Disputa pelo mercado: carros elétricos são vendidos com valor abaixo do custo
Especialista contou que venda deve crescer nos próximos anos

Carros elétricos têm sido vendidos com preços abaixo do valor do custo de produção no Brasil, e o motivo é a disputa pelo mercado, diz a especialista em carros elétricos e engenheira eletricista Aline Gonçalves Santos.
Ela destacou que a situação pode ficar insustentável para as marcas. “A princípio, é interessante para o consumidor, mas, no longo prazo, poderá afetar a rentabilidade das montadoras e até provocar o fechamento de lojas”, afirmou.
Apesar disso, a especialista contou que a venda de carros elétricos deve crescer nos próximos anos.
“Deve crescer e ser implementada em novas tecnologias de eletrificados, como células a combustível de etanol, MS-SOFC (Metal Supported Solid Oxide Fuel Cell — célula a combustível usada para gerar eletricidade), FCEVs (Fuel Cell Electric Vehicles — veículos que usam células a combustível para gerar eletricidade), entre outras”.
Quanto aos elétricos populares, há uma tendência de redução de preços considerando o surgimento e expansão de empresas, o crescimento e a disponibilidade de dispositivos periféricos e powertrain, assim como novas tecnologias de bateria de tração, explicou Aline.
Cada montadora tem uma estratégia de conquista de mercado, especialmente as chinesas, que encontraram no Brasil um ambiente propício de expansão internacional e de escoamento, segundo José Francisco Costa, diretor-executivo do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado (Sincodives).
“Toda estratégia planejada tem expectativa de prosperar, mas existem riscos, não só para as montadoras e marcas, mas também para sua rede de representação e consumidores”, contou.
O economista José Márcio de Barros avalia que a concorrência dos chineses tem segurado o preço dos produzidos no Brasil. “Isso já tem sido benéfico para o brasileiro, ao ter acesso a modelos mais avançados tecnologicamente”.
O vice-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) Thiago Sugahara disse que nos últimos anos a oferta de veículos eletrificados cresceu no Brasil com a chegada de novas montadoras que passaram a oferecer, de forma inédita, veículos híbridos e elétricos cada vez mais acessíveis.
“Na prática, já enxergamos uma equivalência de preços entre elétricos e carros a combustão deixando para o cliente a decisão de qual o melhor para o dia a dia”.
Sugahara disse que a infraestrutura de recarga em rodovias com carregadores rápidos (que carrega 80% em 30 minutos) ainda não atingiu todo o seu potencial.
“Fim do motorista” pode vir por aí
Pelas ruas de Los Angeles, nos Estados Unidos, carros autônomos, sem motoristas, já circulam como táxis, transportando passageiros. A Waymo, empresa do Google, expandiu seu serviço de robotáxis para a cidade, além de já operar em São Francisco e Phoenix.
Na China, em Wuhan e Pequim, a Baidu, conhecida como o “Google chinês”, oferece o serviço de robotáxis Apollo Go, e planeja expandir para mais de 100 cidades até 2030. Essas novidades sinalizam que o carro autônomo será o ápice de um futuro que já começa a ser desenhado, mas que ainda levará tempo até ser atingido plenamente.
“Com carros cada vez mais conectados, a tendência, no futuro muito próximo, é essa evolução na autonomia aumentar muito, até a etapa de não termos mais condutores nos veículos”, avalia Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras instaladas no Brasil.
Os primeiros passos dessa mudança já estão sendo dados velozmente, com carros cada vez mais recheados de tecnologia, conectados e movidos por eletricidade, na busca pela redução das emissões de carbono, segundo Calvet.
Um novo sistema para carros elétricos que permitirá que as baterias sejam carregadas quase tão rapidamente quanto um carro comum leva para reabastecer. É o que promete a chinesa BYD, que lançou o sistema que permite o carregamento da bateria em apenas 5 minutos.
Recarga feita em 5 minutos
O novo sistema de bateria e carregamento da BYD foi capaz de fornecer uma autonomia de 470 quilômetros (292 milhas) em cinco minutos em testes com seu novo sedã Han L, disse o CEO e fundador da montadora, Wang Chuanfu, no início do ano.
Apresentado no mercado internacional em meados de março, o sistema super rápido de recarga da BYD já está confirmado para o Brasil. Projetado a partir da Super e-Platform, o dispositivo visa reduzir drasticamente o tempo de carregamento dos veículos elétricos.
A empresa ainda não confirmou quando exatamente a tecnologia fará sua estreia, mas adiantou que o Brasil será o primeiro país das Américas a ter o sistema.
No total, a Super e-Platform garante potência de carregamento de 1 megawatt (ou 1.000 kW) e entrega velocidade de carregamento máxima de 2 km por segundo.
Mercado de carros elétricos
Limitação para recarga
Comparação com carros a combustão
> Atualmente, o carro elétrico mais barato no Brasil parte de R$ 100 mil, e o carro a combustão mais acessível custa cerca de R$ 70 mil.
Limitação para recarga em rodovias
> A infraestrutura de recarga em rodovias com carregadores rápidos limita as viagens mais longas com carros elétricos.
Redução de custos com combustível
> Além do silêncio e do fim das emissões, o carro elétrico reduz entre 50% e 80% os gastos com combustível equivalente.
Opção para distâncias mais curtas
> Os elétricos são a melhor opção para percorrer 200km a 300km por dia se possui um carregador na residência, por exemplo.
Desafios com sustentabilidade
> É um tema complexo, pois envolve desde a produção das baterias até a geração da energia utilizada para carregá-los.
ANÁLISE
“Mercado otimista para próximos anos” - José Geraldo da Cunha, diretor do Sincodives e diretor do Grupo Podium
“O mercado e a indústria brasileira seguirão otimistas para os próximos anos. Haverá crescimento da produção e da venda de veículos zero quilômetro, como é o caso da Fiat. O próprio Espírito Santo tem estimativas acima de média nacional.
Para esse ano, a projeção é de crescimento de 8%, comparado ao ano passado, e no ano que vem terá crescimento de 10%.
Em alguns casos, os preços médios se manterão em alta, em outros haverá sim aumento de preços, impulsionados por situações de veículos com mais tecnologia.
Com a grande entrada de veículos elétricos no Brasil, como é o caso da BYD, algumas marcas vão perder mercado, enquanto outras vão ganhar. Mas é dessa forma que o mercado sempre funcionou, e não seria diferente agora”.
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