Leis de trânsito devem ser ensinadas na sala de aula, diz especialista
Teresa Maté diz que quanto antes o cidadão aprender segurança nas vias, maior a chance de se tornar um condutor consciente

A formação para o trânsito precisa começar na infância e se estender por toda a vida. É o que defende a pedagoga e engenheira especialista em trânsito Teresa Maté, gerente de Educação de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES).
Para ela, quanto antes o cidadão aprender noções de convivência e segurança nas vias, maior a chance de se tornar um condutor consciente, reduzindo assim os índices de acidentes.
“O simples ato de ensinar uma criança a atravessar na faixa ou respeitar o sinal já é o primeiro passo. Depois, quando essa criança se torna ciclista ou condutora, já terá desenvolvido habilidades cognitivas que garantem um trânsito mais seguro”, afirmou.
As reflexões de Teresa Maté foram apresentadas durante o 1º Congresso Nacional de Educação de Trânsito (Conetran), realizado em Vitória.
O evento reuniu professores, psicólogos, médicos, gestores públicos e especialistas de todo o País para debater o papel da escola e da sociedade na formação de condutores. Além de palestras, o encontro trouxe discussões sobre humanização, empatia e até como lidar com o luto das famílias que perderam parentes em acidentes.
De acordo com Vicente Falcão, coordenador do Conetran, a realização do congresso nasce da necessidade de tratar o trânsito como tema educacional central.
“Tudo na vida passa pelo trânsito, desde o nascimento até o último dia. E nove em cada 10 traumas atendidos em hospitais públicos estão ligados a acidentes. Isso mostra o tamanho do problema”, disse.

Ele explica que a educação para o trânsito já é prevista pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como tema transversal, mas ainda pouco aplicada na prática.
Segundo Vicente, o Espírito Santo foi escolhido para sediar a primeira edição do congresso por ser referência nacional em educação de trânsito. A proposta é que o Conetran se repita em 2026, também em Vitória, antes de circular por outros estados.
“O objetivo é furar a bolha acadêmica e aproximar o tema de professores, alunos e famílias. A educação para o trânsito precisa começar em casa, no berço, e ser fortalecida na escola. É a única forma de transformar a cultura das nossas vias”, concluiu.
“Isso transforma o cidadão”, afirma Gerente de Educação do Detran-ES
A Tribuna: Por que a educação para o trânsito deve ser iniciada o quanto antes?
Teresa Maté: Todo processo de educação precisa ser sistematizado. Mas existe a questão cognitiva: o que a gente consegue aprender em determinados momentos da vida? Para os pequenos, começamos dizendo: “agora pode atravessar”, “olha o sinal” e assim por diante.
Quando cresce e começa a andar de bicicleta ou até em uma bike elétrica, por exemplo, são exigidas outras habilidades cognitivas. E quanto antes trabalharmos isso, mais segurança teremos no trânsito. A resolução 265 permite que isso já aconteça no ensino médio, preparando o futuro condutor para chegar à autoescola mais seguro, o que reflete em menos acidentes.
O que traz a proposta da resolução 265 para as escolas?
Ela diz quais são as competências que deverão ser trabalhadas nas disciplinas eletivas. Diz ainda que as aulas devem ser ministradas por um instrutor de trânsito e que a carga horária é de 90 horas. Normalmente elas acontecem no segundo semestre do 2º ano do ensino médio e se estendem até o primeiro semestre do 3º ano do ensino médio. Hoje temos seis escolas validadas pelo Detran-ES.
O interessante é que o que ele fizer no ensino médio pode valer como a parte teórica da autoescola. Então, quando chega na autoescola, faz a prova teórica e depois segue para as práticas. Isso tem impacto social e financeiro, porque barateia o processo da CNH e amplia o acesso. São aulas que envolvem outras disciplinas e promovem discussões que formam um condutor mais consciente.
Ou seja, não é só decorar regras de trânsito?
Exatamente. Não é só regra. Se fosse só decorar legislação, estava resolvido. Vai além: fala de cordialidade, gentileza, empatia, ética. Discutimos até questões culturais. É um debate sociológico que a escola permite e que não cabe na formação tradicional do CFC. Isso transforma o cidadão, porque vai além da regra.
A educação para o trânsito deve ser tema transversal. O que isso significa?
A educação para o trânsito já está prevista na Base Nacional Comum Curricular como tema transversal. Então, podemos trabalhar situações de trânsito em várias disciplinas. Vou dar um exemplo: em uma escola da rede municipal usamos um caso de engavetamento para discutir o método científico.
Levantamos hipóteses: foi excesso de velocidade? Falta de sinalização? Falta de atenção? A partir daí, trabalhamos conceitos de Física – distância, tempo de reação, frenagem, atrito, inércia. Também aplicamos Matemática e Ciências. Ou seja, é um tema que ajuda o professor a chegar ao conteúdo, em vez de ser apenas “mais uma tarefa”.
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