Número de bebês cai após pandemia da covid-19
De acordo com estudo, houve uma redução de 9% no número de nascimentos nas regiões urbanas
Um estudo conduzido por pesquisadores da PSZerado, empresa especializada na formação de jovens médicos, revelou que o Estado registrou uma queda nas taxas de natalidade após a pandemia de covid-19.
Segundo a análise, no período pós-pandêmico houve uma redução de 9% no número de nascimentos nas regiões urbanas. Os municípios com maior diminuição foram Vila Velha, Cariacica, Vitória, Serra, Cachoeiro de Itapemirim, Viana e Colatina.
Esse fenômeno de redução da natalidade após a pandemia é conhecido como “baby bust” e tem sido identificado em diversas partes do mundo.
Segundo o doutor em Oceanografia Ambiental Gustavo Martins Rocha, o objetivo do estudo foi verificar se esse padrão também se repetia no contexto capixaba.
“A gente aproveitou uma série de dados disponíveis para fazer uma pesquisa que ainda não tinha sido realizada no Estado”.
O estudo utilizou dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINAC) do Ministério da Saúde e avaliou mês a mês os 78 municípios capixabas entre 2017 e 2023.
Gustavo conta que a equipe observou uma diferença regional. Utilizando a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que separa os municípios entre rurais e urbanos, os pesquisadores identificaram que a queda, no Estado, ocorreu apenas nos municípios urbanos.
Com o apoio dos dados do Google Mobility Reports, o grupo constatou que, nas áreas urbanas, houve maior permanência das pessoas dentro de casa durante a pandemia em vez de nos locais de trabalho, comportamento diferente do observado nas regiões rurais.
“Nos municípios urbanos, por serem mais densamente povoados, as pessoas viveram um isolamento social mais intenso. Isso contribuiu para que a percepção de risco em relação à pandemia fosse maior, o que pode ter gerado essa queda mais acentuada”, explica o pesquisador.
Em relação aos motivos, Gustavo destaca que o estudo fez inferências com base em outros artigos. O fator mais forte identificado foi a insegurança econômica, que afetou o planejamento familiar.
“Países que tinham uma política de securidade social tiveram uma queda menor. Então a gente acredita que a incerteza econômica da pandemia foi um fator importante para a redução de nascimentos no Estado”, conclui.
O estudo foi publicado na revista bimestral Brazilian Journal of Health Review e contou com nove pesquisadores de diversas partes do País.
Você sabia?
“Baby bust” é um termo que se refere a um período de queda acentuada da taxa de natalidade e tem sido usado para descrever esse fenômeno pós-pandemia. O termo se opõe ao “baby boom”, que diz respeito a um aumento significativo dos nascimentos em determinado período.
Os números
39.712 nascimentos pré-pandemia
36.165 nascimentos pós-pandemia
9% foi a queda de nascimentos no Estado em regiões urbanas após a pandemia
Saiba mais
O estudo
A pesquisa ganhou o título de: O baby bust capixaba: a pandemia de covid-19 e a queda de natalidade nos municípios urbanos do Estado do Espírito Santo.
O estudo buscou identificar se o chamado “baby bust”, que se refere à diminuição do número de nascimentos após a pandemia de covid-19, se aplicava também no contexto capixaba.
Os pesquisadores analisaram os dados que estão disponíveis no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINAC) do Ministério da Saúde, que reúne o registro de todos os nascidos vivos entre os anos de 2017 e 2023.
Resultados
O estudo identificou que houve uma redução de 9% na taxa de natalidade nos municípios urbanos do Estado.
Municípios urbanos
Período pré-pandemia: média de 39.712 nascimentos por ano.
Período pós-pandemia: média de 36.165 nascimentos por ano.
Municípios rurais
Período pré-pandemia: média de 9.366 nascimentos por ano.
Período pós-pandemia: média de 9.449 nascimentos por ano.
Possíveis motivos
Com base em outros artigos, o estudo fez algumas inferências.
Insegurança econômica
Como países que apresentaram uma política de segurança social não tiveram uma redução drástica na taxa de natalidade, os pesquisadores concluíram que a insegurança econômica causada pela pandemia foi a principal causa da redução dos nascimentos nesse período.
Essa realidade afetou o planejamento familiar, com casais optando por não terem filhos.
Risco de saúde
O estudo aponta que em abril de 2020 o Ministério da Saúde atualizou o Protocolo de Manejo Clínico da Covid-19.
Com a mudança, gestantes e mulheres que passaram pelo parto ou por aborto foram incluídas como grupo de risco.
Essa alteração pode ter influenciado na decisão de não ter filhos.
Outros dados
No Brasil
O IBGE divulgou que, em 2023, o Brasil registrou o menor número de nascimentos em 50 anos.
Foram 2,52 milhões de nascidos, com uma queda de 0,7% em relação a 2022.
Além disso, o número foi 12% menor que a média de nascimentos nos cinco anos anteriores à pandemia de Covid-19.
No Estado
O IBGE tinha feito uma estimativa de 57.810 nascimentos no Estado em 2020.
No entanto, foram 54.171 nascimentos registrados, de acordo com os dados da Transparência do Registro Civil.
No ano de 2024, o Estado registrou o menor número de nascimentos nos últimos 10 anos, de acordo com o Sindicato dos Notários e Registradores do Estado do Espírito Santo (Sinoreg-ES).
A pesquisa também aponta que, no ano passado foram registrados 50.882 nascimentos, enquanto que em 2018 nasciam no Estado 58.316 bebês. Ou seja, 8 mil registros a mais.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pesquisa AT e especialista entrevistado.
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