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Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Sua opinião serve a quem?

Nem toda opinião precisa ser dita: a linha tênue entre sinceridade e invasão emocional

Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna | 26/06/2025, 12:25 h | Atualizado em 26/06/2025, 12:25

Imagem ilustrativa da imagem Sua opinião serve a quem?
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária. |  Foto: Acervo Pessoal

Você já se sentiu invadido pela opinião de alguém? Aquela sensação de que o comentário veio sem convite, atravessou a fronteira do respeito e instalou um desconforto que fica ecoando por dentro. É mais comum do que parece: ouvimos julgamentos sobre a nossa forma de viver, amar, educar, trabalhar — e, muitas vezes, nem pedimos por eles.

Quando isso acontece, qual é a sua primeira reação? Algumas pessoas se encolhem, outras contra-atacam.

Há quem carregue a crítica por dias, ruminando, até que ela se transforme em dúvida sobre o próprio valor. Se essa sensação de invasão dói em nós, por que, em certos momentos, fazemos o mesmo com os outros?

Talvez a resposta esteja na confusão entre sinceridade e necessidade de afirmar o próprio ponto de vista.

A nossa percepção é fruto das nossas vivências, crenças e limites; portanto, não é verdade universal. Mesmo assim, entregamos essas impressões como se fossem diagnósticos irrefutáveis, desconsiderando se o interlocutor está preparado — ou disposto — a recebê-las. Em psicoterapia aprendemos que cada insight tem o seu tempo.

Donald Winnicott fala do ambiente de sustentação: um espaço seguro em que o indivíduo pode se sentir acolhido o bastante para entrar em contato com conteúdos dolorosos.

Fora desse “colo simbólico”, verdades lançadas sem cuidado funcionam como projéteis — e nem o terapeuta, nem o paciente, conseguem contê-los. Carl Rogers também ensina que o encontro genuíno exige escuta empática e suspensão de julgamento.

Ouvir, antes de falar, permite avaliar se o que temos a dizer contribuirá para o crescimento do outro ou se servirá apenas ao nosso alívio momentâneo.

Quando a pessoa não pediu a nossa opinião, talvez ela não precise dela — pelo menos não agora.

Isso não significa engolir tudo, silenciar emoções ou compactuar com injustiças. Significa, sim, reconhecer que comunicação é responsabilidade compartilhada. Palavras podem abrir caminhos, mas também podem criar cicatrizes.

Perguntar-se “para quem é esta fala e qual é o propósito dela?” ajuda a escolher com mais consciência o que merece ser dito.

Se você se lembrou de alguma vez em que foi invadido, observe como reagiu e que marcas ficaram.

Depois, reflita sobre quantas vezes esteve do lado de quem invade – às vezes em nome de ajudar, outras em defesa de um ego ansioso por se afirmar.

A empatia nasce nesse espelho: sentir a dor que causamos quando a dor já nos tocou. Liberdade de expressão é direito irrenunciável, mas não cancela a ética do cuidado.

Falar com responsabilidade talvez seja a forma mais profunda de liberdade, porque inclui o outro como legítimo ocupante do mesmo espaço simbólico que dividimos.

Quando a palavra respeita o tempo emocional de quem a escuta, ela deixa de ser invasão e se torna verdadeiro encontro.

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