Voluntários levam escuta, cuidado e esperança a hospitais do ES
Eles chegam sem crachá de médico ou enfermeiro, mas com o coração disposto a ouvir e doar tempo a quem mais precisa
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Eles podem até não vestir jaleco branco, mas são capazes de transformar vidas com gestos simples. Nos hospitais do Espírito Santo, há quem chegue sem crachá de médico ou enfermeiro, mas com o coração disposto a ouvir, amparar e doar tempo a quem mais precisa. São voluntários que carregam em cada visita histórias de cuidado, escuta e esperança.
Em Cachoeiro de Itapemirim, um dos nomes mais conhecidos desse movimento é o de Jandyra Rodrigues Pinheiro, a Dona Jandyra, de 88 anos. Considerada símbolo de dedicação, ela atua como voluntária desde a fundação do Hospital Infantil Francisco de Assis (Hifa), em 1971, e se tornou uma das figuras mais importantes da história da saúde no Sul do Estado. Por 35 anos, ocupou, sem remuneração, o cargo de diretora da instituição, deixando um legado marcado pelo compromisso com o próximo.
“Servir, para mim, é missão de vida. A solidariedade deve existir em cada coração. Ser solidário é realmente contribuir para um mundo mais justo e mais feliz. Sinto-me muito bem de participar de uma época que deixou um legado que permanece até hoje”, afirma.
O vínculo com o hospital começou ainda na adolescência. Aos 16 anos, ela e outros 30 jovens da Mocidade Espírita Jerônimo Ribeiro sonhavam com a criação de um espaço para atender crianças doentes em Cachoeiro. Além das orações, o grupo realizava ações sociais para apoiar famílias em situação de vulnerabilidade.
Um dos integrantes, sensibilizado com a causa, pediu ao pai que doasse um terreno para a construção do hospital. O pedido foi atendido, e a área doada permanece até hoje como sede do Hifa. As obras duraram 15 anos até a conclusão e foram viabilizadas por doações.
Esses gestos de solidariedade também acontecem em outras localidades. Em Guarapari, a leveza vem pela arte da palhaçaria. O grupo Cheios da Graça atua no hospital da cidade e no setor de Oncohematologia do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória.
De Cariacica, outra iniciativa conquista o coração de pacientes, especialmente das crianças: os Super Amigos Solidários. Vestidos como personagens icônicos dos quadrinhos, como Batman, Homem-Aranha, Super-Homem, Capitão América e Flash, os voluntários visitam hospitais da Grande Vitória levando alegria a quem enfrenta o tratamento contra o câncer.
Palhaços apostam na alegria e solidariedade
Criado em 2016, em Guarapari, o grupo Cheios da Graça nasceu com a missão de levar leveza, acolhimento e alegria por meio da palhaçaria hospitalar. O projeto, que começou de forma modesta, com atuação apenas na cidade, ganhou força e hoje reúne 12 voluntários de diferentes regiões.
As visitas acontecem regularmente no Hospital de Guarapari e no setor de Oncohematologia do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória.
“Éramos poucos, mas palhaços cheios de vontade. Agora temos um grupo estruturado”, afirma Cezar Junior, um dos integrantes da equipe, ao lado de Marcela Gomes, coordenadora do projeto.
O projeto é mantido pela solidariedade da comunidade e pelo comprometimento dos voluntários. Além das visitas hospitalares, o grupo expandiu sua atuação e hoje desenvolve ações sociais que impactam comunidades e pessoas em situação de vulnerabilidade.
Entre as ações estão a confecção e doação de toucas para crianças em tratamento oncológico, e cueiros, mantas e roupas para recém-nascidos. Também integram o trabalho campanhas de arrecadação de alimentos para famílias em situação de fome e a iniciativa Força na Peruca, que estimula a doação de cabelos para a confecção de perucas.
Super-heróis contra o câncer
Eles vestem capas, máscaras e armaduras, mas o maior poder está no coração. Inspirados nos heróis dos quadrinhos, os voluntários do grupo Super Amigos Solidários enfrentam uma batalha real: levar força, alegria e esperança a crianças em tratamento contra o câncer.
Desde 2016, personagens como Batman, Homem-Aranha, Super-Homem, Capitão América e Flash percorrem hospitais da Grande Vitória para transformar a angústia da internação em momentos de leveza e fantasia, provando que, quando o inimigo é o câncer infantil, todo gesto de amor se torna um verdadeiro ato heroico.
“Desde 2011, eu e alguns amigos fazíamos festas no Dia das Crianças no educandário Alzira Bley, instituição que cuidava de crianças carentes no bairro Pica-pau, em Nova Rosa da Penha, Cariacica. Em 2016, decidi me vestir de Batman e criar um grupo de super-heróis. Estamos há oito anos visitando crianças hospitalizadas”, conta o professor de educação física Marcelo Miranda, 50, idealizador do projeto.
Natural de Cariacica, o grupo já teve diversas formações, sempre com a participação de amigos de Marcelo e de estudantes voluntários. As ações incluem visitas a diferentes instituições, mas o foco principal são as crianças em tratamento oncológico no Hospital Estadual Infantil Milena Gottardi, em Vitória.
Este ano, além das visitas nas instituições hospitalares, os Super Amigos decidiram divulgar o projeto durante o Carnaval em Guarapari.
“Ajudar o próximo é uma missão de vida”
A tribuna — O que motivou a senhora a se dedicar ao voluntariado desde tão jovem?
Dona Jandyra — Ajudar o próximo é uma missão de vida. Quando jovem, vi muitas crianças sem acesso a cuidados médicos e isso me tocou profundamente. Quis fazer a diferença, mesmo que com pequenas ações.
O que o voluntariado representa para a senhora hoje?
É um compromisso que levo no coração. Voluntariado é solidariedade em ação, é dar tempo, amor e esperança sem esperar nada em troca. É transformar vidas, inclusive a minha.
Qual o maior desafio de atuar como voluntária na área da saúde?
O desafio maior é manter a esperança viva, tanto para quem recebe quanto para quem oferece ajuda. Nem sempre temos recursos, nem todas as situações são fáceis, mas o amor pelo próximo nunca pode faltar.
Que conselho a senhora daria para quem deseja começar a ser voluntário?
Comece com o que puder. Cada gesto conta. Escute, esteja presente, ofereça tempo e dedicação. O mundo precisa de mais solidariedade e cada um pode fazer a diferença na vida de alguém.
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