Ufes vai fazer mapa da saúde mental dos brasileiros
Estudo inédito tem o objetivo de compreender quais são as principais necessidades do tratamento a partir da realidade da população
Pela primeira vez, o Brasil terá um panorama nacional sobre a saúde mental da população.
A Pesquisa Nacional de Saúde Mental (PNSM-Brasil), coordenada pela professora Maria Carmen Viana, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), vai mapear a prevalência de transtornos mentais, os fatores que influenciam o adoecimento e os impactos desse cenário na sociedade.
De acordo com a coordenadora, o objetivo do estudo é compreender as principais necessidades do tratamento da saúde mental no País, a partir da realidade da população.
“Vamos buscar entender as demandas reais dos brasileiros, para que, com base nesses dados, seja possível construir políticas públicas mais eficazes para a saúde mental”, afirma.
Além do levantamento sobre transtornos mentais, a pesquisa vai reforçar a influência de fatores sociais no adoecimento psíquico e mapear o uso dos serviços de saúde mental e dos tratamentos disponíveis.
“Fatores como pobreza, violência e experiências traumáticas estão profundamente ligados ao adoecimento mental e serão investigados com cuidado pela pesquisa”, explica a professora.
A psiquiatra Letícia Mameri diz que a abordagem social é essencial para o tratamento psiquiátrico.
“A falta de perspectivas, insegurança financeira e exposição à violência aumentam o risco de ansiedade, depressão e suicídio”.
Ainda de acordo com a especialista, a pesquisa é relevante para o contexto brasileiro de saúde mental.
“O Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas e depressivas no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).”
Já o psiquiatra Valdir Campos reforça que pesquisas como essa ajudam a mostrar ao poder público exatamente onde atuar.
“Com a pesquisa será possível identificar possíveis falhas que estão levando ao aumento de quadros de transtornos mentais”.
Ao todo, cerca de 10 mil pessoas serão entrevistadas em áreas urbanas e rurais do País.
A pesquisa integra uma iniciativa da OMS e é financiada pelo Ministério da Saúde.
Depressão: pacientes de todas as idades buscam ajuda
A pesquisa nacional chega em um momento em que o País apresenta números crescentes de adoecimento mental e que pacientes de todas as idades buscam ajuda para vencer a depressão.
Um levantamento do sistema Vigitel, divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em parceria com o Ministério da Saúde, aponta que o número de adultos diagnosticados com depressão, por exemplo, aumentou de 11,3% em 2020 para 14,2% em 2023, considerando apenas beneficiários de planos de saúde.
Para a psiquiatra Letícia Mameri, os dados do Brasil são alarmantes. “Estima-se que mais de um quarto da população enfrente algum tipo de transtorno psiquiátrico. O País também apresenta taxas crescentes de suicídios, contrastando com a tendência mundial de queda”.
De acordo com o psiquiatra Valdir Campos, fatores do cotidiano dos brasileiros influenciam esse aumento.
“O Brasil é um país com altos índices de ansiedade e depressão. O aumento do estresse, a incerteza e as questões políticas e sociais contribuem para isso”.
Para Letícia, a saída para esse cenário é uma combinação entre ações individuais e coletivas.
“Podemos falar em hábitos saudáveis, como sono e atividades físicas, mas também em ações que reduzam o estigma sobre os transtornos e as desigualdades”.
Entenda
A pesquisa
A Pesquisa Nacional de Saúde Mental (PNSM-Brasil) vai mapear o adoecimento mental dos brasileiros.
O estudo será coordenado pela professora Maria Carmen Viana, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e financiado pelo Ministério da Saúde.
A equipe terá pesquisadores da Ufes e de outras instituições. Além disso, a empresa Ipsos/Ipec foi contratada para realizar as entrevistas com os participantes.
O estudo integra o consórcio internacional World Mental Health Surveys, da Organização Mundial da Saúde (OMS), com universidades como Harvard e Michigan.
Objetivo
Identificar quantas pessoas têm transtornos mentais no país, quais fatores influenciam o adoecimento, como a população utiliza os serviços de saúde mental e quais são os impactos disso na vida das pessoas e na sociedade.
Metodologia
Serão entrevistadas cerca de 10 mil pessoas, com idades entre 18 anos ou mais, em 16.667 domicílios, em áreas urbanas e rurais, seguindo critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Será analisada a prevalência de transtornos mentais ao longo da vida e nos últimos 12 meses e 30 dias, gravidade dos quadros, idade de início, comorbidades, fatores sociais, uso de serviços de saúde e abandono de tratamento.
Resultados esperados
Consolidar a pesquisa como um instrumento permanente de vigilância em saúde mental no Brasil.
O estudo visa identificar os principais problemas para direcionar os recursos públicos para prevenção e tratamento da saúde mental no Brasil.
Prazo
O relatório final deve ser divulgado até o fim de 2026.
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