Capitão revela os bastidores da vida no mar
Guilherme dos Santos Ribeiro revelou os bastidores da vida em alto-mar e deu detalhes sobre o trabalho realizado
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Imagine acordar e ter apenas água à sua volta? Esse é o visual vislumbrado ao longo de dias por aqueles que trabalham com a segurança marítima.
Ao jornal A Tribuna, o Capitão de Fragata Guilherme dos Santos Ribeiro, que comanda o Navio-Patrulha Ocêanico (NPaOc) “Apa” (P121), revelou sobre os bastidores da vida em alto-mar e deu detalhes sobre o trabalho realizado.
A conversa aconteceu durante uma visita gratuita à embarcação no Porto de Vitória no último domingo, atividade que chamou a atenção da população e formou grande fila. Segundo ele, para o “navio caminhar junto e caminhar bem”, o profissionalismo e o companheirismo são fundamentais.
“O homem do mar, na marinha ou pescador, têm essa camaradagem entre si. É uma família naval. Nós passamos muito mais dias aqui do que em nossa casa. Então, a gente tem que ter aquele ombro amigo, de ajudar o outro quando está em um momento de necessidade”.
Cada missão tem um tempo de duração específico. Quando precisaram atuar no Golfo da Guiné, na costa ocidental de África, por exemplo, foi um período de mais de dois meses.
O “Apa” é um navio que foi incorporado à Marinha do Brasil em 2012, sendo projetado e construído para atender as necessidades de fiscalização de extensas áreas marítimas.
Entre as atividades realizadas estão patrulha naval e inspeção naval; operações de socorro e de salvamento; apoio logístico a instalações existentes nas ilhas oceânicas e a pesquisas científicas; e ainda combate a todos os tipos de ilícitos no mar, como o tráfico internacional de drogas e a pirataria.
“Nossa missão principal é fazer patrulha naval na Amazônia Azul, que é o nosso território marítimo. A nossa área abrange Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”. Eventualmente o navio vai para o exterior para fazer missões humanitárias, missões contra a pirataria, missões diversas, até para ter um intercâmbio com outras marinhas”, disse Guilherme.
“O navio é uma cidade ambulante”
A Tribuna — O navio é composto por quais profissionais?
Guilherme Dos Santos — O navio comporta 81 militares, entre oficiais e praças. Oficiais trabalham nas áreas de armamento, eletrônica, comunicações e armas como um todo. E entre os praças estão eletricistas, motores, artilheiros de armamento, cozinheiros, entre outros profissionais.
O navio é uma cidade ambulante. Aqui a gente produz energia, água potável, a gente faz refeições à bordo, produz pão — tem uma padaria a bordo. Demanda várias profissões trabalhando em conjunto e sinergia para isso rodar.
Como é a rotina?
A gente começa em média às seis da manhã e vai até as 22 horas. Temos treinamentos, palestras, reuniões e avaliação do que fizemos.
Pela manhã, a rotina costuma ser mais pesada. À tarde, a gente avalia o que fez de manhã e refaz algumas coisas. Já à noite, costumamos ter um exercício específico. Quando não tem, fazemos uma confraternização.
Qual é o maior desafio em uma missão?
Cada missão tem o seu desafio principal. Por exemplo, em uma missão de patrulha, é atenção total às pequenas embarcações que estão cometendo algum delito. O desafio maior que a gente tem também é estar sempre pronto.
O navio tem um lema que é “So Prepared!”. Então, o que tiver demandado para nós, a gente vai estar pronto.
O clima é algo que deixa vocês em alerta?
Fazemos diariamente monitoramento meteorológico, nossos sistemas da Marinha por terra também nos fornecem dados para sabermos das condições meteorológicas. O mar é soberano. Não conseguimos enfrentar a força dele.
A não ser se for para salvar uma vida, caso sejamos acionados para isso. Mas conseguimos navegar nas águas sempre mais seguras para o navio e também para fazer a nossa missão.
O que é mais satisfatório em trabalhar em um navio?
Estar no mar é muito bom. Ele é gigantesco e surpreendente. Mas mais que isso, o sentimento de camaradagem que tem entre a equipe.
Esse sentimento de união, de família, de paternidade, é o que realmente me faz sentir falta de estar no mar quando estou em terra.
Tem como compartilhar a história de alguma missão? No exterior, por exemplo?
No ano passado, a gente atuou na comissão Guinex, no Golfo da Guiné, no oeste africano, para ajudar as marinhas de lá a combaterem a pirataria e a crise no mar deles, desde tráfico até contrabando.
Operamos com marinhas de mais de 25 países.
O mar livre de piratas, livre de atos ilícitos, é um mais seguro para o mundo. Se o mar está com perigo, o frete é mais caro. Todo comércio do exterior, praticamente de todo mundo, é pelo mar. Então, se ele está limpo e seguro, é melhor para o nosso Brasil.
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