Nova vacina contra Alzheimer pode ser testada no Brasil
País está entre os cotados para testes em razão do alto número de vítimas. Imunizante visa a retardar progressão da doença
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Um anúncio recente trouxe esperança para pacientes e especialistas no combate ao Alzheimer: uma imunoterapia desenvolvida para retardar a progressão da doença.
As notícias são ainda mais otimistas. Em testes clínicos no mundo, o Brasil é um dos países considerados para participar dos ensaios da nova vacina, segundo disse Andrea Pfeifer, cofundadora e presidente da AC Immune, responsável pelo imunizante, à Folha de S.Paulo.
Na prática, o produto tem efeito parecido ao de um imunizante ao estimular as células do sistema imune para retardar o declínio cognitivo causado pelo Alzheimer.
O Brasil é cotado para a terceira fase do ensaio clínico com o ACI-24.060. “É a fase em que a pesquisa se torna, definitivamente, um ensaio clínico global e deve acontecer em 2026, ou até mesmo antes disso, dependendo dos resultados deste ano. Por ser um ensaio mundial, serão centenas de países. Tenho certeza de que o Brasil será considerado”, declarou.
Ela descreveu a vacina como uma injeção intramuscular de pequeno volume. Além disso, frisou, é econômica e fácil de administrar, sem efeitos colaterais significativos relatados até o momento.
“A maior diferença é a segurança. Não observamos em nenhum dos ensaios clínicos qualquer inflamação, edema ou hemorragia.”
O Brasil tem uma população com muitas pessoas afetadas pela doença, o que representa uma necessidade médica significativa.
Ela ressaltou que o País conta com centros renomados em pesquisas clínicas, o que beneficiaria a conclusão dos testes.
Nos resultados iniciais, a vacina produziu anticorpos contra a proteína beta-amiloide, que se acumula no cérebro dos pacientes com esse transtorno neurológico degenerativo e é uma das principais responsáveis pelo avanço da doença.
“Se conseguirmos interromper ou tratar essa proteína, que representa o estágio inicial do Alzheimer, conseguiremos interromper muitos outros efeitos que agravam a doença”, afirma Pfeifer.
A previsão é que os resultados dos primeiros seis meses de testes sejam publicados em agosto, mas os resultados mais significativos devem surgir após um ano de acompanhamento.
“Acreditamos que os dados do fim deste ano até início do ano que vem serão cruciais para avaliar o impacto da vacina, já que é necessário um tempo para que a resposta de anticorpos se desenvolva completamente. Se as coisas correrem bem, poderemos acelerar o ensaio clínico”, explica.
Doença atinge 20 mil no Estado e quase 1 milhão no País
Estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a Alzheimer, segundo informações da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
No País, as estatísticas apontam para quase 1 milhão (996.454), a maior parte deles ainda sem diagnóstico, sendo cerca de 20 mil no Estado.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece contra a doença dois tipos de medicamentos: os anticolinesterásicos (donepezil, galantamina e rivastigmina) e a memantina, voltados apenas para redução dos sintomas.
No entanto, as drogas não evoluem há três décadas. A FDA (agência regulamentadora norte-americana) aprovou dois medicamentos que atacam as placas de beta-amiloide acumuladas no cérebro, retardando a progressão da doença.
Um terceiro, o donanemabe, foi aprovado na última terça-feira.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que não recebeu o pedido de aprovação do lecanemabe. Para os demais medicamentos, o órgão não respondeu sobre pedidos em andamento.
“Como a Anvisa não aprovou nenhum desses medicamentos, fazemos a importação, com um custo de R$ 300 mil por ano. Eles estão em estágios iniciais, mas já apresentam resultados promissores”, afirmou o neurologista Rodrigo Schultz, presidente da Abraz, entre 2017 e abril deste ano, à Folha S.Paulo.
Schultz tem experiência com pessoas com Alzheimer em uso dessas drogas, que são devidamente protocoladas. Ele observou que a evolução não teve intercorrências.
“O que notei nos pacientes foi que permaneceram estáveis ou evoluíram muito pouco. Eles também não apresentaram os efeitos colaterais temidos. Não é a resposta que gostaríamos, mas é muito satisfatória.”
Futuramente, os pesquisadores da AC Immune pretendem incluir o uso de biomarcadores – sinalizadores que indicam predisposição à doença – para identificar e prevenir o Alzheimer em indivíduos de alto risco antes mesmo que os sintomas se desenvolvam.
O que dizem os médicos
Avanço para ciência
“É um grande avanço para a ciência. A aprovação dessa vacina para uso da população vai validar os atuais exames de sangue para diagnóstico de Alzheimer.
Além disso, estão em andamento alguns medicamentos promissores. Os que já foram lançados ainda apresentam efeitos colaterais graves, mas a expectativa é que em algum momento seja encontrado um fármaco mais seguro.”
- Soo Yang Lee, neurologista
Nova abordagem
“A notícia sobre a possível participação do Brasil nos testes da nova vacina contra o Alzheimer representa uma enorme esperança aos familiares e pacientes com diagnóstico de Alzheimer e um grande avanço no combate a essa doença tão prevalente na população brasileira.
A possibilidade de uma nova abordagem terapêutica que possa intervir nos estágios iniciais da doença é um marco importante, pois os tratamentos disponíveis hoje se limitam a aliviar sintomas sem modificar a progressão da doença.”
- Mariana Grenfell, neurologista
Vacina promissora
“A vacina, que ainda está em fase experimental, é promissora. Ela induz o corpo a produzir anticorpos que neutralizam a proteína beta-amiloide, que está diretamente envolvida na doença.
Esses anticorpos ajudam a eliminar a proteína, prevenindo o acúmulo de placas que degradam as células nervosas, prolongando a saúde dos neurônios e melhorando a vida de pacientes.”
- Daniel Escobar, mestre em Neurologia
Nova opção
“A doença de Alzheimer é extremamente debilitante para o paciente, para a família, para a sociedade. A população e a sociedade médica de uma forma em geral clamam por uma nova opção de tratamento para essa doença. No momento, a medicina ainda tem muito pouco para oferecer.
Acredito que o Brasil deve fazer parte desse estudo. Obviamente, há todo um rigor metodológico e científico que deve ser respeitado, como é feito em outros países.”
- Walter Fagundes, PhD em Neurocirurgia e professor da Ufes
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