Espaços de memória, cultura e resistência negra no Centro
Entre 1824 e 1872, 40% da população da capital era de pessoas negras
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Em 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Aurea! A escravidão estava oficialmente proibida no Brasil! Em seguida, viria a Proclamação da República e o Brasil entraria em um novo processo de formação política, econômica e social. Mas, o que isso tem a ver com o centro de Vitória? Tudo!
O centro de Vitória, ao longo dos seus quase 500 anos de ocupação, foi predominantemente construído pelo povo negro. Entre 1824 e 1872, por exemplo, 40% da população da capital era formada por pessoas negras escravizadas ou alforriadas, em uma população total de cerca de 13 mil pessoas que viviam na Vila de Vitória.
Com o apogeu da era do café e o crescimento das atividades portuárias e ferroviárias no Estado, especialmente entre 1900 e 1930, Vitória cresceu e ganhou importância como cidade.
Com este crescimento, muitas histórias foram apagadas, especialmente as que resguardavam o seu passado de vila colonial. Nas palavras de Emília da Costa: “um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”.
Atualmente existem diversos pontos de cultura e resistência negra no centro de Vitória, que trabalham pelo resgate da história do povo negro e pelo fim do apagamento histórico, sendo o Museu Capixaba do Negro (Mucane), um dos mais importantes! Inaugurado em 1993 e agora em processo de restauro pela Prefeitura de Vitória, o Mucane fica na Avenida República, 121, perto do Parque Moscoso e do antigo edifício do Cine Santa Cecília, que foi transformado em prédio residencial pela prefeitura, dando lar a 35 famílias de baixa renda.
O Mucane oferece diversas atividades educativas, oficinas e exposições, além disso, ele fica num casarão de 1912 – um espetáculo à parte – e tem murais com obras executadas pelo artista capixaba Starley, um dos idealizadores do Iá Estúdio, que fica na Escadaria do Rosário, debaixo do restaurante Oca e próximo à Igreja do Rosário. O contato do Mucane é o (27) 99873-4596.
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O Iá Estúdio também é um espaço de resistência negra! É formado por um coletivo de artistas e empreendedores talentosos que contribuem muito para o centro da cidade! A turma do Iá também tem uma loja de materiais artísticos que fica abaixo do estúdio.
Tanto o estúdio quanto a loja estão passando por reformas e a turma do Iá aproveitou para grafitar na fachada do imóvel que ocupa um painel que celebra a cultura negra, tudo isso com recursos próprios. Uma demonstração da força do empreendedorismo criativo no centro de Vitória, superando a falta de investimentos públicos em cultura e arte.
Que tal um tour cultural pela Igreja do Rosário do povo preto, passando para um almoço ou café da tarde na Oca, umas comprinhas de roupas e acessórios na loja Espaço Hip Hop, uma foto bacana do mural feito pelo Iá Estúdio para dar aquela atualizada no feed (marque o @iaestudio) e uma passadinha na loja do Iá para dar uma olhada nos materiais artísticos.
Para encerrar esta coluna, dedicada às heranças vivas do povo negro, vou dar outra sugestão de tour: comece no Mucane, passando no Vila Moscoso para um cafezinho, uma foto na escadaria Maria Ortiz, onde foi a antiga ladeira do Pelourinho, uma passadinha pela Cidade Alta e um fechamento de dia com muito samba, diversidade e cultura negra no bar da Zilda, onde você vai encontrar muita animação, cerveja gelada e um delicioso bolinho de salmão, carro-chefe da dona Zilda!
Ah, e não se esqueçam, todo fevereiro tem Carnaval de rua e todo dia 27 de dezembro tem a Festa de São Benedito, com procissão, muita fé e ancestralidade!
Estes eventos anuais são grandes potências do povo negro! Organize-se com antecedência e vem para o Centro!
Fabíricio Costa é artista e empreendedor no Centro de Vitória.
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