Bebê que sofreu 24 paradas cardíacas receba alta no ES
Considerado morto em determinado momento, ele deixou o hospital sem apresentar qualquer sequela
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O pequeno Enrico Doriquetto, de apenas 1 ano e 2 meses, recebeu alta nesta terça-feira (22) após viver uma história impressionante de sobrevivência. Internado por 18 dias no Hospital Unimed de Vitória, o bebê enfrentou duas cirurgias, duas crises convulsivas e sobreviveu a 24 paradas cardíacas. Considerado morto em determinado momento, ele deixou o hospital sem apresentar qualquer sequela. Para o pai, o nutricionista Evandro Doriquetto, de 38 anos, a recuperação do filho desafia qualquer explicação médica.
“A ciência pode não chamar de milagre, mas eu chamo” — disse. “A história do Enrico daria um filme”.
Enrico nasceu com duas cardiopatias congênitas: Comunicação Interatrial (CIA) e Comunicação Interventricular (CIV), defeitos no coração que exigem correção cirúrgica antes dos dois anos de idade. A cirurgia foi realizada no último dia 4, sem intercorrências.
“No início, tudo correu bem. Havia o risco de ele precisar de um marca-passo, mas a cirurgia foi tranquila e isso acabou não sendo necessário”, relatou o pai.
Até o domingo, dia 6, a recuperação seguia dentro do esperado. Enrico estava acordado, se alimentando bem e, segundo os médicos, havia chances de receber alta na semana seguinte. No entanto, o quadro mudou de forma repentina naquela tarde.
“Naquele domingo, passei a manhã com ele no hospital. Ele almoçou comigo, parecia ótimo. Mas, de repente, tudo desandou. Ele teve uma convulsão inesperada e, logo depois, veio a primeira parada cardíaca. Entre 12h40 e 15h30, foram quatro episódios. Os médicos reanimavam, ele voltava, mas logo parava de novo”.
Após os primeiros episódios, a equipe médica decidiu entubá-lo temporariamente. Uma ressonância magnética estava prevista para o dia seguinte, com o objetivo de investigar a causa das convulsões. No entanto, entre 20h e 22h daquela mesma noite, Enrico sofreu quase dez novas paradas cardíacas.
Mais uma vez, os profissionais conseguiram estabilizá-lo por algumas horas, mas a madrugada reservava novos sustos.
“Depois da meia-noite, a gente ficou acompanhando tudo pelo monitor. Foram mais dez paradas até 3h33. Eu vi tudo acontecer. A médica fez tudo o que podia. Na última parada, ele ficou cinco minutos sem batimentos. Aplicaram doses altas de adrenalina e outros medicamentos. A Eliza, minha esposa, não suportou mais ver aquilo e foi para fora da UTI”.
Evandro contou que a médica responsável foi clara ao dizer que a equipe havia chegado ao limite dos recursos disponíveis.
“Ela explicou que o corpo dele já não estava mais reagindo. Mesmo que voltasse a ter batimentos, a próxima parada viria logo em seguida. Era um ciclo sem fim, e ele não resistiria ao tanto de remédios que estava recebendo”.
Segundo ele, foi nesse momento que a família percebeu que poderia perder o bebê. Com Enrico considerado morto, os pais foram chamados para decidir os próximos passos: levar o corpo para Cachoeiro de Itapemirim, onde moram, para o sepultamento, ou autorizar a realização de uma autópsia. Eles optaram pela segunda alternativa, na tentativa de esclarecer o que havia provocado a morte súbita.
Mas o que parecia ser o fim teve um desfecho surpreendente.
Enrico teve alta médica na tarde desta terça-feira (22), mas o tão esperado retorno para casa está marcado para esta quarta-feira (23). Apesar da recuperação impressionante, o bebê ainda precisará de acompanhamento especializado.
“Ele vai precisar de alguns cuidados. Os médicos recomendaram fisioterapia por pelo menos um mês, consultas com fonoaudiólogo e a retomada da rotina de casa: brincar, se movimentar, fazer o que ele já fazia antes”.
O nutricionista conta que os médicos explicaram como longos períodos de entubação podem afetar o organismo de uma criança pequena.
“Disseram que, quando alguém fica muito tempo entubado, o corpo e a mente reagem como se tivessem sido reiniciados. Não posso dizer que ele está 100%, porque ainda está abalado, traumatizado. Mas, clinicamente, ele está ótimo”.
Emocionado, Evandro reafirma sua convicção.
“Os médicos evitam usar essa palavra, mas eu não tenho dúvidas. Isso foi um milagre”.
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