Mudança em mamografia nos EUA altera regras no Brasil?
Mulheres entre 40 e 50 anos representam 25% dos casos de câncer de mama
Escute essa reportagem
Principal forma de rastreio de casos de câncer de mama, a mamografia ainda é cercada de divergências quanto ao momento de iniciar o exame como rotina.
Especialistas da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos publicaram um entendimento recentemente, defendendo que mulheres devem começar a fazer mamografia após os 40 anos, e não mais depois dos 50.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer, ligado ao Ministério da Saúde, orienta que os exames devem ser feitos a cada dois anos, em mulheres a partir dos 50 anos. Mas afinal, o novo entendimento americano muda algo no Brasil?
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Espírito Santo, Luiz Alberto Sobral, explicou que a polêmica se arrasta há alguns anos, e o entendimento americano não muda nada no Brasil de imediato. No entanto, acredita que possa reacender o debate.
“A Sociedade Brasileira de Mastologia já entende que a mamografia deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos. Na rede privada e nos planos de saúde, os médicos já têm adotado essa prática”.
Ele frisou, no entanto, que 70% dos pacientes ainda são atendidos pelo SUS, não tendo acesso aos exames nessa faixa etária. “É preciso lembrar que um câncer diagnosticado com 1 cm tem um percentual de cura de 95%. Acima de 3 cm, esse percentual cai drasticamente”.
A oncologista do São Bernardo Apart Hospital, Carolina Naumann Chaves Siqueira, salientou que, apesar das recomendações americanas serem feitas para a população de lá, elas acabam interferindo em discussões a respeito de diretrizes de outras sociedades ao redor do mundo.
“O que observamos na prática clínica é que temos cada vez mais mulheres com o diagnóstico de câncer de mama com idades mais jovens”.
Ela lembrou que, apesar das recomendações de entidades e órgãos, quem define a idade certa para começar é o médico. “Ele é quem conhece a paciente, sua história familiar e saberá indicar o momento de iniciar o rastreio”.
A mastologista e imaginologista mamária da Rede Meridional Karolline Coutinho Abreu também pontuou que profissionais da rede particular e suplementar têm seguido a recomendação de sociedades médicas, que preveem o rastreio a partir dos 40 anos.
Leia mais
Obesidade reduz tempo de proteção da vacina contra covid-19, diz estudo
Células do câncer de pâncreas mudam de "dieta" para sobreviver e se multiplicar
Mulheres entre 40 e 50 anos representam 25% dos casos
Em meio a divergências de entendimentos, médicos defendem que a realização de mamografias de rotina mais cedo permite um diagnóstico ainda mais precoce de casos.
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Espírito Santo, Luiz Alberto Sobral, afirmou que dados apontam que 25% das mulheres com câncer de mama no Brasil desenvolvem a doença entre 40 e 50 anos.
“Isso significa que tenho uma em cada quatro mulheres suscetível, sem fazer o exame. O conceito do Inca (Instituto Nacional do Câncer) se baseia em estudos que apontam maior benefício do rastreio após os 50 anos. No entanto, não podemos abandonar esses 25% de mulheres que desenvolvem a doença nessa idade”.
A mastologista e imaginologista mamária da Rede Meridional Karolline Coutinho Abreu enfatizou que um dos grandes problemas do Brasil hoje é que não se consegue rastrear ainda nem 24% da população-alvo atual.
“Temos equipamentos suficientes para a população, mas há uma má distribuição. Precisamos ampliar o acesso aos exames, com laudos bem feitos e com profissionais atualizados”.
Investigação
Ela lembrou ainda que, apesar da discussão a respeito do momento certo de iniciar esse rastreio, a investigação deve ser imediata no caso de pacientes com sinais clínicos suspeitos.
“Entre os sinais, estão nódulos palpáveis, inversão de mamilo, edema ou retração de pele e linfonodos palpares nas axilas. Isso deve ser imediato, independente da faixa etária”.
Segundo dados no Inca, o câncer de mama é o segundo de maior incidência entre as mulheres, atrás apenas do câncer de pele. Em 2023, a estimativa aponta que 900 novos casos da doença devem ser diagnosticados no Espírito Santo.
Entenda
Indicações para a mamografia no Brasil
O Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão auxiliar do Ministério da Saúde, recomenda a realização da mamografia a partir dos 50 anos, a cada dois anos.
A recomendação é diferente, no entanto, do entendimento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
As entidades médicas recomendam a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade.
Entendimento Americano
Uma nova orientação foi anunciada recentemente pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, composta por especialistas voluntários em cuidados primários e prevenção.
A orientação atual é a realização da mamografia a cada dois anos para mulheres a partir dos 40 anos.
O que muda no País?
O entendimento da entidade americana não muda diretrizes no Brasil. Pode, no entanto, reacender debates sobre possíveis mudanças na diretriz.
Na prática, na rede particular e pelos planos de saúde, médicos já têm indicado a mamografia a partir dos 40 anos, já que entidades médicas têm pareceres nesse sentido.
Já pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a mamografia ainda é indicada a partir dos 50 anos.
Risco
Apesar das diretrizes para pacientes em geral, a indicação é diferente, tanto no SUS quanto na rede particular, em casos de pacientes com risco alto, por exemplo, com histórico de câncer na família. Nesses casos, o rastreio se inicia antes, conforme avaliação médica.
O que diz o Inca
O Instituto esclareceu que o critério para atualização do rastreamento da doença no Brasil é criado a partir de publicações de novos estudos com evidências conclusivas a respeito do tema, “que não é o que está ocorrendo no momento”.
Fonte: Especialistas e Inca.
Comentários