Sua opinião serve a quem?
Nem toda opinião precisa ser dita: a linha tênue entre sinceridade e invasão emocional
Você já se sentiu invadido pela opinião de alguém? Aquela sensação de que o comentário veio sem convite, atravessou a fronteira do respeito e instalou um desconforto que fica ecoando por dentro. É mais comum do que parece: ouvimos julgamentos sobre a nossa forma de viver, amar, educar, trabalhar — e, muitas vezes, nem pedimos por eles.
Quando isso acontece, qual é a sua primeira reação? Algumas pessoas se encolhem, outras contra-atacam.
Há quem carregue a crítica por dias, ruminando, até que ela se transforme em dúvida sobre o próprio valor. Se essa sensação de invasão dói em nós, por que, em certos momentos, fazemos o mesmo com os outros?
Talvez a resposta esteja na confusão entre sinceridade e necessidade de afirmar o próprio ponto de vista.
A nossa percepção é fruto das nossas vivências, crenças e limites; portanto, não é verdade universal. Mesmo assim, entregamos essas impressões como se fossem diagnósticos irrefutáveis, desconsiderando se o interlocutor está preparado — ou disposto — a recebê-las. Em psicoterapia aprendemos que cada insight tem o seu tempo.
Donald Winnicott fala do ambiente de sustentação: um espaço seguro em que o indivíduo pode se sentir acolhido o bastante para entrar em contato com conteúdos dolorosos.
Fora desse “colo simbólico”, verdades lançadas sem cuidado funcionam como projéteis — e nem o terapeuta, nem o paciente, conseguem contê-los. Carl Rogers também ensina que o encontro genuíno exige escuta empática e suspensão de julgamento.
Ouvir, antes de falar, permite avaliar se o que temos a dizer contribuirá para o crescimento do outro ou se servirá apenas ao nosso alívio momentâneo.
Quando a pessoa não pediu a nossa opinião, talvez ela não precise dela — pelo menos não agora.
Isso não significa engolir tudo, silenciar emoções ou compactuar com injustiças. Significa, sim, reconhecer que comunicação é responsabilidade compartilhada. Palavras podem abrir caminhos, mas também podem criar cicatrizes.
Perguntar-se “para quem é esta fala e qual é o propósito dela?” ajuda a escolher com mais consciência o que merece ser dito.
Se você se lembrou de alguma vez em que foi invadido, observe como reagiu e que marcas ficaram.
Depois, reflita sobre quantas vezes esteve do lado de quem invade – às vezes em nome de ajudar, outras em defesa de um ego ansioso por se afirmar.
A empatia nasce nesse espelho: sentir a dor que causamos quando a dor já nos tocou. Liberdade de expressão é direito irrenunciável, mas não cancela a ética do cuidado.
Falar com responsabilidade talvez seja a forma mais profunda de liberdade, porque inclui o outro como legítimo ocupante do mesmo espaço simbólico que dividimos.
Quando a palavra respeita o tempo emocional de quem a escuta, ela deixa de ser invasão e se torna verdadeiro encontro.
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