovou o texto na Câmara — com apoio de partidos do Centrão e aliados — não pode ser desprezada. O grupo pode tentar replicar no Senado a mesma estratégia de pressão e negociação nos bastidores.
Os atos não garantem a derrota da PEC, mas mudam o clima político. Eles colocam em xeque a legitimidade do projeto, aumentam o risco de desgaste para os parlamentares que o defendem e criam terreno mais fértil para que o Senado rejeite a proposta já na comissão.
Comentários