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Fala Doutor

Medo de ficar sem o celular pode ser sinal de doença

Psiquiatra explica que pessoas ansiosas são mais propensas a desenvolver o problema, que tem afetado até crianças


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Imagem ilustrativa da imagem Medo de ficar sem o celular pode ser sinal de doença
Letícia Mameri disse que tipo de tratamento da nomofobia depende do grau |  Foto: Aquiles Brum

Quando foi a última vez que você saiu de casa sem o celular? Levantamento do Google mostra que 73% da população brasileira não sai de casa sem o aparelho.

É comum vê-lo presente em diversas situações do cotidiano: desde o ato de comer à mesa até mesmo no momento de ir ao banheiro. Só que ficar tão conectado pode ser sinal de nomofobia, de acordo com a psiquiatra Letícia Mameri.

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A nomofobia é o medo da desconexão, segundo explicou a médica, diretora da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes). Ela ressaltou ainda que o transtorno afeta mais crianças e adolescentes.

À convite de A Tribuna, ela esteve no TribunaLab e falou sobre o assunto. 

A Tribuna - O que é exatamente a nomofobia? Ela já foi classificada como doença?

Letícia Mameri - No CID 10 (Classificação Internacional de Doenças), que é a classificação que usamos e que está em vigor, a nomofobia ainda não está de forma específica. Mas ela faz parte do grupo das fobias, então ela não deixa de ser um transtorno fóbico, como qualquer outra fobia, como medo de barata, de elevador e de palhaço.

A nomofobia é o medo, o pavor de ficar sem o celular. A pessoa não tem razão para ficar com esse medo irracional, mas tem a sensação de não saber sobreviver sem o celular.

Existem fatores envolvidos para a pessoa ter essa fobia?

Falo sempre que para uma pessoa desenvolver um transtorno ansioso, ela tem de ter uma base ansiosa. É preciso, pelo menos, uma característica de personalidade ansiosa. Essa pessoa pode ter outra fobia ou outro problema psiquiátrico e desenvolver a nomofobia, como ela pode não ter nada e desenvolver.

Seria um transtorno ansioso?

A fobia é um tipo de transtorno ansioso. 

Quais os sinais de que o uso do celular não está saudável?

Precisamos observar: quando a pessoa fica sem o aparelho, há sofrimento? Está atrapalhando o casamento, relacionamento com os filhos e trabalho? Esses são aos maiores sinais de alerta. 

No dia a dia, antes de chegar nesse ponto, como observar?

Tente ficar sem o celular, por exemplo, quando chegar em casa ou no final de semana. Ninguém precisa mexer no celular 24 horas por dia. Coloque um limite. Vá se distrair com outra coisa.

Precisa-se avaliar o porquê e para quê se está usando o celular. Dentro disso é avaliar como diminuir o uso. Quando chegar perto de pessoas, tente ficar sem o aparelho para que você se conecte socialmente às outras pessoas. O primeiro impacto da fobia é desconexão social. 

Não gosto de radicalismo, até porque o celular está na nossa vida. A questão é avaliar o que está sendo feito no celular e o que pode não ser feito. E testar como se sente sem ele, porque quem tem nomofobia, só de pensar nessa possibilidade vai começar a se sentir mal.

Qual a diferença da nomofobia para a dependência digital?

A dependência digital pode dar até síndrome de abstinência. A nomofobia e dependência podem estar juntas, como podem estar separadas. Por exemplo, há adolescentes que têm dependência de internet. Se pensarem em ficar sem internet eles entram em pânico. A dependência não é necessariamente do celular, é de qualquer dispositivo com internet.

Como a nomofobia afeta a saúde mental?

Começa a degradar elementos principais de estrutura psíquica. A pessoa começa a diminuir o apoio social, já que não se relaciona; as relações familiares ficam fragilizadas; há prejuízo no trabalho. Tudo isso parece uma bola de neve e a pessoa pode abrir um quadro depressivo ou outro transtorno, tudo por causa desse medo que não tem explicação.

Existe um perfil específico de pessoas mais propensas a desenvolver nomofobia?

Pessoas ansiosas são mais propensas a desenvolver a nomofobia. Hoje em dia, temos visto muitas crianças e adolescentes com a fobia, mais do que os adultos. Com a pandemia eles passaram a estudar pelo celular. É importante treiná-los a ficarem sem o celular, pelo menos aos finais de semana. Crianças com quadros graves, a primeira coisa que faço é tirar o celular.

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Qual seria o tratamento para essa fobia?

Vai depender do grau, do que está associada essa nomofobia. Se for um padrão fóbico, tratamos com medicações, se já tiver sofrimento e disfunção, além das terapias, atividades físicas e alimentação. Agora, se não tiver sofrimento e nem disfunção, a terapia e a psicoeducação por si só adiantam.


PERGUNTA DA LEITORA

Como posso identificar os sinais da nomofobia e se estou me tornando dependente do celular?
Monike Caldas, 20 anos, assistente de cobrança

A nomofobia é um pouco diferente da dependência. A fobia é um medo irracional. A pessoa não tem razão nenhuma para pensar que vai ficar sem celular, mas só de pensar, ela começa a se sentir mal, pensa em comprar outro aparelho. Ela pode apresentar sudorese, taquicardia, tipo 'buraco no peito'.


Fique por dentro

O termo nomofobia vem da expressão em inglês “no mobile”, que significa sem aparelho celular. Junto ao sufixo “fobia”, o termo significa o medo ou pavor de ficar sem o telefone celular ou, por extensão, ficar desconectado. 

A nomofobia está geralmente relacionada com comorbidades secundárias de outros transtornos, principalmente os transtornos de ansiedade, tais como fobia social, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo.

Angústia, vazio existencial (a vida parece não ter mais sentido), desespero, estresse, irritabilidade, náuseas, taquicardia, sudorese, tensão muscular e pânico são alguns dos sintomas manifestados por um nomofóbico quando não está com celular.

Escutar o telefone tocar ou vibrar mesmo estando desligado (sintoma fantasma) e não conseguir ficar sem o celular são alguns dos comportamentos de quem sofre de nomofobia.

Fobia - Caracteriza-se por uma sensação de medo intensa, muitas vezes acompanhada de sintomas físicos (tremor, taquicardia e sudorese, entre outros), e que é gerada diante de algum fator ou situação não necessariamente ameaçador à vida.

Os números

73% da população brasileira não sai de casa sem o aparelho

35 milhões de pessoas no Brasil sofrem com alguma fobia, de acordo com estimativas

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