Café mais caro do Brasil é produzido em Domingos Martins
O Café Jacu, que custa cerca de R$ 1.600 o quilo, registrou um aumento de 20% nas vendas no País, na Europa, Ásia e EUA

O Café Jacu, produzido na Região Serrana do Espírito Santo e considerado o mais caro do País –cerca de R$ 1.600 o quilo – registrou aumento de 20% nas vendas em 2025 em comparação a 2024. Esse crescimento inclui Brasil, Europa, Ásia e Estados Unidos.
O resultado contrasta com a retração do consumo em boa parte dos lares brasileiros, pressionados pelo encarecimento do grão e pelo “tarifaço” americano, que dobrou o preço do café convencional nos Estados Unidos neste ano.
Produzido na Fazenda Camocim, em Domingos Martins, o Jacu Coffee tem um processo incomum: os grãos são coletados das fezes do jacu, ave nativa da Mata Atlântica. De baixo teor de cafeína e classificado como café especial, o produto é reconhecido internacionalmente como uma bebida exótica e de alto valor agregado.
Sem revelar a produção anual, o cafeicultor Henrique Sloper, responsável pela plantação, diz que o preço elevado está ligado ao processo artesanal. A preparação exige trabalho manual desde a coleta dos resíduos do pássaro até a limpeza e o beneficiamento dos grãos.
“A alta do preço provavelmente afetou o consumo do café normal, desses que compramos no supermercado. Não coloco esse café em competição. É exótico, como tantos outros no mundo. Se calculasse o custo, provavelmente deixaria de produzir. Mantenho no portfólio porque ele me permite mostrar o que acontece numa propriedade que adota a agricultura regenerativa, que acredito ser o futuro do café”, explica.
Além do valor de mercado, o jacu é tratado como aliado da fazenda. A ave, que já esteve sob risco de extinção, passou a ser vista como “parceira” desde 2018, quando Henrique registrou bandos comendo frutos de café maduros na lavoura.
Inspirado no café Kopi Luwak, produzido na Indonésia com auxílio do mamífero civeta, o produtor decidiu desenvolver uma versão brasileira.
“O café Kopi Luwak chega a custar US$ 3.000 (R$ 16.320) o quilo. O jacu tem três funções: é alarme de colheita, porque só aparece onde o café já está maduro; é selecionador, porque escolhe grãos grandes e perfeitos; e é plantador de árvores frutíferas, já que consome diversas frutas e espalha sementes”.

“É um produto exótico, raro e com processo artesanal único”
Henrique Sloper, carioca e ex-surfista profissional, é cafeicultor e pioneiro na produção do Café Jacu na Fazenda Camocim, em Domingos Martins. A experiência com o surfe, diz ele, aproximou-o da natureza e influenciou a adoção de práticas de agricultura regenerativa em sua propriedade.
A Tribuna - Como o Café Jacu conseguiu crescer 20% em vendas em um momento de retração no consumo?
Henrique Sloper - O consumidor que procura esse café não está atrás de preço, mas de experiência. É um produto exótico, raro e com processo artesanal único. Mesmo em tempos difíceis, o interesse por novidades de alto valor agregado se mantém.
O tarifaço americano dobrou o preço do café convencional nos EUA. Isso afetou o seu negócio?
Não diretamente. O Jacu Coffee já é considerado um produto de nicho e, por isso, não compete com o café convencional. Mas o tarifaço chama atenção para um ponto: como decisões políticas e econômicas podem interferir na cadeia global do café.
O senhor costuma dizer que nunca fez as contas do custo de produção do Café Jacu. Por quê?
Porque, se eu fizesse, talvez desistisse. É um trabalho manual, demorado e caro, que vai da coleta das fezes do jacu à limpeza e ao beneficiamento do grão. Mantenho o café no portfólio porque ele me permite mostrar o que acontece numa propriedade que adota a agricultura regenerativa.
O senhor já foi surfista profissional. Essa experiência influencia o trabalho no campo?
Sim. O surfe me ensinou a respeitar a natureza e a entender que o ser humano precisa se adaptar ao ambiente, não o contrário. Essa visão me levou a acreditar na agricultura regenerativa como futuro do café.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários