Nova esperança para quem sofre de déficit de atenção
Cientistas descobriram que a estimulação cerebral com uma espécie de corrente elétrica pode melhorar sintomas do transtorno
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Pesquisadores ao redor do mundo estão explorando um novo tratamento que, segundo eles afirmam, pode ser a esperança para quem sofre com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Para tratar desatenção, inquietude e impulsividade, sintomas comuns no transtorno, pesquisadores da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, descobriram que a estimulação cerebral combinada com o treinamento cognitivo pode melhorar esses sintomas.
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O ensaio clínico foi feito com 23 crianças, de 6 a 12 anos, que não estavam medicadas. Ele foi publicado na revista Translational Psychiatry. As crianças passaram por uma estimulação cerebral não invasiva com uma leve corrente elétrica passando por dois eletrodos. Já o tratamento cognitivo incluiu resolução de problemas e compreensão de leitura.
Após duas semanas, 55% das crianças apresentaram melhorias clínicas significativas em seus sintomas, conforme seus pais relataram, em comparação com 17% das crianças que receberam estimulação cerebral com placebo.
Três semanas após o teste, as melhorias foram mantidas, com 64% relatando efeitos positivos do tratamento em comparação com 33% no grupo que receberam o placebo.
No Estado, cerca de 300 mil pessoas têm o transtorno, segundo estimativa da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), que considera que 8% da população têm TDAH.
A neuropediatra Larissa Henriques Freire Krohling destaca que as intervenções neurofisiológicas da pesquisa têm sido estudadas para minimizar os efeitos das disfunções clínicas, neuropsicológicas, cognitivas, comportamentais e emocionais.
A médica explica ainda que a estimulação cerebral funcionaria auxiliando a modulação dos sinais do TDAH no córtex pré-frontal dorsolateral do cérebro. “Essa técnica fornece uma corrente elétrica constante sobre o couro cabeludo para modular a estabilidade cortical”.
O neuropediatra Raphael Rangel, da Rede Meridional, ressalta que a estimulação transcraniana, apesar de deter evidências científicas limitadas em estudos clínicos, não deve ser descartada, apesar de não ser coberta pelos planos de saúde e pelo SUS.
“A decisão de incorporar tal abordagem deve ser pautada no discernimento informado da família, que assume um papel crucial nesse processo”.
Médicos explicam diagnóstico
“Como saber se tenho o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)?”. Talvez essa pergunta já passou pela sua cabeça. Como fazer o diagnóstico? Existe algum exame que detecta o transtorno?
O neuropediatra Raphael Rangel explica que o diagnóstico desse transtorno acontece primordialmente em avaliações clínicas minuciosas, eliminando a necessidade de exames adicionais.
“Embora as ferramentas diagnósticas evoluam, a expertise clínica permanece como o pilar fundamental na identificação e compreensão do TDAH”.
De acordo com a neuropediatra Larissa Henriques Freire Krohling os sintomas do transtorno, como desatenção, inquietude e impulsividade, devem estar presentes em mais de um local de convivência da criança, por exemplo, como em casa e na escola.
“Os sintomas devem persistir pelo menos seis meses, a criança deve apresentar os sintomas antes de completar os 12 anos e eles têm de impactar negativamente as funções acadêmicas, sociais ou ocupacionais. Além disso, os pais vão perceber que a criança estará destoando de outras, sendo importante também excluir outros transtornos”.
A médica explica que o TDAH é um transtorno neurobiológico de causa genética, que aparece na infância e pode acompanhar a pessoa na fase adulta.
"O TDAH emerge como um complexo transtorno neurobiológico, manifestando-se na infância e muitas vezes persistindo ao longo da vida” (Raphael Rangel, neuropediatra)
SAIBA MAIS
Transtorno foi descoberto em 1902
Pesquisa
Um experimento conduzido por pesquisadores da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, descobriu que a estimulação cerebral combinada com o treinamento cognitivo pode melhorar os sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
No novo estudo, os pesquisadores avaliaram o uso de estimulação cerebral não invasiva, que envolve uma leve corrente elétrica no paciente por meio de dois eletrodos anexados na cabeça da pessoa.
Avaliados
No trabalho, foram recrutadas 23 crianças com idades entre 6 e 12 anos que tinham o diagnóstico, mas não faziam uso de medicamentos.
Resultados
Depois de duas semanas, os cientistas observaram que 55% das crianças do primeiro grupo tiveram uma melhora significativa do quadro clínico, segundo relatado por seus pais. Esse percentual foi de apenas 17% no grupo placebo.
Na semana seguinte, mesmo com o tratamento interrompido, 64% dos que receberam a estimulação relataram melhorias, e 33% dos que fizeram parte do grupo placebo.
Os pesquisadores observaram ainda mudanças nos padrões de atividade elétrica do cérebro de pacientes submetidos ao novo tratamento, mesmo na terceira semana.
TDAH
Data
A primeira descrição oficial do TDAH data de 1902, quando um pediatra inglês, George Still, apresentou casos clínicos de crianças com hiperatividade e outras alterações de comportamento, que na sua opinião não podiam ser explicadas por falhas educacionais ou ambientais, mas que deveriam ser provocadas por algum transtorno cerebral na época desconhecido.
O que é
O TDAH é um transtorno neurobiológico com grande participação genética (isto é, existem chances maiores dele ser herdado) que tem início na infância e que pode persistir na vida adulta, comprometendo o funcionamento da pessoa em vários setores de sua vida, e se caracteriza por três grupos de alterações: hiperatividade, impulsividade e desatenção.
Vida social
A vida social dessas crianças e adolescentes pode ser prejudicada porque eles são mais rejeitados pelos colegas por conta de suas características (os sintomas do transtorno). Quando medicados e acompanhados por profissionais, não há problema algum, já que a criança fica com comportamento igual ao das outras da mesma idade.
Tratamento
No tratamento, o neuropediatra Raphael Rangel afirma que os remédios psicoestimulantes se apresentam como terapia de primeira escolha. Mas também deve haver intervenções psicoterapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, bem como estratégias de rotina de sono, gestão do tempo de estudo e regulação do uso de dispositivos eletrônicos, além da participação da família.
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