Novo colírio oferece 10 horas de alívio para 'vista cansada' sem óculos
Colírio passou por testes clínicos com 466 participantes durante 42 dias e teve resultados satisfatórios
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Um novo colírio aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência que regulamenta alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, promete ser uma alternativa aos óculos para a "vista cansada". Segundo a publicação do órgão, o colírio pode ter efeito com duração de até dez horas.
O princípio ativo do medicamento, batizado de Vizz, é a aceclidina. Ele é usado para presbiopia, a perda de visão de perto associada ao envelhecimento ocular, popularmente conhecida como "vista cansada". A condição surge a partir dos 40 anos e acontece quando o cristalino endurece, perde a elasticidade e deixa de alternar a amplitude e a curvatura para enxergarmos em várias distâncias. O cristalino fica menos capaz de focar a luz proveniente de objetos próximos na retina, resultando em perda de visão de perto e embaçamento. Usar celular, computador ou ler passam a ser tarefas difíceis sem o auxílio de óculos ou lentes de contato.
A aceclidina é análoga ao ativo pilocarpina, e ambos funcionam como um "efeito pinhole", ou seja, contraindo a pupila para aumentar a profundidade de foco. A pilocarpina é um fármaco conhecido há mais de um século, afirma Leoncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier. Ela já é comercializada na Europa para glaucoma, com nome comercial de Vuity, que também ajuda na presbiopia, mas sua duração é menor que a do Vizz –até seis horas.
Testes clínicos e resultados
O colírio passou por testes clínicos com 466 participantes durante 42 dias. Aqueles que receberam o colírio tiveram melhora na visão depois de 30 minutos, com efeito que durou até dez horas. Outro teste com 217 pessoas durante seis meses não mostrou efeitos adversos graves, confirmando a segurança a longo prazo.
Segundo Queiroz Neto, os estudos têm boa validade interna, mas são limitados diante da enorme prevalência da presbiopia no mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 1,8 bilhão de pessoas apresentem presbiopia atualmente, sendo uma das principais causas de incapacidade visual não corrigida no mundo, especialmente em países em desenvolvimento. "Os testes representam um marco científico, pois resultaram em aprovação regulatória, mas não oferecem ainda uma resposta definitiva ao problema global da presbiopia", diz o oftalmologista.
Para ele, é preciso cautela e mais estudos. O médico lista alguns fatores que ainda precisam ser investigados, como diversidade étnica, diferentes faixas etárias, comorbidades oftalmológicas (como glaucoma) e perfis ambientais, como exposição solar e uso de dispositivos digitais.
Efeitos colaterais e limitações
A bula do Vizz adverte sobre alguns efeitos colaterais. Entre eles, visão turva, risco de rupturas e descolamentos de retina e irite. Os efeitos colaterais comuns relatados também incluíram irritação no local de instilação, visão escurecida e dor de cabeça. Além disso, o oftalmologista ressalta outros efeitos causados pela pilocarpina, que incluem olho vermelho, visão borrada, perda de contraste e dificuldade para dirigir, especialmente à noite.
O especialista afirma que esses colírios apresentam riscos, especialmente para pessoas míopes, como o descolamento de retina.
Esses colírios podem camuflar a necessidade de óculos em casos leves de presbiopia, mas não substituem a correção óptica em graus mais altos. "Os efeitos colaterais e a tolerabilidade limitam seu uso", diz Queiroz Neto. O médico não acredita que esses colírios sejam uma solução definitiva para o problema.
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