Médicos explicam riscos de técnica que matou influencer
Especialistas alertam que injetar PMMA nos glúteos pode provocar embolia, infecção e migração da substância
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Dia 23 de junho, um domingo, a influencer Aline Maria Ferreira, de 33 anos, realizou um procedimento estético para aumentar os glúteos com a aplicação de polimetilmetacrilato (PMMA) em uma clínica de Goiânia (GO). Nove dias depois, na última terça-feira, ela morreu em um hospital particular de Brasília.
A dona da clínica, Grazielly Barbosa, que foi presa, se apresentava como biomédica. Porém, segundo a polícia, ela nunca cursou Biomedicina e não apresentou nenhum diploma de curso superior. Ela informou que fez cursos livres na área da estética e cursou três semestres de Medicina no Paraguai.
A pedido de A Tribuna, médicos no Estado explicaram os riscos do procedimento estético que matou a influencer.
O cirurgião plástico Ariosto Santos lembra que o PMMA não é liberado para procedimentos estéticos, tendo apenas indicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para corrigir pequenas deformidades do corpo em decorrência de lipodistrofia em pacientes portadores de HIV ou de poliomielite.
“Esse produto não é recomendado e jamais deve ser utilizado para preencher os glúteos. Para aumentar o bumbum, é necessário uma quantidade muito grande do produto e isso gera problemas graves posteriormente”, alertou.
Sobre o caso de Aline, a cirurgiã plástica Patricia Lyra Frasson explica que, com base no que já foi noticiário, acredita que houve uma contaminação durante a aplicação do produto.
“Não sei como a clínica era, mas tudo leva a crer que não seguia as normativas que são preconizadas. Então, a paciente acabou evoluindo para sepse (infecção) generalizada. Isso pode ter sido causado por uma antissepsia (limpeza da pele) inadequada, pode ser a contaminação da agulha ou do produto”.
Paralelo a isso, ela explica que há outros fatores que podem provocar danos estéticos e até levar a morte, como embolia pulmonar, se o produto injetado cair na corrente sanguínea, além de reações alérgicas e necrose tecidual.
Quem também alerta para os riscos do procedimento é o cirurgião plástico Humberto Pinto. “Fazer aumento de glúteo, aumento de peitoral ou preenchimento de face com PMMA é uma bomba-relógio. É colocar e esperar o dia que vai dar problema”.
Paciente deve pesquisar sobre médico antes de procedimento
Em busca de realizar sonhos, uma palavra é fundamental para se obter bons resultados nos procedimentos estéticos: segurança. O alerta é do cirurgião plástico Ariosto Santos. Primeiramente, ele orienta que os pacientes façam uma averiguação antes de realizar qualquer procedimento estético.
No site do Conselho Regional de Medicina é possível verificar se o profissional é médico e se tem registro de qualificação. Basta acessar o endereço www.crmes.org.br, clicar no link servicos, na sequência cidadãos e, por fim, buscar médico.
Outra dica é não deixar se seduzir por propostas milagrosas e com preços muito baixos. Para quem deseja aumentar ou remodelar o bumbum, o enxerto de gordura no glúteo é uma opção.
Isso é possível por meio da injeção de gordura do paciente, coletada em uma lipoaspiração. Ele também cita prótese de glúteo e preenchimento com ácido hialurônico em pequenas quantidades.
Ariosto diz que riscos existem, mas quando o paciente está nas mãos de profissionais habilitados e ambientes adequados, as chances de complicações são menores.
Tire suas dúvidas
1- O que é o procedimento?
O polimetilmetacrilato, ou PMMA, é um componente plástico com diversas utilizações na área da saúde e em outros setores produtivos, como explica a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ou seja, o PMMA é um polímero que pode ser utilizado como matéria-prima de diversos tipos de produtos para saúde, entre eles: preenchedores de tecido mole, lentes intraoculares, dentes artificiais e cimentos ósseos.
Ainda segundo a Anvisa, o PMMA possui utilização nos casos de bioplastia com finalidade estética e reparadora. Neste caso, o polimetilmetacrilato é utilizado em procedimentos estéticos, como por exemplo restaurar o volume perdido de tecidos ou em procedimentos reparadores, como nos casos de ocorrência de lipodistrofia (alteração na distribuição da gordura corporal).
Para fabricação, comercialização e uso, estes produtos devem estar registrados na Anvisa.
A sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica ressalta que a aplicação de PMMA é um procedimento minimamente invasivo, não sendo uma cirurgia. “Usa-se agulha ou cânula para aplicação do produto”, esclareceu Irene Daher, cirurgiã plástica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
2- O procedimento é liberado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica?
O PMMA, como informa a cirurgiã plástica Irene Daher, é liberado para tratamento de lipoatrofia por HIV.
De acordo com a Anvisa, o PMMA pode ser usado em procedimentos estéticos para corrigir rugas e restaurar pequenos volumes perdidos de tecidos com o envelhecimento.
Esta substância permite uma correção da região da pele afetada de forma permanente, pois não é reabsorvida pelo organismo.
3- Quais são os riscos da cirurgia estética (PMMA) que matou influencer?
Embora as injeções de PMMA possam oferecer resultados duradouros em tratamentos estéticos, existem várias considerações negativas e riscos associados ao seu uso, como alertou Irene Daher.
“A aplicação de qualquer produto nos glúteos, inclusive gordura, tem riscos principalmente se for introduzida abaixo da musculatura, podendo causar embolia e morte”.
O PMMA injetado nos glúteos é um produto absorvível, pode causar granulomas, infecção e migração.
4- O que aconteceu com a influencer Aline Maria Ferreira?
Ela passou pelo procedimento em uma clínica de estética em Goiânia. Parentes disseram que ela retornou para Brasília e, dias depois, começou a se sentir mal, com febre e dor de barriga. Quatro dias após a intervenção estética, ela desmaiou.
Ela foi levada ao Hospital Regional da Asa Norte e, em 28 de junho, sofreu uma parada cardíaca. Os familiares decidiram pela sua transferência para um hospital particular, mas no dia 30, teve outra parada cardíaca. Na terça-feira, não resistiu. A causa da morte foi infecção generalizada.
Fonte: Médicos e pesquisa A Tribuna.
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